Exposição que denuncia o pó preto inicia sua 17ª edição

A exposição tem nome curioso. Em homenagem à poluidora Vale, à aparência de pena que a poeira das chaminés da usina possui e aos empresários, comparados aos fazendeiros que vendem esterco, que se aproveitam da poluição para construir a fortuna das multinacionais poluidoras, o artista plástico Kleber Galvêas iniciou, nessa segunda-feira (6), a 17ª edição da exposição intitulada A Vale, a Vaca e a Pena, na Barra do Jucu, Vila Velha.

 

O artista conta que sua intenção é promover uma provocação artística para alertar sobre o problema da poluição do ar na Grande Vitória. São expostas telas em que o artista desenha com o pó preto que se acumula durante 50 dias, ao ar livre. “A tela fica exposta numa área com muitas árvores frutíferas, na posição oposta do vento que traz a poeira e a 30 km de distância de Vitória”, conta.

 

O tema dessa tela são as wind fences, instaladas pela Vale - a primeira em 2009 e a quinta e última em 2011 -, que segundo Galvêas, só aumentaram o percentual de minério de ferro na composição do pó preto, além de dispersar ainda mais as partículas poluentes na atmosfera da Grande Vitória. 

 

“Quando conheci os projetos das barreiras de vento (wind fences) em 1998, achava que resolveria o problema. Mas o vento na região da ponta de Tubarão é intenso e constante, o que, com a instalação da nova tecnologia, cria uma área de baixa pressão que propicia ainda mais a dispersão das partículas”. O artista lembra que, na época, o atual prefeito Luciano Rezende (MD) era presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara de Vitória.

 

Outra experiência do artista consiste em colocar um pouco do pó preto em uma folha de papel e passar um imã de geladeira do outro lado. Percebe-se que as partículas são atraídas pelo imã, o que comprova o grande percentual de ferro (Fe2) no material particulado. Neste ano, pela primeira vez, o imã grudou ao minério da folha de papel sem cair, o que comprova que a quantidade desse mineral aumentou.

 

“Lembrando que não é uma experiência científica, eu percebi um aumento de, no mínimo, 50% do pó preto desde o ano passado e com o início das operações da 8ª usina da Vale, isso só vai piorar. Acredito que a poluição pode até dobrar”. A 8ª usina já está construída e espera a licença de operação, emitida pelos órgãos ambientais, para começar a funcionar. Segundo Galvêas, essa usina tem o mesmo tamanho das outras sete juntas.