Sexta, 26 Abril 2024

Repactuação deve garantir vida digna aos atingidos, diz conselheiro do CNJ

Luiz_Fernando_Bandeira_deMello_cnj_colatina_LuizSilveira_agenciaCNJ Luiz Silveira/Ag.CNJ
Como devem ser geridos os recursos que serão pagos pela Samarco, Vale e BHP Billiton, após o processo de repactuação conduzido há um ano pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ)? Quais ações e obras devem ser financiadas com a verba destinada a reparar e compensar os danos ambientais e socioeconômicos provocados pelo rompimento de Fundão, em 2015? O que já se sabe é que uma parte irá para o caixa da União, uma outra será dividida entre os governos do Espírito Santo e Minas Gerais. 

Qual vai ser a participação direta dos atingidos na definição da forma de aplicação dos recursos? Para conhecer as principais demandas das comunidades atingidas, o conselheiro Luiz Fernando Bandeira de Mello visitou áreas impactadas pela lama de rejeitos ao longo do leito e da Foz do Rio Doce e também na Terra Indígena Comboios, em Aracruz, norte do Estado, durante a última semana de abril.
Luiz Silveira/CNJ

Ele representa o CNJ no esforço de repactuação, que envolve também os governos, as empresas responsáveis pelo crime e os órgãos de Justiça que representam os atingidos, os Ministérios e Defensorias Públicas da União e do Estados. 

"A cada enchente que acontece, as comunidades sofrem novos prejuízos, e é importante que essa repactuação traga novo alento, permita que as pessoas virem a página para iniciar um novo capítulo em suas vidas. A degradação do rio está dada. O que temos de fazer agora é achar uma forma de conviver com isso e que as pessoas tenham uma forma de vida digna".

Durante os dias de visita ao Estado, Luiz Bandeira ouviu diversos relatos "emocionantes", segundo apontou, e pôde ver de perto a condição da água, do rio e do solo impactado.

Luiz Silveira/CNJ

Do presidente da Associação de Pescadores de Regência, Leoni Carlos, a comitiva do CNJ e órgãos de Justiça ouviiram que a entidade tinha um convênio com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que comprava a produção dos pescadores e a distribuía a entidades assistenciais da região para abastecer a merenda escolar das escolas locais.

"Depois que a lama veio, acabou tudo. É a maior decepção da minha vida. Criei meus nove filhos pescando – rio e mar – e o que eu posso dar a eles é o estudo. Hoje eu não tenho o [benefício do] meu cartão, cortaram meu lucro cessante [compensação pela média da produção anual]. O barco estragou", afirmou Carlos. Com a embarcação abandonada, o casco de madeira foi consumido por um molusco do mangue chamado busano.

Na Terra Indígena Comboios, a médica que atende o posto de saúde, Aline Miranda, confirmou inúmeros casos de doenças de pele e de diarreia na comunidade, que não é banhada diretamente pelo Rio Doce, mas sofre influência dos 44,5 milhões de metros cúbicos de rejeitos vazados desde a Barragem de Fundão. Segundo ela, mesmo com as crianças proibidas de nadar no rio, uma de suas pacientes começou a sofrer com problemas de pele. O tratamento que melhorou o quadro foi parar de tomar banho com a água do poço artesiano, como sempre fazia, e passar a usar água mineral.

"As pessoas não tomam água direto do rio, mas de poço artesiano. Então acredito que o poço tenha alguma contaminação. Não tenho os números à disposição, mas os índices de diarreia diminuíram bastante e as crianças tomando banho com água mineral se curaram ou melhoraram muito da alergia", afirmou a médica.

Participantes

Conforme resume o próprio CNJ, seu envolvimento começou "depois do esgotamento e da insuficiência das soluções elaboradas até então para reparar natureza e vida humana do desastre".

