Segunda, 06 Mai 2024

???A primeira aliança que o PT tem que fazer é consigo mesmo???

???A primeira aliança que o PT tem que fazer é consigo mesmo???

Rogério Medeiros e Renata Oliveira



Não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã.

Victor Hugo



Membro da Alternativa Socialista, a mesma tendência petista do ex-prefeito João Coser, o deputado estadual Rodrigo Coelho defende a construção de um programa do partido para o Espírito Santo. A ideia é incutir na discussão do Processo de Eleição Direta do PT, o PED, a necessidade de antes de determinar nomes e posicionamentos eleitorais para 2014, discutir uma linha mestra do caminho que o partido pretende seguir no Estado.  



O ponto de partida, para o deputado, não é nenhuma grande novidade. Seguindo os parâmetros do programa nacional do partido, Coelho acredita que o caminho para o fortalecimento do PT está justamente no retorno às suas origens.



Além de fortalecer e determinar como prioridades as bandeiras que levaram o partido à Presidência da República, como o combate à miséria e a inclusão da classe trabalhadora, o deputado destaca que o PT precisa voltar a discutir, com o povo, as diretrizes do partido.



Sobre a colocação dos nomes de alguns companheiros de partido, como o próprio Coser para o processo eleitoral do ano que vem, Rodrigo criticou o que chamou de “fulanização” do debate eleitoral. Na entrevista, o deputado fala sobre as articulações para o próximo ano, para a eleição do PT, além das questões sociais que merecem a atenção da classe política.





Século Diário – Deputado, as paredes do PT falam e elas dizem que há divergências sobre o caminho que o partido deve seguir no próximo ano. Como vê essa movimentação?



Rodrigo Coelho – Não há necessariamente uma divergência, porque não há uma indicação para a eleição. A minha divergência é porque todo mundo fala que não se deve discutir 2014 agora, mas todo mundo antecipa a discussão de nomes. O que temos que discutir, e não só para 2014, na minha opinião, é um programa para o Espírito Santo, feito pelo partido. O Espírito Santo parece que tem o desejo de uma construção única de Estado e não necessariamente essa visão única de Estado vai fazer com que a gente avance. O fato de o PT construir um programa, não significa que ele seja a favor de liderança nenhuma, de maneira pessoal. Precisamos ter um projeto que nos oriente, um programa que nos oriente a fazer uma aliança A ou B, mas que esteja de acordo com o projeto nacional do PT. Ao ter um projeto nacional, a gente recebe críticas, como se o Espírito Santo não fizesse parte de uma nação. Precisamos ter clareza de quanto esse projeto nacional cria oportunidade para que o Estado também avance e não fique à margem da história.



–  O ano é muito importante para o PT, porque em novembro o partido realiza o Processo de Eleição Direta (PED), e o que vemos nesse início de discussão é justamente a colocação de nomes para a presidência da sigla, a busca de um posicionamento para a eleição do próximo ano, e a indicação de nomes para os cargos em disputas. Essa questão programática que o senhor está falando ainda não entrou nesse debate.



– Mas é o que eu estou buscando fazer internamente de maneira insistente. Perceba, o ex-prefeito de Vitória João Coser há dois três meses foi colocado como pré-candidato a presidente do PT. Ele teve que fazer um recuo dessa posição, porque isso não estava dado nem na corrente. No sábado passado fizemos uma conferência da tendência e tiramos o nome do Coser como candidato a presidente do partido. Não é para manifestar se o PT vai coligar com A ou com B, para dizer se a posição A ou B é a correta. Nós precisamos primeiro debater um programa para o Espírito Santo. A tarefa do PT para o próximo período é ter esse programa.



– E como vê essa precipitação do processo eleitoral?



