Domingo, 28 Abril 2024

Reserva da Vale avaliada em US$ 1 bi era de posse do Governo do Estado

Reserva da Vale avaliada em US$ 1 bi era de posse do Governo do Estado
Estudo divulgado pelo Valor Econômico nessa segunda-feira (18) sobre a valoração de ativos e recursos ambientais, desenvolvido na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ),apontou que a Reserva da Vale, em Linhares, norte do Estado, tem um valor de US$ 1 bilhão, o equivalente a R$ 2,27 bilhões. A quantia biolinária se refere a uma área antes de propriedade do governo do Estado, entregue à mineradora na década de 70, durante o governo militar de Christiano Dias Lopes. Em troca, o governo recebeu o terreno onde está atualmente Escola Estadual de Ensino Médio Professor Fernando Duarte Rabelo, localizada nas proximidades da Praça do Cauê, em Vitória.
 
Com a troca, a biodiversidade “estimada” em US$ 1 bilhão e com outros valores reais avaliados, foi completamente entregue à mineradora, que mais tarde a usaria como forma de compensação para os danos ambientais que causa no Estado, principalmente a poluição do ar. A troca sequer se referia ao ganho de uma escola, que nem existia na época, mas somente à área em que esta foi construída posteriormente.
 
É importante alertar para a forma como esse valor bilionário foi calculado: uma pesquisa nos estados de Belém, Recife, Porto Alegre e São Paulo – no Espírito Santo, não – detectou a intenção da população de desembolsar determinada quantia para a preservação de um pedaço da Mata Atlântica, sem conhecê-lo ou saber quem era seu dono. Segundo o Valor, cada brasileiro das cidades citadas acima estariam dispostos a desembolsar R$ 15 por ano. Dessa forma, a conclusão de Ronaldo Seroa da Motta, coordenador do estudo no Brasil, foi de que, se cada brasileiro pagasse R$ 15 por ano durante cem anos, o valor seria de US$ 1 bilhão.
 
Ou seja, o valor não é uma quantificação das próprias características da reserva, mas sim um valor medido por brasileiros de grandes cidades, que toparam doar tal quantia para uma reserva que sequer conheciam. Dessa forma, foi identificado o “valor de não uso” do remanescente ou “valor de existência. A reportagem do Valor Econômico afirma que “trata-se de avaliar o benefício econômico de um recurso ambiental por si, mesmo sem conhecê-lo pessoalmente”.
 
Além disso, foram avaliados os “serviços” prestados pela reserva, como o estoque de carbono, o fornecimento de água e a polinização. Segundo o estudo, o estoque de carbono vale cerca de US$ 47 milhões; o fornecimento de água US$ 8,3 milhões; a regulação do ar US$ 886 mil; a regulação do solo em US$ 511 mil; e a polinização US$ 126 mil.
 
Na reportagem do Valor Econômico, afirma-se ainda que a presença de ao menos nove onças pintadas na área “indica alto nível de preservação do ambiente”. Entretanto, desconsiderou-se o fato de que esses animais também podem circulas pela Rebio de Sooretama, que faz divisa com a área da mineradora e é quase cinco hectares maior do que a reserva privada. Além disso, Luiz Felipe Campos, gerente de biodiversidade e florestas da Vale, avaliou que a polinização das lavouras de maracujá da região teriam que ser feitas manualmente se os próprios animais da reserva não o fizessem. Entretanto, em nenhum momento foi lembrado que a maioria dessas lavouras faz uso de agrotóxicos, e não foi avaliado qual seria o impacto de tal veneno na região de rica biodiversidade, ou o próprio mal que estes fariam aos animais que tem contato direto com as plantas envenenadas.

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