Quinta, 16 Mai 2024

Mesmo com reconhecimento da agricultura familiar, governo federal destina maiores esforços ao agronegócio

Mesmo com reconhecimento da agricultura familiar, governo federal destina maiores esforços ao agronegócio
No final do mês de maio, a presidente Dilma Roussef recebeu cerca de 40 representantes do agronegócio para um jantar no Palácio da Alvorada. Liderados pela senadora Kátia Abreu 
(PMDB-TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e conhecida por sua atuação em favor do setor, o grupo teve a intenção de buscar apoio a temas como bioenergia à área de processamento de alimentos, produção de agroquímicos (agrotóxicos), máquinas e equipamentos agrícolas, como informou por meio de nota o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
 
Os ruralistas ainda apresentaram, na reunião, oito supostos "desafios" do agronegócio, que são a logística, o uso de agroquímicos, açúcar e álcool, acordos internacionais de comércio, crédito tributário, questões trabalhistas, que, de acordo com o movimento, significam a perda de direitos trabalhistas; e a questão indígena, que para o movimento foi tratada pelos ruralistas como o não reconhecimento dos territórios tradicionais. Considerando esse fato, o MPA definiu, em nota, que "o governo federal, apesar de reconhecer “oralmente” a importância da agricultura familiar e camponesa, demonstra em seus movimentos concretos um apreço sem tamanho ao agronegócio, ignorando o legado nefasto deixado pelo mesmo", e questionou o que a presidente e sua equipe de governo pensam sobre a agricultura familiar.
 
O MPA apresenta na nota que o crescimento do setor do agronegócio no país continua deixando prejuízos no campo brasileiro e, até então, os estímulos ao setor resultaram no fato de o país ser o tricampeão mundial em consumo de agrotóxicos, além de sofrer com sérios problemas ambientais relacionados ao monocultivo, ao uso intensivo de máquinas pesadas, de isumos químicos e venenos. O desmatamento, a degradação do solo, a contaminação química de mananciais e a redução da base genética alimentar da população também são consequências desse tipo de cultivo.
 
O MPA também informa que, mesmo abocanhando 86% dos créditos e 76% das terras produtivas, o agronegócio produz apenas 60% do Produto Interno Bruto (PIB) agrícola e apenas 30% dos alimentos que vão pra mesa do povo brasileiro, muito menos do que o campesinato, que produz os restantes 70% da alimentação no país. O agronegócio também controla 76% das terras e, apesar dos muitos investimentos e do grande território usurpado, gera apenas 26% dos empregos no campo, enquanto, no Brasil, a agricultura familiar chega a empregar mais de 70% dos trabalhadores do campo.
 
Segundo o Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que levantou dados dos anos de 2006 e 2007 e foi divulgado em 2009, a agricultura camponesa emprega no Brasil 12,3 milhões de pessoas no campo, o equivalente a 74,4% de todos os empregos gerados na área rural, em oposição ao agronegócio, que emprega apenas 25,3% dos trabalhadores do campo, cerca de 4,2 milhões de pessoas. Além disso, 84,4% dos estabelecimentos da agricultura familiar ocupam apenas 24,3% do território campesino brasileiro, enquanto 15,6% dos estabelecimentos que representam o agronegócio utilizam 75,7% das áreas ocupadas no campo.
 
O agronegócio é um modelo que faz amplo uso de agrotóxicos, maquinário agrícola e monocultivos intensivos, visando apenas ao lucro e às exportações, o que transforma os investimentos públicos, que supostamente seriam para suprir o déficit alimentar da população, em capital privado. Se todas essas terras fossem destinadas à agricultura camponesa e familiar, como consideram os dirigentes do MPA, mais pessoas seriam empregadas e assentadas no campo.
 
"Por tudo isso, defendemos que o reconhecimento da agricultura familiar e camponesa deve se transformar em ação concreta dos governos federal e estaduais", afirmam, acrescentando que, para a estruturação dos pequenos produtores são necessárias políticas estruturantes que tenham como base ações como a reforma agrária, créditos sem a mediação bancária, políticas de seguro agrícola e garantia de compra e de preços mínimos à aquisição de produtos da agricultura familiar.
 
Divulgado no primeiro semestre deste ano, um levantamento realizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e a Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPI), em parceria com a organização internacional Christian Aid, alerta para os baixos investimentos do governo federal nos programas destinados à compra e distribuição de alimentos produzidos na agricultura familiar. Embora os investimentos institucionais para a compra de alimentos por meio do PAA tenham aumentado mais de dez vezes entre os anos de 2003 e 2013, a Organização das Nações Unidas (ONU) avaliou que este número equivale a apenas 0,0004% do PIB do País. Ainda de acordo com o levantamento, a aquisição de alimentos significou apenas 4% dos 4,4 milhões de estabelecimentos da agricultura familiar e, quando esses indicadores são levados às 1.200 comunidades dos quilombolas e dos mais de 200 povos indígenas, eles se tornam praticamente invisíveis.

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Sexta, 17 Mai 2024

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