– A nossa interferência no debate de quais serão os candidatos só atrapalha o Estado. Precisamos primeiro encontrar o que nos une. Há várias opiniões dentro do PT, organizadas em tendências, que já foram mais organizadas no passado, é verdade. Mas diferença de opinião existe em todos os partidos, a partir das lideranças. Isso não faz do PT um partido pior do que os outros, muito pelo contrário, só nos ajuda, se for uma diferença leal como acreditamos que tem de ser. Mas o que faz com que essas diferenças se unam no mesmo partido? É isso que precisamos identificar. Eu sou da Alternativa Socialista, estava na conferência e tiramos o nome do Coser para presidente do partido, mas o esforço agora é para que ele faça o diálogo com outras lideranças do partido para procurar exatamente o que nos une. A primeira aliança que o PT tem que fazer é consigo mesmo. Precisamos de uma aliança entre nós, para definir qual aliança que vamos fazer.



– O cenário eleitoral nacional foi bastante antecipado e ele tenciona essas discussões internas do partido. Principalmente se houver de fato o racha do PSB com PT e PMDB. Essa discussão também vai influir nesse debate.



– Com certeza, mas aí você ceder à pressão ou não, faz parte do jogo. Como você vai decidir por um projeto ou por outro que são similares? O que te faz escolher por A ou B? O que te fará decidir serão a simpatia e o compromisso que este projeto pode ter com o programa que vamos desenvolver. Precisamos inverter a pauta do debate e discutir o programa. Estou levando para dentro do PT, a todas as lideranças que eu tenho contato, para que possamos nos unir em torno dessa discussão. Eu fiz uma pergunta no encontro da tendência: “fui secretário durante dois anos. Eu posso afirmar que eu representei o projeto do partido no Estado?” Não posso afirmar. Eu posso afirmar, pelas minhas convicções e pelo alinhamento com o projeto nacional, mas o partido em si não me deu orientação do que fazer na Secretaria [Assistência Social, Trabalho e Direitos Humanos]. Então é difícil você cobrar de um quadro se você não tem um programa a defender.



– E como fez?



– O que eu fiz na Secretaria foi alinhar ao projeto do governador Renato Casagrande, porque se você está em um governo, você tem que ser leal a ele, mas eu também não podia me afastar do projeto do partido, porque o que me colocou lá foi o partido, a minha militância partidária. Então procurei fazer com o alinhamento nacional, que é o projeto claro que temos. Precisamos ter um programa para o Estado, porque ele fortalece nossas administrações municipais e as lideranças. Alinha as administrações municipais, não fica cada uma buscando fazer o seu melhor, mas isoladamente. Podemos ter um programa que nos uma mais. Enquanto tivermos visões divergentes, não vamos conseguir alcançar nossos objetivos.



– E em relação à eleição de 2012. O partido manteve quantitativamente seis prefeituras, mas perdeu duas prefeituras muito importantes, que foi Vitória e Cariacica, e manteve Colatina e Cachoeiro. Como o senhor avalia o desempenho do partido?



– O que sustentou competitividade ao partido após 2012 foi o que nós conquistamos até 2010. Ter conseguido sair desse ciclo com cinco deputados estaduais, ter deputado federal, uma senadora, foi uma construção que aconteceu por estarmos nas administrações municipais. Inclusive, essa é uma discussão interna importante. Nós precisamos respeitar a Ana Rita como senadora da República. Se nós não fizermos, ninguém o fará. Precisamos porque em nada ela tem desabonado a atuação do PT, muito pelo contrário, tem feito um bom mandato, alinhado com as bandeiras do partido. Então, o que nos deu competitividade em 2012 foi o que construímos no acúmulo. As pessoas falam da eleição como se fosse um fato em si, mas não veem os espaços públicos que foram ocupados, por ter alcançado prefeituras, no passado. É claro que houve uma perda ao não eleger a sucessora do ex-prefeito João Coser, a deputada Iriny Lopes, em Vitória, e a sucessora do ex-prefeito de Cariacica Helder Salomão, a deputada Lúcia Dornellas. É evidente. Quem disser que não, não está tendo compromisso com a realidade. Mas esses espaços nos permitiram alcançar competitividade. E isso vai nos garantir competitividade para 2014. E se estivermos unidos, como eu acredito que estaremos, e com um projeto para o Espírito Santo, eu tenho certeza que o PT será um partido competitivo para 2014.



