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Comunidades da Serra realizam ‘ato em defesa das águas’

Ação neste sábado em Jacaraípe cobra medidas de recuperação e preservação

Secom/Serra

Movimentos em defesa da causa ambiental, em parceria com associações comunitárias e instituições, realizam neste sábado (29) um “ato em defesa das águas na Serra”. A mobilização começa às 9h na Praça Encontro das Águas, em Jacaraípe, com objetivo de cobrar ações contra a degradação dos rios, lagoas e praias do município, além de fortalecer a articulação entre moradores e órgãos públicos.

A expectativa é que o encontro resulte no encaminhamento de uma audiência pública para promover um debate técnico que envolva a comunidade, os órgãos ambientais, pesquisadores, gestores municipais e a concessionária responsável pelo saneamento no município, Ambiental Serra.

“Queremos sair do discurso e ir para a mudança real. E isso só acontece com todos os atores sentados à mesa, discutindo responsabilidades”, enfatiza um dos organizadores, Nilton Cardoso, do movimento Todos por Jacaraípe. Ele explica que o ato foi pensado como um espaço de sensibilização coletiva para enfrentar o avanço de empreendimentos e práticas que impactam os recursos hídricos da região. “Precisamos de comunidades mais sensíveis e mais críticas diante desse quadro de degradação das águas. Essa ação nasce justamente para provocar reflexão e reconstruir a ligação das pessoas com os corpos d’água”, destaca.

A mobilização ocorre em um momento de acúmulo de conflitos ambientais na Serra. Nos últimos meses, comunidades denunciaram aterro em área de alagado em Jacaraípe e conseguiram embargar a intervenção com blocos de concreto na Praia da Baleia, no mesmo balneário, após pressão popular. Em Manguinhos, moradores também se mobilizaram para pedir a criação de uma Unidade de Conservação (UC) que proteja a Lagoa de Maringá e os ecossistemas associados e impedir o desmatamento de uma área remanescente de Mata Atlântica, para dar lugar a um empreendimento imobiliário.

O avanço das obras de despoluição dos córregos Laripe e Irema, tema recorrente de denúncias e mobilizações, também compõe esse cenário de lutas, como destacou o presidente da Associação de Moradores do Balneário de Manguinhos (Amman), Guilherme Lira, lembrando que a mobilização comunitária foi fundamental para enfrentar esse problema histórico. A partir dessa conquista do movimento popular, as comunidade querem transformar o projeto em referência para todo o município.

Para Nilton Cardoso, essas vitórias parciais demonstram que “as comunidades estão elevando o nível de sensibilidade e senso crítico” e o ato deste fim de semana busca justamente fortalecer essa trajetória e ampliar a capacidade de pressão social. “Queremos fomentar isso, criar mais ferramentas para que as comunidades continuem colocando limites, cobrando transparência e defendendo seus territórios”, reforça.

O evento começa com um café da manhã coletivo, falas de apoiadores e, em seguida, interação entre visitantes e expositores, além da apresentação cultural da banda de Congo do bairro São Pedro, composta majoritariamente por mulheres. A comunidade, considerada a mais antiga de Jacaraípe, mantém uma relação histórica com o Rio Jacaraípe, que por décadas sustentou práticas culturais, pesca artesanal, produção de ceras e atividades de lazer. Durante o ato, moradores vão expor fotos antigas que mostram como era a convivência cotidiana com o rio antes da degradação.

A programação do encontro inclui tendas temáticas de institutos ambientais, coletivos e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Serra, convidada a participar. O Ministério Público Estadual (MPES) foi chamado para integrar o diálogo, assim como organizações que atuam na preservação das águas e na educação ambiental. A concessionária Ambiental Serra também terá um espaço para apresentar seu trabalho, e haverá uma exposição de animais marinhos encontrados no litoral local.

Nilton alerta que, sem mudanças, o destino dos corpos hídricos da Serra pode repetir o caso do Canal Bigossi, em Vila Velha, antigamente com águas limpas e que hoje é sinônimo de poluição extrema. “É uma imagem que envergonha o Estado. Ali se vê claramente o lançamento de esgoto. Se não tomarmos cuidado, nossos rios e lagoas vão virar aquilo”, enfatiza.

Ele acrescenta que o avanço da poluição impacta diretamente a pesca artesanal, o comércio, o turismo e a saúde pública. “A degradação da água aumenta vetores de doença, afeta a economia e prejudica toda forma de vida. Ninguém quer isso — nem surfistas, nem famílias, nem gestores”, completa.

O ato é um “chamado urgente” para a construção de políticas públicas efetivas, descreve o coordenador da atividade. “O cenário está piorando, e só com a união da comunidade, do município, do Estado, da União e dos institutos ambientais vamos conseguir reverter”, avalia.

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