Quinta, 02 Mai 2024

Documentário aponta alternativa a sistema que utiliza agrotóxicos

Documentário aponta alternativa a sistema que utiliza agrotóxicos
A oposição entre uma alimentação saudável promovida pela agricultura familiar e o modelo do agronegócio, que promove o uso de agrotóxicos e também é calcado na monocultura e na baixa empregabilidade, compõe o cenário da escolha a nível alimentar que o Brasil deve realizar, segundo Silvio Tendler, diretor do documentário O veneno está na mesa 2
 
No primeiro filme, O veneno está na mesa, o cineasta relata que expunha um alerta, diferentemente de agora, quando é exposta uma alternativa ao sistema sustentado pelas multinacionais do agronegócio. "Ele te leva a escolher em que mundo você quer viver.  É agora ou nunca mais", disse, sobre o filme. Além de retratar os impactos do agronegócio e do uso abusivo de venenos nas lavouras, O veneno está na mesa 2 também mostra alternativas dentro da agricultura familiar que já estão em curso no território brasileiro, como o cultivo orgânico, a agroecologia e os sistemas agroflorestais.
 
Entretanto, mais de 80 entidades da sociedade civil, reunidas na Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida, enfrentam embates com adversários de grande peso econômico e político. Somente no Brasil, são 130 empresas que comercializam sementes modificadas e agrotóxicos. Entre elas, a Monsanto, Dow, Bayer, Basf, Syngenta e Dupont, que controlam 68% do mercado. Além disso, os latifundiários também encontram respaldo político. Cerca de 40 mil grandes fazendeiros são representador por 120 deputados federais, enquanto mais de 12 milhões de agricultores familiares, que efetivamente garantem o sustento do brasileiro, são representados por apenas 10 deputados.
 
A Monsanto, por exemplo, tem em sua história o marco da fabricação do agente laranja, poderoso veneno usado como desfolhante pelos militares americanos durante a Guerra do Vietnã. O herbicida causou anomalias genéticas, diversos tipos de câncer, abortos e irritações cutâneas às pessoas que a ele foram expostas. Em 1997, a multinacional foi refundada como empresa agrícola, produtora de sementes - como as de milho e algodão supostamente resistentes a pragas lançadas nos anos 1990 - e demais produtos desse setor.
 
A Monsanto também é acusada de biopirataria, de contrabando de sementes, de manipulação de dados científicos, além de ser responsável pelo suicídio de agricultores indianos, endividados devido aos altos custos das sementes transgênicas e dos insumos químicos necessários a essas plantações. A cada plantio, os agricultores têm que comprar mais sementes porque, devido à patente obtida pela multinacional, cada semente só pode ser usada em um plantio – o que os impede de guardar uma parte da colheita para o próximo ano, como é feito na agricultura tradicional.
 
As megaplantações brasileiras contam com 14 tipos de agrotóxicos proibidos em outras nações e, no filme, são retratadas cenas dessa realidade que beira o absurdo. Não são raros os casos de aviões de empresas que pulverizam suas plantações e, ao mesmo tempo, lançam agrotóxicos em escolas e em culturas de pequenos produtores que não usam nenhum tipo de veneno. No Brasil, a cada 90 minutos, uma pessoa é envenenada por agrotóxicos.
 
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão responsável por liberar tais produtos no país, informa que o mercado brasileiro de agrotóxicos cresceu 190% nos últimos 10 anos, um ritmo muito mais acentuado do que o do mercado mundial, que foi de 93% no mesmo período. Presente no debate após o lançamento do filme, no Rio de Janeiro, o pesquisador Luiz Cláudio Meirelles, da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), lembrou que, recentemente, a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária liberou o uso de dois novos insumos químicos já banidos de outros países.
 
No documentário é retratado o caso de uma agricultora que teve um quadro grave de depressão que, ao que tudo indica, foi provocado pelo excesso de exposição a agrotóxicos em longo prazo. O documentário ainda deixa claro que este não é um caso isolado e que cada vez mais médicos diagnosticam casos de intoxicações e até cânceres entre os trabalhadores do campo. O uso indiscriminado e sem cuidados de agrotóxicos também pode causar intoxicações com diferentes graus de severidade, diminuição das defesas imunológicas, anemia, impotência sexual, cefaleia, insônia, alterações de pressão arterial, distimia (espécie de depressão crônica) e distúrbios de comportamento.
 
O lançamento do filme reuniu mais de 600 pessoas, tendo sido dedicada às 5 mil vítimas do despejo ocorrido no terreno da empresa Oi, no dia 11 abril, e que até hoje estão sem moradia.

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