Domingo, 28 Abril 2024

​Acusações a padre Kelder voltam a ser tema de debate na Assembleia

joaocoser_plenario_lucasscosta_ales Lucas S. Costa

Os ataques ao pároco da Paróquia Santa Teresa de Calcutá, localizada no Território do Bem, padre Kelder Brandão, voltaram a ser assunto na sessão da Assembleia Legislativa desta terça-feira (12). Os deputados estaduais João Coser (PT) e Iriny Lopes se posicionaram em defesa do sacerdote, da Arquidiocese de Vitória e do Serviço de Engajamento Comunitário (Secri), localizado no bairro São Benedito. O deputado Mazinho dos Anjos (PSDB) também se pronunciou, mas com um foco maior na defesa do projeto social.

João Coser foi o primeiro a se pronunciar, registrando sua "solidariedade, respeito e carinho ao padre Kelder e aos moradores" e afirmou que o sacerdote é "respeitado, valorizado e de grande compromisso com o Território do Bem". Quanto ao vídeo exibido pelo deputado estadual Coronel Welinton (PTB) na sessão dessa segunda-feira (11), no qual mostra um suposto baile com armas e drogas nas dependências da comunidade católica de São Benedito e que motivou acusações e ofensas direcionadas ao padre Kelder, à Arquidiocese de Vitória, e até mesmo à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Coser afirmou ter tido "a infelicidade de ver deputados replicando sem o devido cuidado de checar as informações".

O parlamentar prosseguiu destacando alguns trechos da nota divulgada nesta terça-feira (12) pela Arquidiocese de Vitória, como a informação de que o prédio das imagens foi dado em comodato ao Secri, que, conforme consta no parágrafo lido pelo parlamentar, "desempenha sério trabalho social (com crianças, adolescentes, jovens e suas famílias que vivem em situação de risco e vulnerabilidade social, favorecendo a formação ética e social do seu público-alvo)".

Coser também exibiu um vídeo institucional do Secri. Em seguida, Mazinho dos Anjos afirmou ser admirador do trabalho do projeto social e que "o espaço está deteriorado por falta de investimento", tanto estadual quanto municipal, como apontou, além de precisar de "ampla reforma". No que diz respeito ao baile, falou que quem atua no Secri são "senhoras, voluntários e pessoas de bem", que "não têm força para impedir".

No entanto, o parlamentar fez críticas à nota da Arquidiocese, uma vez que não citou os parlamentares que proferiram as acusações, que, além de Coronel Welinton, foram Lucas Polese (PL), Dary Pagung (PSB) e Callegari (PL), que não se manifestaram nesta terça, após a repercussão e divulgação da nota da Arquidiocese. Para ele, ao não fazer a citação, o texto "generaliza", obtendo a concordância de Coser na sua afirmação. "Não pode ser uma crítica à Assembleia ou aos deputados, tem que ser pontual àqueles que subiram na tribuna e infelizmente divulgaram nota falsa, inverídica, irresponsável", disse o petista.

Iriny, em seu discurso, destacou a diferença entre imunidade parlamentar e o que chama de impunidade parlamentar. Para ela, o que aconteceu na sessão dessa segunda-feira foi impunidade parlamentar, que é "falar o que quiser sobre qualquer pessoa, sem provar nada, sem cumprir a responsabilidade de uma autoridade, que é buscar soluções, e sem valorizar a vida humana".

Disse ainda que as acusações feitas também são "impunidade parlamentar" por serem "um festival de fake news". "Chamar pessoas de canalha, sem vergonha, mentiroso, não contribui para a construção de um Estado pacífico, onde o ser humano é o objeto principal", disse, destacando, ainda, que imunidade parlamentar, ao contrário, "pode ser o único caminho de voz e expressão do parlamentar e daqueles que representa".

Finalizou dizendo que "a Paróquia Santa Teresa de Calcutá não tem nenhuma responsabilidade com um vídeo do qual não sabemos a origem, que mostra um baile com pessoas armadas", e que as acusações foram proferidas contra "uma pessoa maravilhosa que é o padre Kelder e uma instituição religiosa". "Podemos professar a religião que quisermos, mas não apedrejar as que são diferentes da nossa", concluiu.

