Sexta, 10 Mai 2024

Produção orgânica impede êxodo rural dos jovens camponeses

Produção orgânica impede êxodo rural dos jovens camponeses
A produção orgânica impede o êxodo rural dos jovens camponeses em direção às cidades em busca de oportunidades de trabalho e de novos horizontes no campo da educação. Mais ainda: promove o retorno dos que migraram às suas origens. A afirmação é do produtor orgânico Deolindo Butescke, de Santa Maria de Jetibá, região serrana do Estado.
 
Já a presidente da Associação Amparo Familiar, Selene Hammer Tesch, tem um sonho: um mundo sem agrotóxicos, e portanto, sem doenças, em 50 anos. A associação é sediada em Santa Maria, um dos municípios pioneiros na agricultura orgânica no Espírito Santo.
 
A agricultura orgânica é um setor que não conta com apoio efetivo do Estado, tanto na área do governo federal quanto do estadual. Nesta Semana Nacional de Alimentos Orgânicos, que vai até domingo (31), o governo federal não colocou um centavo à disposição dos agricultores para difusão dos alimentos produzidos sem veneno. Tampouco o governo do Estado ajudou os produtores.
 
Não é por isto que os produtores ficaram parados. Cada um, como pode, divulgou a agricultura orgânica. Deolindo, por exemplo, distribuiu cartilhas sobre o tema na feira de Santa Maria de Jetibá, nesta sexta-feira (29). Escassos exemplares, cerca  de 20, mas que estão nas mãos dos consumidores.
 
Os passos seguem. No próximo domingo, às 8 horas, os membros da organização a qual pertence Deolindo, a Associação Santamariense em Defesa da Vida (APSAD-Vida), fará assembleia, em São Sebastião do Meio, no município. Será discutida a construção de uma nova sede, que querem nas proximidades da estrada que liga a sede de Santa Maria a Garrafão. 
 
Visa facilitar os contatos dos membros, hoje 22 filiados. Vão discutir novas filiações, que poderão dobrar o número de membros e, entre outros temas, o mercado  para os produtos orgânicos. A Apsad-Vida foi fundada em 21 de maio de 1989.
 
O que mudou de lá para cá? Deolindo diz que houve uma grande evolução. “A gente era chamado de louco. Diziam que não podia existir produção de alimentos sem venenos. Mostramos o contrário, e muitos se convenceram e se juntaram a nós”.
 
O agricultor destaca que a venda de alimentos orgânicos não para de crescer. Assinala que a quase totalidade dos agricultores orgânicos vende seus produtos diretamente aos consumidores. Baniram a figura do atravessador, que encarece o produto na comercialização.
 
Com a venda direta ao consumidor, iniciada em 2000, os preços dos alimentos orgânicos são competitivos com os de produção convencional, com agrotóxicos. “O vilão dos preços elevados dos produtos orgânicos é o supermercado.  Competimos em condições de igualdade nas feiras”, afirma Deolindo.
 
Esta semana, por exemplo, o morango vendido nas feiras orgânicas estava custando R$ 3,50, a caixa. O preço do morango comum era de R$ 4,00. O tomatinho orgânico estava a R$ 6,00 o quilo, preço menor do que o tomatinho convencional, cita o agricultor.
 
A qualidade de vida do produtor orgânico, em que pese o intenso trabalho gasto na produção, tem resultado num fenômeno interessante, como relata o agricultor. Os jovens que saíram  do campo para trabalhar e estudar fora, estão voltando. Aplicam novos conhecimentos, e valorizam a produção.
 
Mais ainda: os que não deixaram o campo em direção à cidade não têm mais interesse em deixar o campo. No segmento orgânico, está contido o êxodo rural, assegura Deolindo.
 
Há trabalho e renda. Pequena, mas segura. No mínimo R$ 1.000,00, mensais e há quem ganhe bem mais. A jornada é pesada, todos os dias, sem direitos trabalhistas como férias e décimo terceiro salário. Mas também não  há patrão, uma  vez que muitos trabalham nas propriedades familiares, no espaço próprio.
 
