Quarta, 01 Mai 2024

Gerente-geral da Manabi compara Porto Norte Capixaba à Vale

Gerente-geral da Manabi compara Porto Norte Capixaba à Vale

Como indicado pelo deputado Luiz Durão (PDT), o gerente-geral de pré-operação do porto da Manabi, Romeu Rodrigues, fez uso da tribuna popular da Assembleia Legislativa (Ales) na tarde dessa terça-feira (11). A tribuna, regimentalmente, somente aconteceria após a Ordem do Dia. Entretanto, a pedido do deputado José Carlos Elias (PTB), o pronunciamento do gerente da Manabi foi antecipado sob a justificativa de que o convidado corria o risco de perder o avião. 

Antes mesmo do representante da Manabi fazer uso da palavra, o deputado Theodorico Ferraço (DEM) declarou que o projeto é “da mais alta importância” para o Estado.



Nos dez minutos de pronunciamento, o gerente-geral aproveitou para exaltar as vantagens que o projeto trará para o Estado. Primeiro, foram apresentados os números, Segundo Rodrigues, o porto terá capacidade de exportar 35 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, extraídos na região do Morro do Pilar, em Minas Gerais, sendo que o objetivo é o escoamento de 25 milhões de toneladas. Sua construção terá um valor de cerca de R$ 1,5 bilhão, e os investimentos totais são da ordem de R$ 5 bilhões. Rodrigues também destacou que a área do empreendimento foi comprada e já está devidamente regularizada junto ao Patrimônio da União e que o exercício da atividade portuária está autorizado pela Marinha.



Segundo o gerente-geral, “felizmente” a área que dará suporte ao quebra-mar do porto está desmatada e uma pequena área de restinga que ainda se sustenta na área de posse da Manabi será preservada. Uma dragagem no local do porto aumentará o fundo oceânico de 10 para 22 metros de profundidade, o que permite que o porto atenda a 80% da frota transoceânica que transporta minério de ferro.



Os investimentos destinados à construção do porto da Manabi, segundo a apresentação, vêm de fundos de pensão americano e canadense, de um fundo soberano coreano e de ex-diretores de grandes empresas, como a Vale e outras empresas ligadas ao ramo da mineração e logística.



Segundo o executivo da Manabi, a construção do porto demorará 27 meses e a previsão é de que as obras se iniciem no final deste ano, estando o empreendimento pronto para funcionamento até o ano de 2017. O mineroduto, projeto que acompanha e complementa o do Porto Norte Capixaba (PNC), tem um prazo de 34 meses para sua construção. O gerente-geral ainda afirmou que o mineroduto é uma obra “prática”, porque permite que culturas de raiz curta, como o café e o pasto, sejam replantados em cima da escavação feita.



Também, segundo Rodrigues, haverá uma parceria com o Instituto Euvaldo Lodi (Iel) e com a Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes) para que “parte dos bilhões” sejam revertidos para empresas locais. “Pretendemos dar oportunidade aos trabalhadores locais”, disse. Segundo ele, serão gerados sete mil empregos na implantação de todo o projeto, dos quais mil e quinhentos serão somente para a implantação do porto, que abrigará outros 750 postos de trabalho depois de pronto.



Histórias semelhantes de geração de emprego e renda também foram contadas na ocasião da apresentação projeto do Estaleiro Jurong, em Aracruz. Os empresários não têm cumprido as condicionantes e estão trazendo trabalhadores de fora para a região. Segundo relatos, os hotéis das proximidades estão lotados de pessoas que migraram especialmente para trabalhar no EJA, sendo que há moradores locais desempregados.



Como lembrou o deputado Nilton Baiano (PP), após o pronunciamento de Romeu Rodrigues, as promessas feitas anteriormente à implantação de grandes projetos, como este, são sempre "maravilhosas". Entretanto, após a aprovação do projeto, surgem problemas estruturais, como aumento do contingente populacional, gerando uma ocupação humana irregular e provocando problemas sociais nas localidades onde são implantados. O deputado também chamou a atenção dos órgãos ambientais responsáveis, convocando-os a “tomarem cuidado” com a avaliação de empreendimentos desta natureza.



Os supostos benefícios do PNC para a região em que será implantado (na localidade de Degredo, em Linhares, no norte do Estado) foram, a todo momento, comparados aos “avanços” trazidos pela Vale à Grande Vitória. De fato, há semelhanças entre os dois projetos, principalmente com relação aos impactos ambientais e sociais. 



O oceanógrafo e pesquisador Eric Mazzei, da ONG Voz da Natureza, já apontou, anteriormente, ao participar de uma audiência pública sobre o projeto, que a alternativa para despoluição da água que sai do mineroduto e é novamente lançada ao mar é rudimentar e fatalmente formará um passivo ambiental semelhante ao que existe na Ponta de Tubarão, formado por pelotas e pó de minério despejados pela Vale na década de 1970.

Na ocasião, a Manabi chegou a afirmar que o seu minério é diferente do da Vale, pois "não produz pó de minério", e a versão do pesquisador se contrapõe à da empresa que declarou, por meio de seu gerente-geral, que o sistema é avançado e que a Manabi utiliza "os mais altos padrões de sustentabilidade".

 

A comparação do porto da Manabi aos prejuízos ambientais trazidos pela Vale à Grande Vitória também é compartilhada pela Associação dos Pescadores da Barra do Riacho e da Barra do Sahy, cujo presidente, Vicente Buteri, já alertou sobre os danos ambientais que poderão ser trazidos pelo PNC, que tem foco no transporte de minério. “Onde o minério chegou, acabou com tudo”, afirmou, na época, Buteri.



O gerente da Manabi também disse aos deputados, que o diálogo está amplamente aberto com a comunidade de pescadores e que, inclusive, haverá benefícios para a economia e a população locais. Entretanto, como já reiterou diversas vezes, Vicente declara que “se depender da associação, o empreendimento não entra”.

 

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