Sábado, 04 Mai 2024

Aumento do recolhimento de embalagens de agrotóxicos indica maior uso do produto

Aumento do recolhimento de embalagens de agrotóxicos indica maior uso do produto

Em 2013, houve um aumento de 24% no recolhimento de toneladas de embalagens vazias de agrotóxicos no Espírito Santo feito pelo Sistema Campo Limpo. A estatística está acima do registrado em todo o país, que foi de 8%, e corresponde a 296 toneladas de embalagens vazias de agrotóxicos. Segundo o coordenador regional de Operações do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV), Jair Furlan, os resultados obtidos demonstram que o Sistema Campo Limpo vem acompanhando o crescimento e desenvolvimento do agronegócio na região.



De fato, o agronegócio segue expandindo o uso de venenos em suas lavouras, sobretudo no período após as fortes chuvas de 2013, como afirma a coordenação estadual do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), época que foi propícia para o crescimento de mato nas plantações, o que é combatido pelos latifundiários com o uso de agrotóxicos. O MPA afirma que segue aumentando a utilização desses químicos nas lavouras capixabas e a "comemoração" em razão do recolhimento cada vez maior de embalagens é um processo sem sentido, porque significa que o impacto do veneno é evitado com o recolhimento, mas o veneno que estava embalado foi despejado em algum lugar, contaminando o solo, a água, o ar e os alimentos que são consumidos pela população.



Desde 2008 o Brasil é campeão mundial no uso de agrotóxicos, embora não seja o maior produtor agrícola. Espírito Santo é o terceiro estado na aplicação de agroquímicos. Assim como ocorre no país, os movimentos do campo defendem a proibição da comercialização, uso e aplicação de agrotóxicos que já são proibidos fora do Brasil e a proibição da pulverização aérea em municípios do norte capixaba, onde já foram registrados graves casos de contaminação nos últimos anos.

 

O uso indiscriminado e sem cuidados de agrotóxicos pode provocar a intoxicação dos trabalhadores com diferentes graus de severidade e ainda levar à depressão e até ao suicídio. Também há registros de diminuição das defesas imunológicas, anemia, impotência sexual, cefaleia, insônia, alterações de pressão arterial, distimia (espécie de depressão crônica) e distúrbios de comportamento.



A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão responsável por liberar tais produtos no país, informa que o mercado brasileiro de agrotóxicos cresceu 190% nos últimos 10 anos, um ritmo muito mais acentuado do que o do mercado mundial, que foi de 93% no mesmo período. A safra 2010/2011 teve um consumo somado de herbicidas, inseticidas e fungicidas, entre outros, de 936 mil toneladas, que movimentou 8,5 bilhões de dólares no país. Não à toa, o Brasil responde por 20% do consumo mundial total desses venenos.



No Brasil, a soja concentra 40% do volume total de venenos agrícolas, em seguida aparece o milho (15%) e depois o algodão (10%). Entre os alimentos com taxas mais elevadas de veneno estão a cana de açúcar, o tomate, a uva, a alface e o pepino.

Segundo reportagem publicada no jornal O Globo dessa quinta-feira (30), somente 13 alimentos foram monitorados pela Anvisa em 2012 - segundo a agência, são os mais consumidos pela população. Ainda segundo a matéria, há registros nos ministérios da Saúde, da Agricultura e do Meio Ambiente de 434 ingredientes ativos e 2.400 formulações de agrotóxicos, que são permitidos. Dos 50 mais utilizados, 22 são proibidos pela União Europeia, sendo que nenhum registro de agrotóxico no país tem prazo de validade e só pode ser retirado ou alterado caso haja uma modificação no perfil de segurança do produto. O jornal também destaca que outro problema é o contrabando de produtos de origem chinesa, que entram no Brasil pelos vizinhos Paraguai e Uruguai.

 

Relatório do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para) da Anvisa apontou índices elevados de agrotóxicos em seis alimentos no Espírito Santo: pepino, alface, arroz, tomate, uva e abacaxi, referentes aos anos de 2011 e 2012. Ao todo, no Estado, a Anvisa analisou 67 amostras de alimentos em 2011, das quais 22 foram consideradas insatisfatórias. Em 2012, foram 77 amostras coletadas de alimentos – diversos e não necessariamente os mesmos do ano anterior –, dos quais 18 amostras foram consideradas insatisfatórias. No mesmo ano, todos os resultados insatisfatórios das amostras de alimentos como a cenoura e o arroz foram devido à presença de agrotóxicos não autorizados para estas culturas.

 

Em âmbito nacional, no mesmo relatório, foi registrado o uso de aldicarbe em uma amostra de arroz. O aldicarbe é o ingrediente ativo de maior toxicidade aguda dentre todos os agrotóxicos de uso agrícola e muito conhecido por ser usado como raticida ilegal, o popular “chumbinho”. Em amostras de uva, foram registrados os ingredientes ativos tebufempirade e azaconazol, que nunca foram registrados no país. Por isso, o seu uso sugeriu a ocorrência de contrabando. No ano de 2012, todos os resultados insatisfatórios das amostras de alimentos, caso da cenoura e do arroz, por exemplo, foram devido à presença de agrotóxicos não autorizados para estas culturas.

 

Segundo a Anvisa, atualmente 130 empresas atuam no setor de agrotóxicos e, destas, 96 estão instaladas no país. Mas só as dez maiores empresas do setor foram responsáveis por 75% das vendas de agrotóxicos na última safra.

Veja mais notícias sobre Meio Ambiente.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Sábado, 04 Mai 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/