Selene Hammer Tesch é a presidente da Associação Amparo Familiar, que reúne 81 associados. Contou que a organização foi criada em 24 de maio de 2001, com 42 membros, dos quais apenas a sua família produzia sem uso de venenos.
 
A família solitária foi plantando sementes. E convencendo as outras famílias da necessidade de produzir sem agrotóxicos, para o bem da própria saúde, dos consumidores e da terra. Venceu: em 2009, a  Amparo Familiar muda seu estatuto e todos os seus membros já tinham passado a produtores orgânicos.
 
A sede da Amparo Familiar é no sítio Pisoler, em Alto Santa Maria. A presidente diz que atualmente não é muito fácil promover reuniões, considerado a pouca disponibilidade de tempo, pois só sobra os domingos. 
 
Ainda assim, os agricultores orgânicos buscam novas tecnologias, como processar alimentos para agregar valor. Mas ainda lutam contra o preconceito. Selene  Hammer diz que apesar de todo o trabalho de conscientização, alguns produtores que usam venenos ainda dizem que os orgânicos fazem pulverizações escondidas, à noite. Os orgânicos seguem, lutando contra o preconceito. 
 
E hoje, no Espírito Santo, já são 320 famílias que produzem os alimentos que vendem sem nenhum tipo de agrotóxicos, com certificação de suas propriedades. Segundo Selene Hammer, cerca de 300 outros agricultores estão certificando suas terras como orgânicas.
 
Isto sem contar os produtores ligados ao Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), que têm como doutrina a produção agroecológica, para preservar a terra, e a saúde dos agricultores e também dos consumidores.
 
A destruição produzida pelos agrotóxicos não tem tamanho. Empresas transnacionais, como a Monsanto, lucram bilhões de dólares em todo o mundo, destruindo a  terra e as pessoas. Tornaram o Brasil o paraíso dos venenos agrícolas, e o Espírito Santo, um dos lideres no seu uso (é campeão no uso dos herbicidas).
 
Mas os produtores orgânicos seguem sua luta. E muitos  tem sonhos. O de Selene Hammer Tesch é que em 50 anos não se use mais agrotóxicos. Com o ambiente saudável, garante, haverá saúde para a humanidade.
 
Como sua contribuição, o  lema da Amparo Familiar, que preside, é:  “Plantar sem matar, e comer sem morrer”.
 
Feira de produtos orgânicos na Grande Vitória
 
Vitória
 
Feira de Produtos Orgânicos de Barro Vermelho
Endereço: Rua Arlindo Brás do Nascimento, atrás da Emescam
Horário de Funcionamento: sábado – das 06 horas às 12 horas
 
Feira de Produtos Orgânicos da Praça do Papa
Endereço: Estacionamento da Praça do Papa – Enseada do Suá
Horário de Funcionamento: quarta-feira – das 15 horas às 20h30
 
Feira de Produtos Orgânicos de Jardim Camburi
Endereço: Av. Isaac Lopes Rubim – próximo à Faculdade Estácio de Sá 
Horário de Funcionamento: sábado – das 06 horas às 12 horas
 
Cariacica
 
Feira Agroecológica de Cariacica
Endereço: Praça John Kennedy (Praça do Parque Infantil) – Campo Grande
Horário de Funcionamento: sábado – das 06 horas às 12 horas
 
Vila Velha
 
Feira de Produtos Orgânicos da Praia da Costa
Endereço: Entre as ruas XV de Novembro e Henrique Moscoso, em baixo da Terceira Ponte
Horário de Funcionamento: sábado – das 06 horas às 13 horas
 
Serra
 
Feira de Produtos Orgânica de Serra Sede
Endereço: Praça de Encontro
Horário de Funcionamento: terça-feira – das 15 horas às 21 horas
 
Feira de Produtos Orgânicos de Valparaíso
Endereço: Estacionamento do antigo Serra Bela Clube – Valparaíso (ao lado da biblioteca pública municipal)
Horário de Funcionamento: terça-feira – das 15 horas às 21 horas
 
Feira de Produtos Orgânicos de Colina de Laranjeiras
Endereço: Praça Central de Colina de Laranjeiras
Horário de Funcionamento: quinta-feira – das 16 horas às 20 horas

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