Na primeira rodada da repactuação, em setembro de 2021, foram avaliadas as propostas apresentadas pelo atingidos durante a primeira audiência pública realizada pelo CNJ, além de ações de reparação e o aprimoramento dos programas de proteção social. Nos encontros realizados desde então, foram tratadas questões ligadas ao reflorestamento, à proteção social aos vulneráveis, à execução dos programas de reparação da região atingida, à possibilidade de reabertura da repactuação integral, aos reassentamentos da população atingida e à compensação da comunidade e meio ambiente afetadas pelo crime.

Na última terça-feira (3), o conselheiro foi convidado para uma reunião para apresentação dos projetos que os governos de Minas Gerais e do Espírito Santo vão submeter à seleção de propostas a serem financiadas pelo acordo da repactuação.

Luiz Silveira/CNJ

 BR-262

Sobre os planos de cada governo, uma das polêmicas se situa em torno da BR-262. Tanto o governo federal quanto a gestão de Renato Casagrande (PSB) já declaram interesse em usar a verba da repactuação em obras na estrada. Um dia após o esperado encontro do conselheiro do CNJ com os governos, a intenção foi novamente declarada, desta vez pelo ministro de Infraestrutura, Marcelo Sampaio, que afirmou intenção de aplicar R$ 3 bilhões na rodovia federal. 

"Nossa posição é contrária ao uso desse recurso da reparação em obras de infraestrutura que estão fora da região atingida. Na verdade, somos contra a aplicação desses recursos sem diálogo com os atingidos", afirma Heider Boza, da direção estadual do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), uma das organizações a defender os direitos dos atingidos pelo crime. 

"Nossa pauta demanda do governo a aprovação da Peab [Política Estadual de Direitos das Populações Atingidas por Barragens] e a criação do fundo social. Essas duas ações implicam em garantia de participação social para a construção das políticas públicas da reparação. Não somos contra duplicar a rodovia, nem contra obras de infraestrutura. As comunidades atingidas possuem grandes demandas de infraestrutura, mas o recurso da repactuação tem que ter como objetivo final a reparação das áreas atingidas, e a participação social nesse caso é obrigação do governo estadual", reforçou.

Luiz Silveira/CNJ

Representante da Comissão de Atingidos de Regência e Entre Rios e de grupos produtivos de Regência dentro do Conselho da Foz do Rio Doce, Luciana Souza de Oliveira defende posição semelhante. "Vejo na repactuação a possibilidade de se pagar uma dívida social, ambiental, cultural e econômica, de seus anos, com todos os atingidos da Calha do Doce. Afinal, estamos sendo 'marginalizados', esquecidos, inelegíveis durante todo este tempo. Então, colocar o atingido reconhecendo seus direitos mais básicos e entender que a nossa participação é fundamental e direito nosso neste processo de repactuação, é minimamente um começo para iniciarmos juntos a virar essa página tão sofrida para todos que dependiam, dependem e precisarção do Rio Doce para contar sua história!"

As demandas prioritárias, elencou, são bem conhecidas e devidamente ressaltadas para o CNJ: "os atingidos devem ter seus direitos a indenizações, AFE [Auxílio Financeiro Emergencial], lucro cessante, segurança hídrica e alimentar, assessoria técnica concretizados, bem como o direito à saúde e práticas de recuperação do Doce asseguradas. E ninguém é melhor para garantir isso do que a representatividade dos atingidos".

