Segunda, 06 Mai 2024

Problemas ambientais capixabas também encontram reflexos no IPCC

Segundo as previsões do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), o aumento do nível dos mares e da intensidade de eventos extremos, como secas e tempestades em todo o mundo, devem ser consequências das mudanças climáticas sofridas pelo planeta. 
 
O governo federal possui um Plano Nacional de Mudanças Climáticas, de 2008. Agora, há a versão preliminar de um novo documento, aliado ao Plano Setorial de Saúde para Mitigação e Adaptação para a Mudança do Clima, que está em consulta pública na internet. Apesar disso, mudanças efetivas - como a represália às fontes poluidoras -, apesar de todos os alertas, ainda não foram tomadas em âmbito federal para coibir a poluição. A maioria delas, sob acusações de racismo ambiental, usa o território brasileiro como forma de gerar o seu produto com regras ambientais mais brandas, que existem em países considerados de "primeiro mundo" em versões muito mais severas.
 
O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) é um órgão internacional para a avaliação das mudanças climáticas, um corpo científico dentro da Organização das Nações Unidas (ONU). Foi estabelecido em 1988 pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
 
O relatório do IPCC deste ano confirmou, com mais de 95% de certeza, que o homem é o culpado pelo aumento da temperatura na Terra, reiterando as afirmações feitas em 2007, no relatório anterior. Só para se ter ideia, a constante que mede o conjunto das interferências humanas no clima cresceu 43% entre 2005 e 2011, anos-base usados para os estudos de 2007 e 2013, respectivamente. A elevação do nível do mar desde 1901, que era de 17 centímetros em 2007, cresceu dois centímetros, totalizando 19. Em 2007, a perda do gelo do Ártico por década era de 2,7% e, em 2013, esse percentual cresceu para entre 3% a 4,1%. O aumento da temperatura, de 1850 a 2005, era de 0,76ºC, enquanto de 1880 a 2011, foi de 0,85ºC. O IPCC também divulgou que a concentração de dióxido de carbono (CO²) na atmosfera é a maior em, pelo menos, 800 mil anos. O Brasil é o 12º país em emissões desse gás, segundo cálculos do Instituto de Energia Renovável da Alemanha (IWR).  
 
 
Grande Vitória
 
Na região da Grande Vitória, a siderúrgica ArcelorMittal lidera as emissões de CO². Dados do próprio IPCC estimam que, em 2014, a Arcelor emitirá no ar da região, sozinha, 19 milhões de toneladas de CO², com o aumento de sua produção de 5,6 milhões de toneladas/ano para 9,5 milhões.  Atualmente, as emissões são de 11,2 milhões de toneladas de CO². 
 
Somam-se a esse gás outros 58 tipos de gases lançados na atmosfera da Grande Vitória, sobretudo pelas companhias que atuam na Ponta de Tubarão, sendo 28 altamente nocivos, causas de doenças imunológicas, alérgicas, respiratórias e genéticas – sem contar as emissões de material particulado (o chamado pó preto). O óxido de Enxofre (SOx), responsável por causar a chuva ácida, já foi constatado nas proximidades da Arcelor, com a ocorrência desse fenômeno. A siderúrgica tinha obrigação legal de implantar uma unidade de dessulfuração para suas usinas desde 1983, o que não fez até hoje por economia financeira. 
 
Outro grande problema conhecido pelos moradores da região é o “famoso” pó preto, partículas de carvão e pó de minério que são levadas pelo vento dos pátios das empresas da ponta de Tubarão – Vale e Arcelor. A Vale, aliás, aumentará sua produção em 45%, para um total de 39,3 milhões de toneladas/ano, com o funcionamento de sua 8ª usina – grande objeto de enfrentamento dos militantes ambientalistas da região.
 
Sozinhas, e sem a expansão de suas atividades, a Vale e a Arcelor já são responsáveis por 50% da poluição do ar na Grande Vitória, segundo dados do Instituto de Física Aplicada da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).  As emissões de poluentes da dupla chegavam à marca de 264 toneladas/dia de poluentes, um total de 96.360 toneladas/ano.
 
Outra grande emissora do gás carbônico será a Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), pertencente à Vale, que com uma produção de 5 milhões de toneladas de pelotas de ferro, emitirá 10 milhões de toneladas de gás carbônico por ano em uma região que já sofre com a expansão urbana desenfreada, a poluição da água com metais pesados e a captura desenfreada da água do Rio Benevente, causados pela Samarco (que tem 50% de ações da Vale). A usina da Aracruz Celulose (Fibria) e as usinas de álcool do norte do Estado também são uma considerável fonte de poluentes, sem contar as queimadas que promovem nas lavouras de cana para facilitar a colheita.
 
 
Saúde
 
A inalação desses gases, tóxicos à saúde humana, e da poeira sedimentada podem causar alergias respiratórias, doenças crônicas e vários tipos de câncer. Ao transtorno gerado pela poluição atmosférica - velha conhecida dos cidadãos capixabas, sobretudo dos que residem na Grande Vitória - somam-se os males cardiovasculares e respiratórios que poderão ser agravados pelas alterações climáticas.
 
Em 2011, o próprio Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) admitiu que a poluição do ar na Grande Vitória está acima do limite estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), com base nos dados do inventário de fontes de 2009/2010. Na época, as emissões de partículas eram de 2.749 quilos por hora, e as de dióxido de enxofre eram de 3.358 quilos por hora - um número que não para de crescer.
 
Só no Estado, os gastos com internações no Sistema Único de Saúde (SUS) por doenças respiratórias somaram a exorbitante quantia de R$ 21,18 milhões. Entre os atendimentos de cifras mais expressivas, estão aqueles em decorrência de insuficiência respiratória, da asma e de outras doenças pulmonares obstrutivas crônicas - que podem ser causadas pela exposição excessiva e contínua à poeira e à poluição, além de exposição e hábito do tabagismo. A asma alérgica também é destaque entre os atendimentos ambulatoriais por doenças respiratórias. De um total de 1.206.868, mais de 1,132 milhões são por conta da asma, com custo de R$ 3.502,23, de um total de R$ 342.428,94.
 
Os dados foram apresentados pelo deputado estadual Hércules Silveira (PMDB) na primeira audiência pública sobre o pó preto, no mês passado. Curiosamente, na mesma audiência, eram constantes os relatos de doenças respiratórias, sobretudo a asma e a rinite alérgica, além do incômodo causado pela poluição e a irritabilidade gerada pelo pó preto, relatados por representantes da sociedade civil organizada.
 
Na ocasião, o deputado, que também é médico, considerou que o MP pode pedir uma perícia das internações e procedimentos para saber quais quadros foram provocados ou agravados pela poluição do ar, não somente por partículas sólidas (pó preto), mas também pelos gases poluentes. Segundo Hércules, até mesmo casos de câncer podem ter como origem a poluição. Hércules já encaminhou ofício à promotoria de Meio Ambiente do Ministério Público Estadual (MPES), de onde não obteve resposta, e, posteriormente, ao Procurador Geral de Justiça do MPES, Éder Pontes, para que o poder público “possa dar uma resposta satisfatória à sociedade capixaba”.

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