Espírito Santo, lixeira industrial do país: tudo preparado para siderúrgica em Anchieta
Está tudo pronto para que a Vale comece, assim que quiser, a construção da Companhia Siderúrgica Ubu (CSU) no município de Anchieta, sul do Estado. Basta que o mercado seja aquecido para que a obra seja tocada. Até uma planta residencial na região já foi licenciada.
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Anchieta publicou no Diário Oficial que licenciou o Residencial Martins, localizado na Fazenda São Martinho, estrada para Jabaquara, que é da Vale. A licença foi solicitada à Prefeitura de Anchieta pelo processo nº 13606/2011, Licença de Operação (LO / nº 8/2015 / Classe I), como informa.
De parte do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), está tudo acertado. Contra os interesses do Espírito Santo, a CSU foi licenciada. Prejudica particularmente os moradores do sul, já vitimados pelas quatro usinas de pelotização da Samarco, empresa da qual Vale S/A e anglo-australiana BHP Billiton Brasil Ltda são proprietárias.
A construção ainda não foi realizada, mas a Vale jamais perderia uma licença desta. Pediu a prorrogação para construir a siderúrgica em Anchieta. A empresa, financiadora das campanhas eleitorais, como a do governador Paulo Hartung, jamais perde no Iema. Mesmo com projetos que produzem danos ao ambiente e à saúde dos moradores.
“A Companhia Siderúrgica Ubu (CSU) torna público que requereu ao Iema [Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos], através do processo nº 47787830, renovação da Licença Prévia (LP GCA/SAIA/ Nº 56/11) para produção de semi acabados de aço, no município de Anchieta/ES. Protocolo 133662”.
Moradores que se lixem
Com apoio do governo do Estado e da prefeitura de Anchieta, a Vale vem ganhando sucessivas quedas de braço com a comunidade. Já em 2010, Século Diário denunciava que a Vale mentia ao afirmar que já havia comprado o bairro Chapada do A, em Anchieta.
Ainda naquela ocasião, o alerta era de que se nada fosse feito em defesa das famílias que o ocupam o bairro, este seria destruído. Em 2006, a Vale ocupava em Anchieta 78 Km2 das terras do município, através da Samarco Mineração S/A. E anunciava seu projeto de construir usinas de pellets (hoje a Samarco tem quatro usinas e pode chegar a oito, que é o seu projeto).
A região já era impactada, principalmente pela atividade da Samarco Mineração S/A e da Petrobras. No município, os níveis de poluição máximos previstos em lei já haviam sido ultrapassados e também constatada a indisponibilidade de água para abastecer a população.
Além disso, a região enfrentava problemas graves desde a chegada de trabalhadoras na década de 70 para a construção da Samarco. A situação foi agravada. No balneário faltam espaço, saúde, educação e segurança para os moradores, que reclamam do aumento da violência, do surgimento do tráfico de drogas e da prostituição na região.
Há previsão de que mais 18 mil trabalhadores cheguem à região com a construção da CSU. Entretanto, a Vale quer aproveitar as vantagens competitivas de produzir aço com acesso ao seu próprio minério, fechando a cadeia produtiva de aço no Estado. Em Anchieta, a CSU pretende produzir 5 milhões de toneladas ano de aço. E pode dobrar esta quantidade com facilidade.
Junto com os três outros grandes projetos siderúrgicos da Vale (CSA no Rio de Janeiro - uma parceria com a ThyssenKrupp -, CSP, no Ceará e, Alpa, no Pará), a mineradora entrava à época no mercado siderúrgico do País com uma produção de 18,5 milhões de toneladas por ano.
O Espírito Santo é a lixeira do país e onde as poluidoras Vale, ArcelorMittal Tubarão e Cariacica e Aracruz Celulose (Fibria) construíram suas usinas, em plena ditadura militar. Nos governos atuais, as empresas continuam crescendo, e aumentando a destruição ambiental e produzindo doenças e mortes. Foi o caso da oitava usina da Vale, no Planalto de Carapina, licenciado no segundo governo Paulo Hartung (2003 - 2010).
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