Pescadores denunciam que RG Log descumpriu determinação em Vila Cajueiro

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) vai inspecionar novamente as obras da empresa RG Log, em Vila Cajueiro, Cariacica, para verificar denúncias de pescadores de que as intervenções embargadas seguem em andamento na área de manguezal. A autarquia foi acionada por Século Diário após os relatos e informou que “não suspendeu qualquer medida adotada anteriormente”.
O Iphan esteve no local no último mês e constatou que a empresa vinha executando terraplanagem e movimentação de solo em área de manguezal e de sítio arqueológico sem autorização da autarquia federal. Um laudo técnico indicou “perda parcial de estratigrafia e destruição de contextos arqueológicos subsuperficiais” em sítio de alto potencial arqueológico da região, onde estão registrados sambaquis e vestígios com séculos de história. O embargo também atingiu uma obra da Prefeitura de Cariacica, contratada pela Secretaria Municipal de Obras e executada pela empresa Andares Construção Civil Ltda.
O pescador Breno Silva, que afirma circular diariamente no trecho, relata que funcionários e maquinário da empresa RG Log seguem trabalhando no local. “A obra não parou um dia, é como se não tivesse lei para eles”, criticou, lembrando que o prefeito Euclério Sampaio (MDB) esteve na região para anunciar novos empreendimentos e afirmou que empresas privadas instaladas ali trariam “desenvolvimento” e “empregos”.
O pescador explica que utiliza a região do mangue como rota de deslocamento e fonte de subsistência, e tem presenciado a movimentação de trabalhadores. Além disso, aponta que a empresa tem avançado com estruturas de maior impacto, como a instalação de torres de alta tensão dentro da área de manguezal, que integra o sistema estuarino do Rio Santa Maria.
Segundo os primeiros relatos apresentados por moradores e pescadores, empresas privadas estariam despejando terra e entulho em Áreas de Preservação Permanente (APP), provocando a destruição de ecossistemas e afetando diretamente a subsistência de famílias que vivem da pesca artesanal.
O bairro de Vila Cajueiro vive um processo de transformação acelerada há pelo menos duas décadas, impulsionado pela instalação de empresas de logística e exportação. Imagens de satélite mostram uma mudança drástica na paisagem ao longo de vinte anos. Áreas antes densas de vegetação de mangue foram substituídas por galpões, pátios de manobra, aterros e vias pavimentadas. Ao mesmo tempo, pescadores relatam queda no volume de captura de espécies tradicionais do estuário, como o caranguejo-uçá, o siri e o guaiamum, cujo habitat é justamente o manguezal que tem sido aterrado.

De acordo com um morador que fez registros em vídeo na ocasião da primeira denúncia e pediu para não ser identificado por medo de sofrer represálias, entre as empresas que atuam na região, estariam ainda a Timbro (uma das principais exportadoras de açúcar do Brasil), a SPE Areia Branca e a Base Engenharia Ambiental. Todas teriam como ponto de referência a antiga fazendinha Porto das Pedras, área onde antes predominavam guaiamuns, caranguejos e vegetação típica de mangue. O morador afirma que parte dos empreendimentos teria recebido autorização municipal por se enquadrar como atividade de baixo risco ambiental — o que, para ele, não justificaria a intervenção em área de manguezal.
Para Breno, não há dúvida de que a destruição do mangue é a verdadeira ameaça ao futuro de quem vive da pesca artesanal no Espírito Santo, e não pequenas infrações de pescadores individuais, que, como avalia, “são duramente punidos pelo Estado”. Ele destaca que os pescadores artesanais cobram uma fiscalização efetiva e se sentem abandonados pelos órgãos ambientais.