– A discussão para a disputa proporcional para o próximo ano também está antecipada. Em 2010, o PT fechou uma chapa com PMDB e PSB e a coligação conseguiu metade da bancada capixaba na Câmara e um terço da Assembleia. Este ano o partido tem bons quadros na disputa. Como o deputado vê a movimentação para a eleição de deputado estadual e federal?



– Está muito obscura, porque todo mundo fala um monte de coisas e elas não necessariamente caminham na mesma direção. Então você não sabe ainda o que vai acontecer proporcionalmente. Quais coligações proporcionais serão feitas. Nós precisamos nos preparar e conversar com os partidos já sobre o que cada partido está pensando, já que houve esta antecipação do pleito. Você primeiro define a majoritária, para depois definir as proporcionais, como não está no tempo, e como isso precede de um programa, precisamos preparar esse projeto do Espírito Santo, como nós o queremos, e a partir daí, como representá-lo. Porque a eleição proporcional vai eleger os representantes que vão falar em defesa daquele programa para o Estado. Por isso, é preciso conversar para saber qual aliança vai nos contemplar nesse sentido. O PT precisa buscar alianças para as proporcionais, isso sem dúvida nenhuma. Temos bons candidatos que serão importantes na composição de alianças, até porque vamos precisar de solidariedade na defesa dessa visão de Estado. Não queremos fazer um programa para o partido apenas e sim para as pessoas, e as pessoas estão em diversos partidos. Nós teremos uma chapa competitiva, tanto para deputado estadual quanto para federal...



– Competitiva, não. O PT tem nomes que são apontados como puxadores de voto. E isso não pode pesar a chapa, assustar os aliados?



– Pela primeira vez temos uma chapa bastante equilibrada, com pessoas com capacidade de ter muitos votos. Esperamos que nossos companheiros tenham muitos votos, mas ninguém sabe o que vai sair da urna. Esperamos que nossos companheiros tenham mesmo essa capacidade, e para as chapas é interessante que tenham pessoas que levem outras candidaturas. Pode assustar por um lado, e ser uma oportunidade por outro, e de como as lideranças vão ver cada um deles. Naquela chapa PT-PSB-PMDB, o que pesou naquele momento foi que as pessoas consideradas puxadores de votos não se caracterizaram como puxadores de votos. Aquela chapa do primeiro ao 12º, e eu fui o 12º, a diferença foi de oito mil votos. Enquanto nós tivemos Rodney Miranda (DEM) e Theodorico Ferraço (DEM), com 65 mil votos, o deputado mais votado da nossa coligação teve 28 mil. Então, se nós realmente tivermos puxadores de votos no nosso partido ou em outro partido da coligação, é importante para a chapa.



– O PT está dentro de um projeto de unanimidade e não saiu. O projeto tenta reeleger Renato Casagrande e evidentemente deve destinar o Senado ao ex-governador Paulo Hartung. Depois da reunião da tendência AS, Coser apareceu na imprensa dizendo que poderia ser candidato ao Senado, a vice ou candidato estratégico ao governo para essa unanimidade. Fica a impressão que Coser se antecipa porque tem o controle do partido. O deputado fala da inversão da pauta, mas fica difícil levar essa discussão para dentro do partido, sendo que a discussão eleitoral do próximo ano já está adiantada. O que vem atrapalhando esse processo de manutenção da unanimidade é a questão nacional. Talvez não haja tempo de se fazer a discussão da elaboração do projeto partidário, até porque o projeto já está fechado...



