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Assentados denunciam Suzano por pulverização de agrotóxicos

Moradores registraram aviões sobrevoando comunidade em Conceição da Barra

Reprodução

Moradores do Assentamento Valdício Barbosa, em Conceição da Barra, no norte do Estado, denunciam que aviões da Suzano Papel e Celulose (ex-Aracruz Celulose e ex-Fibria) têm sobrevoado a comunidade para pulverização de agrotóxicos, afetando plantações, escolas e a saúde dos moradores.

O assentado Valmir Paim, que vive no local há 30 anos, relata que a situação se intensificou na última semana, com sobrevoos até sábado (18), deixando a comunidade em alerta. “Não temos a quem recorrer. Há anos o Ministério Público sabe dessa situação e não adota nenhuma medida para proteger naaossa comunidade. A Suzano é muito poderosa, faz tudo pelo lucro e causa sofrimentos para as comunidades do entorno”, disse.

Vídeos mostram a aeronave sobrevoando áreas próximas às plantações e à escola do assentamento, localizado próximo às fazendas São Joaquim da Água Preta e Dourada Una, pertecentes à multinacional. Valmir afirma que as gravações são uma forma de documentar o que a comunidade enfrenta diariamente.

Segundo ele, os efeitos da pulverização atingem diretamente a produção de alimentos saudáveis do assentamento, rios e até a escola. “A área onde os aviões sobrevoaram tem rios, escola, nossas plantações. Mas quando sobrevoa com veneno, perdemos a plantação, os alimentos não crescem”, relatou.

Ele destacou que a comunidade, formada por famílias que vivem no local há décadas, tem histórico de respeito ao território da Suzano, mas sofre com perseguições e acusações injustas. “Já vimos outra comunidade, a Nova Canaã, ser expulsa do território pelas ações da Suzano, não existe mais a comunidade. Além dos impactos ambientais, tem os moradores que sofrem perseguições. Eu mesmo fui acusado de ter ateado fogo em uma moto com um antigo morador, que já estava morto naquela época, e tive que ir ao fórum para declarar que não era verdade. Eu não sei nem pilotar nenhum tipo de veículo automotor”, contou.

Ele aponta que os moradores temem pelos prejuízos diretos à saúde. Valmir relatou que seu filho precisou ser transferido de escola devido a sintomas associados à exposição aos agrotóxicos. “Ele sentia muita tontura, náusea e dor nos olhos. Associamos aos efeitos desses agrotóxicos. Além disso, muitos moradores da comunidade sofrem com câncer. Perdi minha esposa, que faleceu de câncer, e não temos para quem mais denunciar essa agressão que continua acontecendo há tantos anos”, lamentou.

O assentamento Valdício Barbosa abriga diversas famílias que dependem do cultivo de alimentos para subsistência e renda local. Para eles, os sobrevoos e a pulverização são uma ameaça não apenas à produção, mas à permanência das famílias no território. “Nós continuamos resistindo, queremos poder permanecer no nosso território e plantar os alimentos sem sermos contaminados”, afirmou Valmir.

A pulverização aérea desses venenos contamina o solo, a água e as comunidades vizinhas, atingindo também roças, hortas e até a produção de mel de pequenos agricultores. Em alguns municípios do norte e noroeste do Estado, a prática é proibida, devido aos impactos à saúde e ao meio ambiente.

Entre os produtos mais comuns estão o herbicida glifosato e o formicida sulfuramida — ambos proibidos em vários países e associados a câncer e outras doenças graves. Além disso, a Suzano é a única empresa na América Latina autorizada a cultivar dois tipos de eucalipto transgênico, mesmo diante dos graves riscos à saúde e ao meio ambiente associados a essa prática.

De acordo com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), 22 áreas em todo o país, que somam 11,8 mil hectares, estão em conflito entre a empresa e comunidades locais. Dessas, seis ficam no Espírito Santo, e as negociações estão paralisadas desde 2023, ano em que ocorreu a última ocupação de terra. O movimento denuncia a multinacional por crimes ambientais sistemáticos, envolvendo grilagem, contaminação de solos, rios e matas nativas, em decorrência da expansão de suas plantações.

A organização tem cobrado a agilidade do governo federal na desapropriação e no assentamento das famílias que vivem nas áreas apropriadas ilegalmente pela companhia e organização alertado que, enquanto a empresa amplia seu poder destrutivo, o povo brasileiro enfrenta aumento da insegurança alimentar.

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