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Comentários: 2

Sebastião Miranda Da Silva em Terça, 05 Julho 2022 17:31

Fiz meu cadastro pelo 0800 da fundação Renova para Renova como pescador informal em 27 de Dezembro de 2021 e tbm declarei que fui prejudicado pela falta de água, esperei e essa semana soube que alem de ser negado a indenização pelo desabastecimento de água por ter recebido mil reais em 2017 por que estava passando por muitas dificuldades, mais não fui informado que aceitando mil reais eu estaria concordando com a quitação total de danos, não acho justo a falta de informação pois deixa a suspeita de foi um jeito covarde para aproveitar o da situação ruim de quem não tinha mais recursos para pescar no Rio Doce que era antes limpo e que nos permitia não somente levar alguns peixes para casa mais tbm tínhamos peixes de boa qualidade para vender e várias pessoas que já tinham como costume nos encomendar com antecedência, e quem acabou com a água e ós peixes do Rio Doce não fomos nós pescadores que sempre tirávamos do rio o sustento de nossas famílias e condições para pagar nossas contas, mais como se não bastasse tbm me negaram o direito de ser indenizado como pescador informal, não se sabe quais critérios são usados para terem certeza de que um atingido que se humilha e espera por horas em uma ligação para cadastrar na fundação Renova e esse atingido tem que responder á várias perguntas, e passar por situações de humilhante pois querem quase exigir que á pessoa prove por telefone ou outros meios que está faltando verdade mais apartir daí agente é abandonado, não tem notícias se foi ou não aprovado e agente fica por vários meses esperando um telefonema de alguém que segundo dizem vai ligar pra completar o cadastro e nada,
Estou trabalhando de servente de pedreiro sem ter carteira assinada, recebo 300 reais por semana e antes de matarem o Rio e contaminaram ós peixes eu e muitos outros pescadores conseguíamos tirar do rio nosso sustento e ainda sobrava para ter sempre o nome limpo e esse modo aprovação não condiz com o que pregam ao exigir provas de pescadores informais e pra bem da verdade muitas vezes fica mais fácil inderir e que se dane o atingido.

Fiz meu cadastro pelo 0800 da fundação Renova para Renova como pescador informal em 27 de Dezembro de 2021 e tbm declarei que fui prejudicado pela falta de água, esperei e essa semana soube que alem de ser negado a indenização pelo desabastecimento de água por ter recebido mil reais em 2017 por que estava passando por muitas dificuldades, mais não fui informado que aceitando mil reais eu estaria concordando com a quitação total de danos, não acho justo a falta de informação pois deixa a suspeita de foi um jeito covarde para aproveitar o da situação ruim de quem não tinha mais recursos para pescar no Rio Doce que era antes limpo e que nos permitia não somente levar alguns peixes para casa mais tbm tínhamos peixes de boa qualidade para vender e várias pessoas que já tinham como costume nos encomendar com antecedência, e quem acabou com a água e ós peixes do Rio Doce não fomos nós pescadores que sempre tirávamos do rio o sustento de nossas famílias e condições para pagar nossas contas, mais como se não bastasse tbm me negaram o direito de ser indenizado como pescador informal, não se sabe quais critérios são usados para terem certeza de que um atingido que se humilha e espera por horas em uma ligação para cadastrar na fundação Renova e esse atingido tem que responder á várias perguntas, e passar por situações de humilhante pois querem quase exigir que á pessoa prove por telefone ou outros meios que está faltando verdade mais apartir daí agente é abandonado, não tem notícias se foi ou não aprovado e agente fica por vários meses esperando um telefonema de alguém que segundo dizem vai ligar pra completar o cadastro e nada, Estou trabalhando de servente de pedreiro sem ter carteira assinada, recebo 300 reais por semana e antes de matarem o Rio e contaminaram ós peixes eu e muitos outros pescadores conseguíamos tirar do rio nosso sustento e ainda sobrava para ter sempre o nome limpo e esse modo aprovação não condiz com o que pregam ao exigir provas de pescadores informais e pra bem da verdade muitas vezes fica mais fácil inderir e que se dane o atingido.
Sebastião Miranda Da Silva em Terça, 05 Julho 2022 17:36

Não sei mais o que fazer pois, contava por direito que iria ser indenizado, estou passando por muitas dificuldades e me foi tirado a única esperança de poder voltar a ter meu nome limpo como sempre tive, Peço a Deus que a nova lei de repactuacao seja a solução e que possa fazer com que nossos direitos de pescadores informais sejam respeitados pela renova e pela décima segunda Vara Federal de BH.

Não sei mais o que fazer pois, contava por direito que iria ser indenizado, estou passando por muitas dificuldades e me foi tirado a única esperança de poder voltar a ter meu nome limpo como sempre tive, Peço a Deus que a nova lei de repactuacao seja a solução e que possa fazer com que nossos direitos de pescadores informais sejam respeitados pela renova e pela décima segunda Vara Federal de BH.
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