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Mulheres trarão produtos e cultura quilombola à Praça Costa Pereira

A 2ª Feira das Mulheres Quilombolas já tem data para acontecer em julho

Nos dias 4 e 5 de julho a Praça Costa Pereira, no Centro de Vitória, receberá a segunda edição da Feira das Mulheres Quilombolas. A iniciativa busca não só expor e comercializar a produção diversa feita nos territórios quilombolas – principalmente pela produção feminina – como também dar visibilidade à cultura e à resistência quilombola no Espírito Santo, com uma programação que inclui rodas de conversa, exibição de filmes, oficina de jongo e apresentações culturais. A feira começará às 9h no sábado e às 8h no domingo, terminando com atividades culturais a partir das 18h de cada dia.

Divulgação

Olindina Serafim, integrante do Coletivo de Mulheres Quilombolas Raízes do Sapê, que realiza o evento, destaca que estará presente uma grande diversidade de saberes e fazeres. “Entre essas mulheres quilombolas estão rezadeiras, benzedeiras, professoras, mães de santo, advogadas, jongueiras, cozinheiras, artesãs, extrativistas. Temos atividades de cultivo, produção de alimentos, cura com ervas e chás, artesanato e também produção intelectual dessas mulheres por meio da cultura, educação, saúde, cinema”, cita. A proposta é que a feira siga acontecendo anualmente em Vitória, sempre no mês de julho, quando se celebra o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.

Surgido a partir da mobilização de mulheres quilombolas da região do Sapê do Norte, entre São Mateus e Conceição da Barra, no Norte do Espírito Santo, onde se encontra grande concentração de quilombos, o evento reuniu em sua primeira edição, em 2024, também mulheres de quilombos de Ibiraçu e Santa Leopoldina. Para este ano, devem estar presentes ainda participantes de Cachoeiro e Presidente Kennedy, no Sul do Estado. Ao todo serão cerca de 40 comunidades quilombolas presentes, segundo a organização. Olindina Serafim destaca que são raros os momentos em que é possível reunir mulheres de tantos territórios num mesmo espaço, o que faz também com que a feira seja um importante momento de articulação política para o movimento quilombola.

Segundo ela, a proposta da construção da feira surgiu no ano passado a partir da participação das mulheres quilombolas nos atos do Dia Internacional da Mulher, o 8 de Março, em Vitória, junto ao Fórum de Mulheres do Espírito Santo. Na semana seguinte, aconteceu o Encontro de Mulheres Quilombolas no Sapê do Norte. Dentre as várias propostas construídas e encaminhadas para as autoridades, estava a da realização de uma feira no Centro da capital capixaba para dar visibilidade à produção e organização das mulheres quilombolas e a sua relação com o território tradicional. A ideia já era de realizar no mês de julho, mas por conta de dificuldades estruturais, a feira acabou sendo adiada e estreou em agosto de 2024. 

Nas duas edições, a feira está sendo organizada pelas mulheres quilombolas a partir de uma mobilização que conta com apoio de diversos órgãos públicos e entidades da sociedade civil. Neste ano, a programação vai promover debates com temas importantes como educação escolar quilombola e racismo ambiental. Em seu chamado, o coletivo Raízes do Sapê ressalta o caráter político da atividade, destacando que as mulheres quilombolas lutam pela sobrevivência de suas famílias, de sua cultura e de seu território em oposição ao modelo de monocultivo, uso excessivo de agrotóxicos e degradação de nascentes que predomina ao redor de muitas comunidades, sob comando de grandes empresas ou grandes fazendeiros.

Assim, explicam, as mulheres quilombolas buscam “consolidar a economia como alternativa real para suprir as necessidades básicas ocultadas pelo monocultivo e o capitalismo. Desenvolvendo a economia de modo artesanal, envolvendo as famílias. Mas, mais do que isso, precisam de terra, seus territórios com garantias a titulação, de linhas de créditos, garantias de direito, políticas públicas, estrutura para beneficiamentos de seus produtos, pontos de venda estruturados para consolidar a economia de suas famílias”.

O coletivo também reclama da morosidade no sistema de titulações dos territórios, que impacta diretamente no desenvolvimento das famílias quilombolas, que vivem sem segurança e em conflito com empresas e posseiros que invadiram e ainda buscam ocupar mais partes de seus territórios tradicionais.

“As mulheres Quilombolas são pilares das suas famílias, e as comunidades quilombolas em seus territórios a partir de muita luta mesmo os não titulados, buscam uma produção de forma agroecológica, recuperando nascentes, cuidando da biodiversidade, respeitando a natureza e produzindo alimentos para os seus e a sociedade”, finaliza o coletivo.

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