– Primeiro eu preciso acreditar que há tempo, porque o partido somos todos, e não uma figura. Você disse muito bem, o João colocou, mas isso não foi discutido dessa maneira e não foi deliberado dessa maneira na discussão que tivemos no sábado. O João não foi candidato originário há três meses, porque há justamente divergências nessa direção. A opinião que ele coloca não retrata nem o conjunto da tendência. Pode acontecer de essa aliança replicar? Você não disse nenhuma inverdade. Estamos nesse projeto de unanimidade, que está sendo amplificada, porque o Guerino Balestrassi (PSDB) é presidente do Bandes [Banco de Desenvolvimento do Estado]; o Guilherme Dias (PSDB) é presidente do Banestes; a Norma Ayub é assessora na Casa Civil, esposa do Theodorico Ferraço (DEM). Ainda vai sendo fortalecida a amplificação da unanimidade.



– Amplificação é a entrada do PSDB e do DEM?



– Não é isso que está acontecendo? Aí você disse que o que está atrapalhando é a questão nacional...ou ajudando. Porque no momento em que há um imbróglio, isso leva as forças a refletirem. E aqui não estou dizendo que nós precisamos antecipar a aliança A ou B, temos que refletir. Os partidos de esquerda não ajudaram o governador Casagrande a fazer um governo mais à esquerda. Será que não ajuda muito se o PT tiver um programa e tencione para a esquerda? É o que eu acredito. Outra, será que é mantida a unanimidade quando os projetos são colocados à mesa? Qual o protagonismo que cada ente vai ter nesse processo? Você disse que não há tempo para o programa porque a aliança está dada, mas há muita divergência interna, que nós precisamos aparar não a partir dos nomes colocados, mas a partir de um projeto para o Espírito Santo. Eu vou fazer essa defesa, seja ela utópica para uns, porque acredito que precisamos retomar esse diálogo que perdemos com a população.



– O PT saiu da rua...



– Recentemente houve um debate sobre o novo PT, com críticas do setor de formação do partido. O novo PT talvez precise fazer o que na origem o PT fez. Não é fazer uma prática nova. Talvez o que precise é retornar à origem no que diz respeito do porquê existiu essa construção partidária. Por que nos construímos como partido? Quais os nossos objetivos? Não é para negligenciar aliança, porque nós cumprimos muita coisa do que nos propusemos na nossa origem. O combate à pobreza, a inclusão da classe trabalhadora foram o que norteou o partido. Não há como as pessoas dizerem que o PT não fez isso no Brasil. Podem até divergir, dizer que poderia ser mais rápido, mas que efetivamente fizemos, fizemos.



– Mas a contribuição do Espírito Santo é muito pequena. Lula perdeu a eleição no Estado e o PT estava dentro do governo Paulo Hartung, que ajudou a eleger o adversário de Lula no Estado. A Dilma perdeu a eleição. Isso cria uma advertência para o PT Nacional de que o partido aqui não tem capacidade de fazer a Dilma ganhar, ainda mais porque é um momento eleitoral muito difícil. As forças estão se interligando, Eduardo Campos (PSB) está mais próximo de Aécio Neves (PSDB) do que Dilma. O PT tem essa responsabilidade e sempre parte das lideranças do partido, como o Coser, que a aliança local é privilegiada.



– Por isso estou dizendo que precisamos construir o programa. O que torna um político tímido? A ausência de argumento. Como nós não tivemos candidato a governador, há uma acomodação da construção de um programa que fosse a defesa do partido para o Estado. Na ausência desse programa, ficamos tímidos no argumento e aceitamos ir no projeto de outros. Essa acomodação fez o partido ter uma timidez que pode ter favorecido e muito as derrotas que tivemos aqui. O programa pode fazer com que a timidez dê lugar à ousadia, a uma mudança de postura que será importante até se nós fizermos uma aliança para governador com outro partido na cabeça da chapa. Mas isso não pode ser a conversa inicial, e isso foi dito internamente na reunião de sábado. Não foi votada a posição de aliança na construção da nossa conferencia de sábado. Não votamos essa posição. Colocamos que é importante que a Alternativa Socialista vá para o PT dizer ao partido que é necessário construir o partido. Essa não é uma tarefa minha, como deputado, nem de uma corrente, mas é dever da nossa corrente a construção desse programa afinado com o programa nacional. O que sustentou ao PT Nacional foi a liderança de Lula mais o programa claro. Fizemos um combate efetivo à pobreza no Brasil, que deu os resultados que nós queríamos. Isso aliado a outras políticas. Tem um debate que precisamos fazer que é a união em torno da captação de recursos financeiros, mas também tem uma orientação dos caminhos que o País precisa tomar e que os estados têm que colaborar.



