Quinta, 02 Mai 2024

A fragmentação do palanque de unanimidade de 2010

A fragmentação do palanque de unanimidade de 2010
Renata Oliveira e Nerter Samora 
 
Os três principais nomes na disputa ao governo do Estado no próximo ano, estiveram juntos em 2010, mas a união deixava de lado o senador Magno Malta (PR), o que lhe dá legitimidade para erguer o palanque de oposição.
 
Nerter – Na semana passada, o Papo de Repórter colocou uma foto na capa do jornal, em que figuravam no mesmo plano as lideranças que se apresentam para a disputa ao governo do Estado na eleição para o próximo ano. Registrei aquela imagem na sede do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) no dia 3 de outubro de 2010, dia da eleição. Mostrava o governador Renato Casagrande de braços dados com os senadores da chapa palaciana daquele momento: Ricardo Ferraço (PMDB) e Magno Malta (PR). Mas a felicidade momentânea escondia uma situação de mágoas e isolamentos que contribuiriam para o interesses ligados ao processo do próximo ano. 
 
Renata – É verdade. A começar pelo senador Ricardo Ferraço, não é? Na foto que ele imaginava, seu lugar seria o de governador do Estado e não de senador. Aliás, isso me remete a outra foto que você fez muito antes, em abril, para ser mais precisa, aquele abril. Lembra da foto? O então governador Paulo Hartung e o então vice-governador Ricardo Ferraço com uma cara de quem comeu e não gostou nem um pouco, contrastando com a felicidade contida do então senador Renato Casagrande. Na coletiva de imprensa feita às pressas para tentar explicar aquilo que as redes sociais não paravam de comentar, os peemedebistas deixavam transparecer que não havia tido tempo suficiente para se recuperar do golpe sofrido pelas costuras nacionais entre PT, PMDB e PSB, que retirou a candidatura de Ciro Gomes a presidente em troca do apoio aos candidatos socialistas em seis estados. 

 
Nerter – Hartung, para não perder a imagem de controle dos movimentos políticos do Estado, assumiu o golpe e Ricardo ficou furioso. Nos bastidores, os comentários eram de que a mágoa do peemedebista foi grande e que foi preciso muita paciência para conter a fúria do pai dele, o deputado estadual Theodorico Ferraço (DEM). Hoje Ricardo Ferraço tenta construir novamente o arco de aliança que estabeleceu do final de 2008 até abril de 2010. Mas agora a situação é outra. Ele tem problemas para tirar os partidos do palanque de Casagrande. Sua atuação no caso Roger Molina pode ter lhe rendido capa de jornal e matéria no Fantástico, mas provocou a ira da presidente Dilma Rousseff. 
 
Renata – Ricardo precisa aparar muitas arestas para ser candidato ao governo, dentro do PMDB local, no campo nacional e com os aliados. Além disso, o cenário será de disputa e não uma situação desproporcional como em 2010. Naquela eleição não houve disputa. O palanque erguido por Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB) não conseguiu ir de encontro ao palanque palaciano, até porque também era fruto daquele grupo. Se for mesmo para a eleição do próximo ano, Ricardo Ferraço terá que disputar o cargo de governador e isso muda muita coisa. Ele está no Senado, não tem o mesmo assédio da mídia nacional que Renato Casagrande tinha quando estava na Casa, e seu eleitorado está na Grande Vitória, precisa conquistar o interior.
 
Nerter – A situação de Casagrande também será diferente da de 2010. Naquele momento, a candidatura socialista à Presidência da República era um blefe para ganhar apoio do PT. Desta vez o partido vai mesmo para a disputa, colocando em risco a aliança nos estados. Casagrande tenta conter o rompimento de uma represa, defendendo que o debate não deve ser antecipado para não prejudicar a governabilidade. Mas não consegue evitar que as lideranças que orbitam em seu palanque conversem, projete, articulem. No próximo ano, a disputa também será diferente. Se em 2010 foi Casagrande quem não fez campanha para Dilma no segundo turno, desta vez é ela quem vai escolher o palanque em que vai pisar na disputa do próximo ano. 
 
Renata – Além disso, ele não é um nome novo apresentando um projeto para o Estado. Ele é o alvo a ser batido. Isso muda tudo. Deixa de ser seta para ser vidraça. A ideia de unanimidade já era. O jeito agora é buscar um discurso que tenha força para contrapor os outros nomes no pleito. O bombardeio a seu governo já começou. A imagem que a "Central de Boatos" vem construindo do governador é de um gestor fraco e de um governo sem marca própria. Por isso, precisa mostrar resultados rápido. Dia desses alguém me perguntou se é mesmo necessário que Casagrande tenha uma grande obra em seu governo. Bom, a estratégia dele passa pelo fortalecimento dos prefeitos na injeção de recursos nos municípios, mas uma obra para chamar de sua seria muito importante. 
 
Nerter – Casagrande tem dois problemas para enfrentar: o discurso de comparação com o governo passado e o palanque de Magno Malta. No primeiro caso, não que Hartung tenha feito um governo de excelência. Ele conseguiu com a antecipação dos royalties do petróleo recursos para organizar as finanças, mas sua política desenvolvimentista deixou de lado políticas públicas que culminaram com graves problemas sociais. Para evitar cobranças, contou com uma imprensa amiga que fazia vista grossa para os problemas. Mas o grande problema de Casagrande será mesmo o palanque de oposição de Magno Malta. 
 
Renata – Com certeza. Em 2010 o senador estava no arranjo partidário de Casagrande, mas nunca fez parte do grupo. Naquela ocasião, com duas vagas em disputa, cada coligação podia ter até dois candidatos ao Senado. Malta pediu o segundo voto para Ricardo e ajudou o peemedebista a se eleger. Já Ricardo Ferraço fez dobradinha extraoficial com Rita Camata (PSDB), justamente porque o grupo pretendia deixar o republicano fora do Senado. Não conseguiu evitar a eleição de Malta e ainda ganhou a legitimação para a construção de um palanque oposicionista no Estado em 2014. 
 
Nerter – Na verdade Malta nunca fez parte do grupo de Hartung, conseguiu se eleger sem o apoio das forças políticas do projeto político vigente no Estado desde 2002. Por isso, seu palanque de oposição não atinge apenas o governador atual, mas também o palanque do PMDB, com Ferraço à frente e Hartung ao lado dele porque, na verdade, são parte do mesmo projeto. Casagrande faz um governo de continuidade do governo passado. Por isso, ele pode bater à vontade, que onde pegar vai acertar. Pegou a história da segurança pública, vem falando das irregularidades na aquisição de terrenos no sul do Estado, nos incentivos fiscais, enfim, ele tem um amplo material para trabalhar se for mesmo para a disputa. 
 
Renata – O que chama mais a atenção neste cenário que se desenha para 2014 é que, diferentemente de 2010, não há como haver uma eleição estadual sem disputa, como aconteceu na eleição passada. Isso é bom para a democracia e é bom para o Estado. 

 
Nerter – E que vença quem apresentar a melhor proposta. 

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