Na sessão dessa segunda-feira a deputada Camila Valadão (Psol) já havia se pronunciado sobre as acusações. Ela cobrou respeito ao padre Kelder, além de apontar que as imagens não são no espaço informado pelo parlamentar. Camila demonstrou sua solidariedade ao sacerdote, que "foi caluniado, atacado com adjetivos, com afirmações que não condizem com sua longa trajetória de luta e de fé na cidade de Vitória".

Para ela, a afirmação feita por Coronel Weliton mostra "desconhecimento" sobre Vitória, o Território do Bem e a comunidade de São Benedito, uma vez que o local onde ocorria o baile trata-se de uma antiga quadra do Secri, que se encontra interditada. "O Secri é uma instituição seríssima, com um trabalho fantástico com crianças e adolescentes. É uma calúnia e um absurdo sem tamanho", disse. A parlamentar cobrou dos deputados que "respeitem o padre Kelder, sua história, suas comunidades, seu legado de fé e esperança em defesa da vida".

Acusações

Após a exibição do vídeo durante a sessão, o primeiro parlamentar a se pronunciar foi Dary Pagung, dizendo que a "quadra da Igreja é para ajudar na fé, nos louvores". Afirmou, ainda, acreditar que a Arquidiocese de Vitória não estava ciente. "Fico abismado ao ver as imagens, ainda mais num local que era para cultuar a Deus", afirmou. Depois de Dary Pagung, quem falou sobre o assunto, em tom bastante agressivo, foi Lucas Polese.

Ele ressaltou estar "estarrecido, e não surpreso", e prosseguiu dizendo que é "o que se espera quando ouço o nome do padre Kelder relacionado". Polese acusou o sacerdote de, em 2022, ter utilizado o altar da igreja "para pedir voto para o PT" e recordou as recentes críticas do pároco às ações da PM no Território do Bem. "Um padre mais preocupado em perseguir a polícia, em condenar a polícia, em atacar o trabalho policial, do que pregar a palavra de Deus, o Evangelho", acusou.

Lucas Polese também mostrou a manchete de uma matéria do jornal A Gazeta sobre dois jovens mortos pela PM em Alvorada, Vila Velha, nessa sexta-feira (8). A manchete trazia a afirmação do pai de um dos jovens, que dizia que o rapaz não estava armado. O deputado acusou o jornal de defender o crime organizado e mostrou vídeos que, segundo ele, mostravam a ação de pessoas ligadas às vítimas, atacando ônibus na região após as mortes.

Em seguida, voltou a atacar padre Kelder, ao dizer que, diante das recentes ações da PM no Território do Bem, o sacerdote "estava militando na Gazeta, no Século Diário, dizendo que a PM perseguia a comunidade dele quando fazia operação lá". Ainda acusou o pároco de não conhecer "o Evangelho que ele prega". "Se conhecesse saberia que não roubarás é um mandamento, que aborto vai contra as diretrizes da Igreja Católica, que a ideologia de gênero também vai contra, que o assalto promovido pelo PT vai contra tudo que ele defende", disse.

Em referência à entrada de policiais com cães farejadores nas dependências da comunidade Imaculada Conceição, em Itararé, ocorrida em julho último, e encarada como uma forma de intimidar Kelder, o deputado disse que "quando a PM vai pegar droga nos arredores da igreja, é contra [o padre] e quer tirar de lá". Também disse que quando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se pronunciava sobre algum assunto "em cinco minutos tinha cartinha da CNBB [Conferência Nacional dos Bispos do Brasil]" e desafiou a instituição a fazer o mesmo em relação a Kelder.

Outro deputado que discutiu sobre a questão de maneira agressiva foi Callegari, que se declarou "católico apostólico romano" e disse que sua religião "é de fé, amor, paz, amor ao próximo, que não condiz com isso [as imagens do baile]. É vergonhoso ver um centro ligado à nossa Igreja sendo usado de maneira vergonhosa por bandidos. Mais estarrecedor é ver um padre, como o Kelder, que é um militante que age dentro da Igreja Católica, a serviço de ideias que não representam o Evangelho do Nosso Senhor, representam a cartilha de Karl Marx", acusou.

'Estão tentando intimidar o padre Kelder, mas não vamos aceitar'

Movimentos farão missa em desagravo à entrada de policiais com cães farejadores nas dependências de igreja em Itararé
https://www.seculodiario.com.br/seguranca/estao-tentando-intimidar-o-padre-kelder-mas-nao-vamos-aceitar

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