– Mas veja, PMDB bate no PT. O próprio Casagrande bate no governo federal. Quando você vai para dentro da distribuição dessa unanimidade em cargos você só tem o Coser dizendo que pode ser senador, vice e governador. O Partido dos Trabalhadores tem uma senadora, que tem uma trajetória da melhor qualidade. Por que o PT não impõe a candidatura de Ana Rita à reeleição?



– Esse é outro equívoco, dizer que vamos construir as alianças a partir de uma liderança, sendo que o PT tem tantas lideranças em condições eleitorais. Isso vai entrar no debate interno e não vamos fugir dele, mas o que saiu nos jornais nesse final de semana não traduz o que foi discutido.



– Mas só tem Coser nos jornais...



– Sabemos que muitas vezes você fala uma frase em um determinado contexto e ela ganha outra proporção. Eu não sei em que contexto foi dito, mas eu afirmo que o que foi dito não traduz o que foi discutido no encontro da corrente. A partir disso me cabe colocar nesta entrevista a minha opinião. Internamente nós ainda temos um caminho a percorrer, que ainda não foi percorrido. A Iriny Lopes esteve na nossa conferência dizendo que a Articulação de Esquerda vai fazer um debate, mas é importante encontrar o que nos une. E eu concordo com ela. É um equivoco muito grande para um partido com o número de lideranças que tem o PT começar discutir eleição a partir da "fulanização" da eleição. Estamos em período de PED. Antes de discutir a eleição de 2014, nós temos que discutir a eleição interna de 2013. Temos que discutir os rumos do partido. Eu vou defender a construção do programa e acho que ele tem que ser construído antes do PED acontecer. Mas também não acredito que ele tem de ser construído dento das paredes do PT. Ele tem que ser construído com a população. Nós temos o direito e o dever de conversar com o povo. Às vezes parece que conversar com o povo é fazer algo que não nos cabe.



– E qual seria o ponto de partida para a construção desse programa?



– Primeiro temos que ter claras as nossas prioridades. Tem bandeiras nossas que não estão sendo tratadas com a devida atenção e nós temos capacidade de evoluir em muitas delas. Nós temos de maneira característica nacional o combate à pobreza e precisamos melhorar isso no Espírito Santo. Temos 230 mil famílias em situação de pobreza no Estado e 3,6% da população vivendo em situação de miséria. Com o bolsa capixaba, o bolsa família, nós fizemos a retirada dessas pessoas da situação de miséria pela transferência de renda, mas existe uma série de programas disponibilizados para fazermos a emancipação pela força de trabalho dos indivíduos, porque a emancipação deles não significa ter apenas a renda, é ter acesso a direitos que garantam a sua cidadania. Essa é a preocupação inicial. A partir daí precisamos ter como bandeira os direitos humanos. Lideramos uma secretaria por muitos anos que é a de Assistência Social e a assistência social é hoje a política de garantia de direitos, precisamos explorar isso, falar disso. Do outro lado, recentemente, sob a minha liderança na secretaria, tivemos implementação das políticas de direitos humanos, que não têm estrutura no Estado e têm uma fragmentação que não ajuda. Essas são políticas públicas que temos que aprofundar. Na política de direitos humanos temos um tripé que é da proteção, do combate à violação e da promoção dos direitos humanos. Nós precisamos trabalhar muito a promoção dos direitos humanos.



– Nessa questão dos direitos humanos, há um discurso de um caminho fácil e superficial de combate à violência, que põe em risco algumas garantias dos direitos humanos. Construir esse debate na iminência de um processo eleitoral e para um eleitorado conservador, como o do Espírito Santo, não é uma tarefa difícil para o partido?



