Terça, 30 Abril 2024

Estado perde um dos principais combatentes das poluidoras

Estado perde um dos principais combatentes das poluidoras
A luta ambiental no Espírito Santo perdeu um de seus principais articuladores. Morreu nessa terça-feira (18), de causa desconhecida, o advogado e ambientalista Freddy Monteiro Guimarães, 67 anos, fundador da primeira entidade ambiental do Estado, a Associação Capixaba de Proteção ao Meio Ambiente (Acapema). A trajetória de Freddy é marcada por denúncias contundentes sobre a poluição do ar e os impactos gerados pelas grandes poluidoras do Estado, como Vale, ArcelorMittal, Aracruz Celulose (Fibria) e Samarco Mineração. 
 
Com muito critério, ele "escancarou a janela da sujeira que onera a saúde dos capixabas e compromete o futuro da cidade e do Espírito Santo como um centro turístico", como bem citou em seus artigos o colunista de Século Diário, Geraldo Hasse, e se não foi ouvido na época, abriu um bom caminho para o debate. 
 
Junto com ele vieram ações populares, manifestações e denúncias contra corrupção, sempre regadas de indignação e críticas contundentes sobre o que ele chamava de “tremendo suporte” dado pelo governo do Estado às grandes empresas transnacionais do Espírito Santo. Para Freddy, tanto governo quanto população, enquanto inertes, eram cúmplices dos crimes ambientais registrados no Espírito Santo. 
 
Freddy denunciou ainda o aumento constante de doenças respiratórias na Grande Vitória devido à emissão de partículas totais e sedimentáveis pela Vale e Arcelor, e cobrou a adoção de novos parâmetros de emissões pelo governo do Estado. Ele se preocupava com a qualidade de vida, mas sobretudo com o que restaria do Estado após anos sem o controle da poluição do ar. Ele tratava o Estado e as transnacionais como "um só corpo" e foi um dos pioneiros em levantar a bandeira contra a isenção fiscal dada pelo Estado às transnacionais. 
 
Em outras ocasiões, apontou a destruição de 50 mil hectares de Mata Atlântica no norte do Estado pela Aracruz Celulose, ressaltando a luta indígena e quilombola, comunidades que tinham o direito de ter suas terras devolvidas pela “empresa usurpadora de terras”, como ele dizia. 
 
Inquieto, Freddy ficou conhecido por desmascarar ações do governo e projetar sua mente para os impactos que ainda não eram sentidos pelos capixabas. Sem papas na língua, posicionou-se ainda contra a implantação da siderúrgica Baosteel, em Anchieta, sul do Estado. Para ele, tanto aço e minério na Ponta de Tubarão e no sul do Estado não serviam para nada, a não ser gerar impactos negativos à saúde, economia qualidade de vida do capixaba. 
 
Sem acreditar nas promessas políticas, o ambientalista afirmava não se iludir com a CPI da Poluição nem dos agrotóxicos, e desdenhou do inventário de gases sobre as poluidoras do Estado, feito pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema). Sempre deixou claro, nenhumas dessas iniciativas foram levadas até o fim e, portanto, não representam mérito algum. Tais medidas, esbravejava, são tão falhas quanto os Termos de Ajustamento de Condutas (TACs), que nada mais servem do que retardar o processo fiscalizatório e punitivo para empresas que impactam de forma negativa o Estado. 
 
Luta emblemática envolvendo o ambientalista diz respeito à exigência da implantação da unidade de dessulfuração – que deveria tratar os gases da primeira usina da Arcelor - na época CST –,  nunca implantada. Outro ponto duramente criticado por ele foi a mudança do nome dos TACs para Termos de Compromisso Ambiental (TCA), que segundo ele, teve o único objetivo de não denegrir a imagem das empresas. Freddy também defendia a não liberação da oitava usina da Vale, devido aos impactos que a empresa já gera na Grande Vitória. 
 
Freddy nasceu no Centro de Vitória, área próxima ao Parque Moscoso, em 22 de novembro de 1946. Formado em Direito pela Universidade Federal do Estado (Ufes), em 1970,  também é conhecido por, juntamente com Ewerton Guimarães, Paulo Torre, Luiz Tadeu Teixeira, Aprígio Lyrio, Antônio Alaerte e Rubens Manoel C. Gomes dividir suas atividades entre o jornal O Diário e o movimento teatral e musical. Como autor, diretor e ator, e na música, Freddy também escrevia poesias e publicou o livro Veneno Antídoto, pela Oficina de Letras, 1997. Na Revista Capixaba e Revista Talismã Gold, abordou as questões ambientais. 
 
O sepultamento do ambientalista foi realizado nesta quarta-feira (19), no Cemitério Santo Antônio, em Vitória. 

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