quinta-feira, dezembro 4, 2025
25.9 C
Vitória
quinta-feira, dezembro 4, 2025
quinta-feira, dezembro 4, 2025

Leia Também:

‘Os protetores de animais vivem estigmatizados’

Marido de protetora presa em Cariacica cobra política de bem-estar animal

Redes sociais

“Os protetores vivem estigmatizados. Quando acontece qualquer coisa, em vez de ajudar, tentam retirar os animais ou desqualificar o trabalho, mas quem realmente está na rua, dia e noite, somos nós”, denuncia Yuri Bergamo, marido de Laudiceia Rizzo, uma das três defensoras de animais presas na Penitenciária Feminina de Cariacica, em Bubu, nessa terça-feira (2), que permaneceram detidas até esta quinta-feira (4), quando foi expedido o alvará de soltura. Elas foram acusadas de abandono após tentarem entregar uma cadela agonizante à Secretaria de Desenvolvimento da Cidade e Meio Ambiente.

Yuri avalia que o caso representa, além de um erro do poder público, que “criminaliza quem tenta suprir lacunas do Estado”, o reflexo de “anos de omissão e sobrecarga impostos a quem atua voluntariamente no salvamento de animais em sofrimento”. Segundo relata, o caso começou quando as protetoras encontraram a cadela Belinha em estado crítico, com sintomas compatíveis com aborto retido, uma condição capaz de provocar infecção, necrose e morte em poucas horas sem intervenção imediata.

A prefeitura foi acionada, mas se recusou a realizar o resgate, relata. Diante da urgência, as protetoras buscaram o Ministério Público Estadual (MPES), que concedeu prazo para que a Secretaria Municipal respondesse até o dia 9 de dezembro, mas, ao constatar a gravidade do estado do animal, o próprio promotor teria reconhecido que ela poderia não sobreviver até essa data. Sem condições financeiras para custear a cirurgia de emergência, que envolveria uma cesariana de alto custo, as três decidiram levar pessoalmente a cadela até a secretaria do município.

Ao chegarem lá, ele afirma que a equipe da prefeitura se recusou a receber o animal, alegando ausência de ordem formal do Ministério Público. As protetoras deixaram a cadela na secretaria, informando que não tinham condições materiais ou financeiras de seguir com o atendimento. Minutos depois, foram denunciadas e presas sob acusação de abandono.

Belinha agonizava com abortos retidos quando protetoras tentaram entregá-la ao município – Foto Redes sociais

Yuri afirma que “crime não houve. Quem leu o artigo 32 da Lei de Proteção Ambiental [que pune quem pratica abuso, maus-tratos e abandono], sabe que não houve crime. O animal foi entregue ao órgão responsável. O órgão se recusou a receber. Houve negligência do órgão, não das protetoras”.

Ele destaca que pretende processar o Estado pela prisão de Laudicéia e aponta que a história das três protetoras evidencia um problema maior: a ausência de políticas públicas efetivas de proteção animal em Cariacica. Entre os problemas relatados pela população, menciona a demora recorrente no resgate de animais feridos, o aumento dos casos de esporotricose, a falta de estrutura para atendimentos emergenciais, a negativa reiterada em recolher animais e a sobrecarga quase insustentável dos protetores independentes.

Muitos protetores, acrescenta, “vivem isolados, sem saber uns dos outros, cada um fazendo trabalho de formiguinha”, mas a prisão das três mulheres acelerou um movimento de organização coletiva. “Estamos nos conhecendo agora, nos unindo. Vamos criar um trabalho coordenado. Muitas pessoas que resgatam não têm tempo de enfrentar burocracia. O animal está morrendo”, relata.

No próximo dia 13, uma audiência pública será realizada na Câmara de Cariacica para discutir a crise na proteção dos animais domésticos em situação de rua ou maus-tratos. A expectativa é de que protetores, entidades e moradores compareçam em peso.

Em nota, a Prefeitura de Cariacica disse repudiar a atuação de “falsas protetoras” e afirmou que elas estariam utilizando a causa animal para “politicagem”. Segundo o comunicado, as três mulheres teriam elevado o tom de voz, tumultuado o atendimento e deixado a cadela no local sem fornecer informações aos funcionários. A administração municipal declarou ainda que alertou várias vezes que abandonar o corpo da cadela caracterizaria infração prevista no art. 32 da Lei 9.605/98 e, por isso, não teve alternativa senão representar contra elas na delegacia.

A versão da prefeitura também é criticada pela Sociedade Protetora dos Animais do Espírito Santo (Sopaes), que divulgou nota classificando como “falsa” a acusação de que as mulheres seriam protetoras ilegítimas. “São pessoas que atuam há anos no resgate, cuidado e custeio integral de animais, suprindo a omissão histórica do Poder Público”, destacou, afirmando que o episódio expõe “despreparo operacional e perseguição institucional” contra quem atua na defesa da coletividade animal.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra Maus-Tratos e a Comissão de Proteção e Bem-Estar Animal da Assembleia Legislativa, presidida pela deputada estadual Janete de Sá (PSB), também repudiou o que classificou como uma ação policial injustificada. O documento afirma que “é inadmissível que três mulheres, protetoras de animais, sejam presas por tentar salvar a vida de uma cadela em situação de vulnerabilidade e maus tratos, abandonada nas ruas, prenha, agonizando e em risco eminente de perder a vida”.

O texto ressalta que “essas mulheres são verdadeiras heroínas, que dedicam suas vidas ao bem-estar animal” e conclama as autoridades a reverem o caso. “Exigimos que as autoridades revejam esse caso e libertem imediatamente as protetoras. Não podemos permitir que a justiça seja usada para punir quem tenta salvar vidas. Vamos lutar para que o caso seja devidamente esclarecido, a justiça seja feita e atos de amor e compaixão pelos animais sejam reconhecidos e apoiados”, declarou a deputada estadual Janete de Sá (PSB), presidente da CPI e da Comissão.

Mais Lidas