– Acho que se discute de forma equivocada os direitos humanos. A gente sempre o olha a questão do ponto de vista da proteção e da combate à violação e deixa a promoção da vida de lado. Precisamos começar a conversar com as pessoas sobre a necessidade de promoção da vida. Eu sou de formação religiosa, e a gente às vezes fala de muitas coisas que muitas vezes não revela aquilo que falamos. A gente aprende nos documentos da Igreja Católica que Cristo veio para que todos tenham vida, e vida em abundância. O que é ter vida em abundância, traduzindo para o discurso político, se não a preservação dos seus direitos?



– Mas temos observado um discurso na própria Assembleia que é reacionário e que pega muito fácil no eleitorado, isso é bastante preocupante.



– Pela nossa timidez. Que bancada de esquerda tem na Assembleia? Por discurso, nós temos uma ausência de esquerda na Assembleia. O que são os partidos? Como eles se organizam e se orientam? Muita gente pode achar que é fundamentalismo, que eu quero teorizar demais, mas essa confusão, achar que as pessoas não percebem isso, é o que prejudica a evolução do processo político e o desenvolvimento do Estado.



– Nós vemos alguns deputados falando de maneira torta da valorização da família, do combate às drogas, e não vemos o debate sendo aprofundado.



– Eu fiz um discurso sobre internação compulsória que tem de ser tratada como caso extremo. Na extremidade, se você não conseguir pelas várias ferramentas assistir, garantir o direito à saúde, à pessoa, você faz a internação compulsória. Mas antes disso, você tem a abordagem social, o consultório de rua, tem uma série de políticas que precisam ser colocadas em prática antes da internação compulsória. Só que isso não repercute, porque não é um discurso fácil. Também é importante que a gente tenha espaço para falar dessas diferentes visões, porque as pessoas nem sabem qual é a contraposição à internação compulsória, que é a abordagem social. Não se fala disso, e quando se fala, é com profunda timidez. Quando a imprensa simplifica os temas nos prejudica muito no debate. Esse é mais um motivo para conversar com as pessoas, porque precisamos de interlocutores que façam a comunicação. Você fazer um discurso simples, a partir de uma dor, é fácil. Todo mundo se coloca no lugar de quem sofreu a dor, mas pouca gente se coloca no lugar de quem pratica a dor. Se quem sentiu a dor é alguém que você ama, você pensa diferente. Precisamos dos dois pesos e as duas medidas na hora de fazer o debate.



Não estou aqui fazendo a defesa de quem viola o direito de ninguém, mas não podemos querer para ele o que nós não queremos para as pessoas que nos são afetas. Qual será a diferença que teremos se começarmos a desejar para ele o que ele praticou contra o outro? Não vai fazer diferença nenhuma  e a sociedade só vai se aprofundar para um ambiente de mais insegurança, porque esse desejo de fazer justiça com as próprias mãos não vai ter o efeito reverso. Nós só vamos conseguir isso quando tivermos a solidariedade de outros, e só vamos ter essa solidariedade, quando tivermos um projeto que outros compreendam. Por que é importante para mim vir aqui, porque se tem uma liderança dizendo que é preciso discutir eleição, eu estou dizendo que é preciso discutir um programa e eu sou também uma liderança. Eu sou aliado de João e já disse a ele, nós precisamos antes de discutir a eleição, discutir um programa que a preceda. Quando eu digo isso, as pessoas acham que eu não quero fazer aliança com o governador. Eu não disse isso. Eu disse que precisamos construir um programa, que pode, inclusive, ajudar o governador a ser o nosso candidato. Mas precisamos ter argumentos. As pessoas dizem: “é cedo para discutir 2014”. Mas eles falam em nomes. Eu não disse o nome de ninguém aqui e nem vou falar. Porque realmente é cedo para discutir eleição, mas nunca é cedo para você discutir o Estado em que você vive.

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