Sexta, 17 Mai 2024

Pó Preto reduz eficiência de placas solares em Vitória

Pó Preto reduz eficiência de placas solares em Vitória

Um estudo desenvolvido em Vitória pelo pesquisador Warley Teixeira Guimarães comprovou que o acúmulo de pó preto na superfície de painéis de energia solar faz com que o rendimento desse equipamento seja reduzido em 8%. 

 

O estudo teve início no ano passado, após Guimarães voltar de um congresso na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em que o sombreamento sobre as placas foi considerado o pior inimigo do bom funcionamento do sistema. “Diante disso, pensei: se a sombra é um problema, imagine com aquela poeira que tem lá em Vitória?”, especulou o professor. Na época, somente dois estudos no mundo tinham sido feitos sobre o tema, nas cidades de Teerã (Irã) e Hong Kong (China).

 
Desde então, o Núcleo de Aplicações Tecnológicas, projeto de extensão das Faculdades Integradas São Pedro (Faesa), se dedicou aos estudos da influência que o pó preto teria na captação da energia solar. A pesquisa é desenvolvida por alunos de engenharia, orientados pelo professor Warley e pelos pesquisadores Maxuel Marcos Rocha Pereira e Lúcio Passos Patrocínio.
 
As placas usadas são as fotovoltaicas, que transformam luz solar em energia elétrica. Em Vitória, a placa mais usada é a térmica, que aquece água em tubos que passam pelo painel.
 
Os painéis foram instalados no campus da Avenida Vitória, a uma inclinação de 20º (o recomendável para a cidade, pois a orientação muda conforme a posição geográfica). Quatro desses painéis foram limpos todos os dias, por volta das 7 horas, com água e uma bucha, sem produtos químicos. Os demais continuaram expostos à poeira.
 
Durante 60 dias seguidos, incluindo finais de semana e feriados, a tensão e a corrente elétrica, que multiplicados revelam a potência dos equipamentos, foram medidas em cinco horários: às 9h, 10h30, 12h, 13h30 e 15h.
 
Da luz que incide nesse painel, 15% é transformada em energia elétrica. Entretanto, com a interferência do pó preto, em quatro desses horários o potencial foi reduzido em 8%, diminuição considerada significativa pelos pesquisadores. Apenas no horário das 13h30 esse prejuízo não foi observado.
 
Para ilustrar, o professor exemplificou que uma placa de 240W que, durante a exposição ao sol, poderia sustentar até quatro lâmpadas de 60W. Entretanto, com essa redução de 8%, uma dessas lâmpadas não funcionaria mais.
 
“O cidadão instala os painéis em sua casa e tem uma redução em sua conta de energia, já que passa a pagar somente as taxas e o consumo noturno. Depois de um tempo, ele observa que esse gasto aumenta, por conta da camada de pó preto que se forma. Assim, ele teria que instalar um painel a mais para suprir esse prejuízo que a poeira proporcionou”, explica Warley.
 
O professor aponta que a maresia presente em cidades litorâneas, como a capital capixaba, também é um fator que prejudica a captação da energia solar. “Faz com que a poeira grude na placa e seja necessário o atrito da bucha para limpar. Por isso, apenas um jato de água não adianta, a chuva não é capaz de limpá-lo sozinha”, aponta referendo-se ao uso da bucha na limpeza.
 
Se o cidadão quisesse armazenar a energia que capta, seria necessário comprar baterias para isso que, segundo o professor, ocupam muito espaço e têm altos custos. “Compensa mais vender a energia que se produz para a companhia elétrica (no caso, a EDP Escelsa), e nesse caso, em que a energia é transformada em dinheiro, causa um prejuízo financeiro ao portador das placas”, ressalta.
 
Depois de receberem uma homenagem pelo desenvolvimento de tal pesquisa na I Semana Estadual de Energia, os pesquisadores se preparam para apresentar dois artigos produzidos a partir do experimento no XLI Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia (Cobenge), em setembro deste ano, e no 8º Congresso Internacional de Bioenergia, em novembro.
 
A partir desse mês, outras duas pesquisas que dão continuidade ao experimento inicial serão desenvolvidas. Os estudos verificarão a periodicidade em que a placa deve ser limpa e a possibilidade da inclinação da placa ser maior do que 20º. “Sabe-se que a poeira é uma partícula esférica, que pode rolar conforme a inclinação do objeto, e isso pode interferir no resultado”, conclui.
 
Os pesquisadores também buscarão a confirmação para a não redução do potencial energético no horário das 13h30 e se esse dado será alterado caso o tempo de exposição à poeira seja ainda maior. “Queremos deixar uma herança boa à sociedade com esse experimento, algo que contribua para ações e mudanças futuras”, conclui Warley.

Veja mais notícias sobre Meio Ambiente.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Sexta, 17 Mai 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/