Terça, 16 Abril 2024

Lagoa Encantada preserva espécies em extinção mas segue ameaçada

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Willerman da Silva Lúcio mostra com orgulho as flores brancas de Ipê-caixeta (Tabebuia cassinoides), também conhecida como Tamanqueira, uma espécie da Mata Atlântica ameaçada de extinção encontrada na região da Lagoa Encantada, em Vila Velha.

A região vive há anos uma disputa de interesses: moradores do entorno, que defendem a criação de um parque natural, e empresários e prefeitura, que executam uma série de desmatamentos e tentativas de construções de loteamentos, condomínios e estradas em meio aos alagados.

Por do meio do Fórum de Desenvolvimento Social, Econômico e Ambiental do Grande Vale Encantado (Fórum Desea), do qual participa Willerman, se organizam os defensores do parque no local. As atividades periódicas de conscientização que o Fórum vem fazendo há anos tiveram que ser suspensas devido às medidas de contenção à expansão do novo coronavírus.

Porém, o período de isolamento social não impediu o avanço da devastação no mês de abril numa área importante da região, o Morro do Carcará, que por estar em terra mais elevada, possui uma vegetação de maior porte que na área alagadiça. No morro, encontra-se outra espécie ameaçada de extinção, o Ipê Felpudo. O entorno é composto por áreas degradadas de restinga, além de manguezal e trechos de floresta. 

Área do crime ambiental que desmatou parte do Morro do Carcará. Foto: Facebook

Só de aves, já foram identificadas cerca de 150 espécies na região sendo que duas delas tiveram ali seu primeiro registro no Espírito Santo, a Viuvinha de Óculos, espécie migratória, e a Saracura do Banhado, residente no local. Ameaçada de extinção, a Saíra Sapucaia, também migratória, já foi avistada na região, assim como outros animais como jaguatiricas e outros felinos, gaviões e o jacaré de papo amarelo que estão vulneráveis ou ameaçados de extinção.

No ano passado foi apresentado um estudo a partir de um termo de ajuste ambiental com uma empresa para um diagnóstico das possibilidades sobre possíveis categorias de proteção ambiental para área, localizada entre rodovias importantes do município, e que por ser alagadiça cumpre importante função de retenção de água numa cidade conhecida pelos constantes alagamentos. 

Registro do Ipê-felpudo florido no Morro do Carcará. Foto: Willerman da Silva Lúcio

O estudo apontou duas possibilidades, de transformação em parque natural municipal, com ampla proteção, ou de Área de Relevância e Interesse Ecológico (ARIE), que permitiria algum grau de ocupação humana mas dentro de normas de proteção e preservação do entorno natural. "O documento referenda o que sempre defendemos, que a região possa ser transformada num parque onde a sociedade possa ter espaço de lazer ao mesmo tempo em que se preserva a natureza", explica Willerman, lembrando que a luta do Fórum Desea vem desde 2012. Porém, a prefeitura até agora não deu seguimento a uma decisão sobre a preservação do parque.

Pelo contrário, o Plano de Mobilidade de Vila Velha prevê a construção de quatro vias que iriam cortar a região da lagoa e dos alagadiços, causando grande impacto ambiental. No Plano Diretor Municipal (PDM) de 2018, a área sofreu um rebaixamento em sua classificação em relação à proteção ambiental.

Entorno verde da Lagoa Encantada em Vila Velha. Foto: Willerman da Silva Lúcio

Willerman aponta uma luta de Davi contra Golias. Contando com a mobilização popular, poucos recursos e apoio do Ministério Público, enfrentam interesses de alto escalão do poder político e econômico de Vila Velha. Uma luta que deve ser constante, mesmo que a região seja estabelecida como parque, pois isso valorizaria o entorno e aumentaria o interesse empresarial em diminuir o tamanho da área de proteção, propiciando construção de imóveis de valor elevado pela proximidade com o entorno natural.

Mesmo com o parque criado, também seguiria a luta por seu formato, gestão, criação de conselhos e espaços de representação, entre outros. Ainda há muito por fazer, mas o integrantes do Fórum Desea seguem persistentes na denúncias e mobilizações, que por enquanto seguem apenas com um abaixo-assinado virtual devido ao isolamento social. Na batalha bíblica, fé e coragem foram fundamentais para a vitória de Davi sobre o gigante.

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