Sexta, 26 Abril 2024

Vale consome água da reserva social da Grande Vitória: de 7 poços em 2007, passou a 87 em 2015

Toda a água dos aquíferos da Grande Vitória, que é reserva social, pode acabar. A Vale, que tinha sete poços em 2007, passou a 87 em 2015. Os poços artesianos são cada vez mais profundos: já estão a 200 metros. A empresa continua perfurando novos poços. Tem parceiro na destruição deste bem, que deve ser destinado como prioridade ao consumo da população: a ArcelorMittal.
 
A informação de que a Vale continua perfurando poços artesianos foi dada na CPI do Pó Preto, no depoimento desta semana. O funcionário afirmou que dois poços, com profundidade de 200 metros, foram abertos durante o pico da crise hídrica. A Vale consome ainda água do rio Santa Maria a Vitória, já tratada pela Cesan, que  fornece cerca de 30% da sua captação à Vale e à ArcelorMittal, a principal consumidora da água deste rio.
 
Em relação à água do aquífero, já em 2007 Século Diário denunciava a contaminação produzida pela Vale. E a empresa dizia que coletava amostra de água subterrânea em 11 áreas (com os sete poços), com potenciais para contaminação por atividades desenvolvidas no seu complexo, no Planalto de Carapina.
 
Um analista consultado em 2007 assinalava que "nos estudos de captação de água dos poços, a CVRD (hoje Vale) tem licença para a captação de 279.000 m3 por mês de água subterrânea, e o contrato CVRD - Geoplan é para 10 anos ou seja 120 meses". 
 
Fazia cálculos: "Podemos dizer que temos uma reserva de 33.480.000.000 m3 de água para os dez anos de contrato, no entanto, o aquífero é recarregável. Se dividirmos pelo valor de 200 litros por habitante dia, teremos capacidade de abastecer 46.500 pessoas por mês com a água do aquífero". 
 
Ele assinala que "o estudo demostra que este aquífero é recarregado toda vez que chove. Os dados estão no processo que tramitam no Iema [Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos] e outros que não constam do processo por negligência da Geoplan com anuência da CVRD". 
 
A contaminação "demonstra que o aquífero está sendo recarregado, mas o problema da contaminação é devido à falta de fiscalização por parte dos órgãos ambientais e pelo grande volume de águas salinas transportadas, armazenadas, manuseadas e descartadas após serem utilizadas na refrigeração de processo industrial", inclusive pela Bacia de decantação do efluente da CST". 
 
O químico informou que fez denúncias sobre a contaminação produzida pela CVRD e da suspeita sobre a CST ao Ministério Público Federal (MPF), ao Iema, ao Ministério Público Estadual (MPE), e às Secretarias Municipais de Meio Ambiente (Semma) da Serra e Semmam, de Vitória.
 
Em 2015, em resposta à ação civil pública nº 0006596-30.2006.4.02.5001, em curso na 4ª Vara Federal de Vitória, os advogados da empresa ainda tentam negar danos causados ao ambiente, inclusive o marinho, e à população, pela contaminação de seus poços artesianos.
 
Mas confessa no processo: "... especificamente, foram construídos 27 novos poços e dada a manutenção em 60 poços existentes. O plano de monitoramento engloba diversas ações que visam, ao final, atender plenamente à Resolução CONAMA 420/09, sendo diuturnamente informado às autoridades ambientais".
 
Atualmente a água é retirada do que é chamado aquífero freático ou raso, que está presente em toda a área do Complexo até 18 metros de profundidade, e recebe um aporte de águas pluviais. E pelo aquífero, denominado aquífero profundo, que localiza-se entre 30 - 200 metros, como informam os advogados da empresa.
 
Os advogados até admitem contaminação no aquífero raso, mas atribuem a atividades humanas. Esta contaminação foi identificada pelo próprio perito judicial. Na defesa da empresa afirmam: " ... No entanto, a última análise de risco a saúde humana realizada em 2014, na área da oficina de locomotivas, mostrou que os trabalhos de remediação realizados conseguiram a redução da contaminação a níveis que não causam mais risco a saúde humana, sendo então o processo de remediação paralisado".
 
Mas que "todo nosso suprimento de água subterrânea é proveniente de aquífero profundo, compreendendo dois níveis de aquíferos semiconfinados, que ficam respectivamente nos intervalos de 30 a 80 metros e de 100 a 200 metros de profundidade".

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