Um estudo desenvolvido em Vitória pelo pesquisador Warley Teixeira Guimarães comprovou que o acúmulo de pó preto na superfície de painéis de energia solar faz com que o rendimento desse equipamento seja reduzido em 8%.
O estudo teve início no ano passado, após Guimarães voltar de um congresso na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em que o sombreamento sobre as placas foi considerado o pior inimigo do bom funcionamento do sistema. “Diante disso, pensei: se a sombra é um problema, imagine com aquela poeira que tem lá em Vitória?”, especulou o professor. Na época, somente dois estudos no mundo tinham sido feitos sobre o tema, nas cidades de Teerã (Irã) e Hong Kong (China).
Desde então, o Núcleo de Aplicações Tecnológicas, projeto de extensão das Faculdades Integradas São Pedro (Faesa), se dedicou aos estudos da influência que o pó preto teria na captação da energia solar. A pesquisa é desenvolvida por alunos de engenharia, orientados pelo professor Warley e pelos pesquisadores Maxuel Marcos Rocha Pereira e Lúcio Passos Patrocínio.
As placas usadas são as fotovoltaicas, que transformam luz solar em energia elétrica. Em Vitória, a placa mais usada é a térmica, que aquece água em tubos que passam pelo painel.
Os painéis foram instalados no campus da Avenida Vitória, a uma inclinação de 20º (o recomendável para a cidade, pois a orientação muda conforme a posição geográfica). Quatro desses painéis foram limpos todos os dias, por volta das 7 horas, com água e uma bucha, sem produtos químicos. Os demais continuaram expostos à poeira.
Durante 60 dias seguidos, incluindo finais de semana e feriados, a tensão e a corrente elétrica, que multiplicados revelam a potência dos equipamentos, foram medidas em cinco horários: às 9h, 10h30, 12h, 13h30 e 15h.
Da luz que incide nesse painel, 15% é transformada em energia elétrica. Entretanto, com a interferência do pó preto, em quatro desses horários o potencial foi reduzido em 8%, diminuição considerada significativa pelos pesquisadores. Apenas no horário das 13h30 esse prejuízo não foi observado.
Para ilustrar, o professor exemplificou que uma placa de 240W que, durante a exposição ao sol, poderia sustentar até quatro lâmpadas de 60W. Entretanto, com essa redução de 8%, uma dessas lâmpadas não funcionaria mais.
“O cidadão instala os painéis em sua casa e tem uma redução em sua conta de energia, já que passa a pagar somente as taxas e o consumo noturno. Depois de um tempo, ele observa que esse gasto aumenta, por conta da camada de pó preto que se forma. Assim, ele teria que instalar um painel a mais para suprir esse prejuízo que a poeira proporcionou”, explica Warley.
O professor aponta que a maresia presente em cidades litorâneas, como a capital capixaba, também é um fator que prejudica a captação da energia solar. “Faz com que a poeira grude na placa e seja necessário o atrito da bucha para limpar. Por isso, apenas um jato de água não adianta, a chuva não é capaz de limpá-lo sozinha”, aponta referendo-se ao uso da bucha na limpeza.
Se o cidadão quisesse armazenar a energia que capta, seria necessário comprar baterias para isso que, segundo o professor, ocupam muito espaço e têm altos custos. “Compensa mais vender a energia que se produz para a companhia elétrica (no caso, a EDP Escelsa), e nesse caso, em que a energia é transformada em dinheiro, causa um prejuízo financeiro ao portador das placas”, ressalta.
Depois de receberem uma homenagem pelo desenvolvimento de tal pesquisa na I Semana Estadual de Energia, os pesquisadores se preparam para apresentar dois artigos produzidos a partir do experimento no XLI Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia (Cobenge), em setembro deste ano, e no 8º Congresso Internacional de Bioenergia, em novembro.
A partir desse mês, outras duas pesquisas que dão continuidade ao experimento inicial serão desenvolvidas. Os estudos verificarão a periodicidade em que a placa deve ser limpa e a possibilidade da inclinação da placa ser maior do que 20º. “Sabe-se que a poeira é uma partícula esférica, que pode rolar conforme a inclinação do objeto, e isso pode interferir no resultado”, conclui.
Os pesquisadores também buscarão a confirmação para a não redução do potencial energético no horário das 13h30 e se esse dado será alterado caso o tempo de exposição à poeira seja ainda maior. “Queremos deixar uma herança boa à sociedade com esse experimento, algo que contribua para ações e mudanças futuras”, conclui Warley.
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