Sábado, 27 Abril 2024

MPF ajuíza ações para agilizar titulação de terras quilombolas no ES

MPF ajuíza ações para agilizar titulação de terras quilombolas no ES
No Dia da Consciência Negra, nesta quarta-feira (20), o Ministério Público Federal (MPF) ajuizou sete ações civis públicas com o objetivo de agilizar o processo de regularização de territórios quilombolas no país. Duas delas são referentes a territórios do Espírito Santo, a primeira trata da demora na regularização da terra da comunidade de São Domingos, no município de São Mateus; e a outra de grilagem de terras públicas.
 
Para o MPF, o caso de São Domingos é um dos exemplos mais claros de descaso. Os promotores constataram uma série de medidas tomadas pelos órgãos competentes para praticamente paralisar o processo de reconhecimento das terras, com rotinas administrativas excessivas e tramitações em prazos dilatados, se comparados a anos anteriores.



Sem andamento, o processo está na fase de análise técnica e jurídica e julgamento de recurso pelo Conselho Diretor, e está na sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) desde abril de 2011, sendo que pronto para julgamento desde janeiro de 2012. Esta é a última fase pela qual o processo passa antes da publicação da portaria que devolve as terras ao seus verdadeiros donos, no antigo território de Sapê do Norte, formado pelos municípios de São Mateus e Conceição da Barra.

 
Já em relação à grilagem de terra, o MPF quer a declaração de nulidade dos títulos de domínio de terras devolutas dados pelo Estado à Aracruz Celulose (Fibria) e a legitimação das terras em favor dos quilombolas, conforme o previsto em lei. A instituição afirma que o processo se deu de forma fraudulenta, como constatou a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Aracruz, criada em 2002 pela Assembleia Legislativa. Além disso, foi comprovada a existência de uma “aliança” entre a empresa e alguns de seus funcionários, no final da década de 60 e início da de 70, para que estes requeressem a legitimação da posse de terras devolutas estaduais, como laranjas, para transferi-las em seguida à empresa.
 
O MPF ressalta determinação do artigo 68 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias, da Constituição Federal: “aos remanescentes das comunidades de quilombos é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os respectivos títulos”. Segundo as ações, a Fundação Cultural Palmares certifica, atualmente, 2.007 comunidades quilombolas em todo país. Entretanto, apesar de mais da metade já terem processo aberto no Incra, apenas 139 títulos (cerca de 7%) de propriedade coletiva haviam sido emitidos até maio deste ano.



Na prática, pontua o Ministério Público, essa demora se reflete no dia a dia das comunidades, que enfrentam dificuldade de subsistência e de acesso a serviços públicos, são vítimas de violência e sofrem preconceito. "Persistindo esse ritmo, as 2.007 comunidades já certificadas pela Fundação Palmares terão que aguardar aproximadamente 175 anos para que todos os processos a elas pertinentes estejam concluídos”, critica Deborah Duprat,  coordenadora da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF. As demais ações civis públicas se referem a territórios em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amazonas, Pará e São Paulo.



No Estado, explora o território quilombola principalmente a Aracruz Celulose, desde a ditadura militar, mas também empresas de álcool e cana-de-açúcar e grandes fazendeiros. No Sapê do Norte, as famílias quilombolas enfrentam fome e miséria, sem possibilidades de produzir alimentos para subsistência e sequer manter sua cultura tradicional. Ilhados pelos eucaliptais, sofrem os impactos sociais e ambientais gerados por esta monocultora, que exige intenso uso de agrotóxicos. 
 
O caso de São Domingos não é o único que enfrenta demora em seu andamentos, atendendo a interesses da Aracruz Celulose e de fazendeiros reunidos no Movimento Paz no Campo (MPC). O mesmo ocorre com a comunidade de Linharinho, em Conceição da Barra, que tem 85% dos seus 9,5 mil hectares ocupados pela Aracruz. A portaria de reconhecimento do território foi publicada em 2007, mas foi questionada pela empresa, que obteve vitória na Justiça, gerando a anulação. Em outubro do ano passado, foi aberto um novo processo, que pode levar de dois a três anos para ser concluído. De acordo com o Incra, Linharinho aguarda a finalização do Levantamento Fundiário, a elaboração da planta georreferenciada e o cadastro das famílias.
 
Em situação semelhante estão as três comunidades de Roda d'Água (Roda d'água e Morro da Onça; Córrego do Alexandre e Porto Grande) e as quatro comunidades da Bacia do Rio Angelim (Angelim 1, Angelim 2, Angelim 3 e Angelim Disa), das quais o Relatórios Técnicos de Identificação e Delimitação (RTID), tapa inicial do processo de titulação, ainda estão sendo elaborados.
 
A comunidade de Monte Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim, teve seu RTID publicado. O Incra aguarda finalização do prazo dos trâmites para que seja encaminhada a publicação da Portaria de Reconhecimento do Território.
 
No ano passado, para a regularização fundiária, também foram publicadas as portarias das comunidades de São Jorge e Serraria/São Cristóvão, no norte do Estado; de Retiro, em Santa Leopoldina, e São Pedro, em Ibiraçu, também no norte. Ações de desapropriação para áreas da comunidade do Retiro já foram ajuizadas e, com isso, há a possibilidade da titulação das terras atualmente ocupadas pelos quilombolas. A comunidade de Serraria/São Cristóvão espera o ajuizamento das ações de desapropriação; e São Pedro aguarda a desapropriação dos imóveis sobre as terras ajuizadas neste ano. O Incra não informou sobre o processo da comunidade São Jorge, que estava parado devido a uma decisão judicial.
 
Levantamento da Comissão Pró-Índio, entidade que também atua em favor da luta quilombola no Brasil, alerta que, no ano passado, apenas uma terra quilombola recebeu título de posse definitiva do Incra em todo o Brasil. O território titulado foi o Quilombo Chácara de Buriti, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, compreendendo ao todo 12 hectares. A área total que pertence à comunidade, no entanto, é de 44 hectares. Até 2012, somente 193 comunidades quilombolas tiveram suas terras tituladas e 87% dos processos em curso no Incra ainda não contam com o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação.

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