Sexta, 17 Mai 2024

Assembleia começa ano fragilizada com reeleição de Theodorico Ferraço

Assembleia começa ano fragilizada com reeleição de Theodorico Ferraço

Nerter Samora e Renata Oliveira





Apesar dos desgastes trazidos pelo escândalo da Derrama, deputados passam cheque em branco para Ferraço. Papo de Repórter analisa os prejuízos da atitude arriscada da Assembleia.



Nerter – Não teve jeito, por mais que a situação do deputado estadual Theodorico Ferraço (DEM) seja delicada e que o desgaste político dele grande com a repercussão da Operação Derrama e do indiciamento no processo que apura fraudes em prefeituras, o deputado foi reeleito para a presidência da Assembleia com unanimidade e declarações de fidelidade eterna dos colegas de plenário. De duas uma: ou os deputados têm garantias que o restante da sociedade não têm sobre a inocência de Ferraço das acusações, ou eles não têm ideia do risco que a imagem da Assembleia corre com esse aval dado ao presidente.



Renata – Acho que os deputados estão confiando demais no parecer do procurador-geral de Justiça Eder Pontes, que tirou o peso das apurações das costas de Ferraço. Mas o Ministério Público não é a Justiça. Ele não define quem é inocente e quem é culpado. Faz um parecer que pode ser aceito pelo Tribunal de Justiça ou não. E o processo está apenas no começo. Há muita água para rolar debaixo dessa ponte, e pela quantidade de documento que o Tribunal tem sobre o caso, essa convicção dos deputados parece perigosa. Vale lembrar também que o Espírito Santo não vive mais naquela época em que os acordos para decidir quem ia ou não para a degola se passava nos bastidores.



Nerter – É o que está parecendo. Quem tem culpa no cartório vai ser punido. Se Ferraço não tem nada a ver com a história sairá de heroi, se for condenado ou por causa da Derrama ou por causa dos muitos processos de improbidade que se acumulam contra ele na segunda instância, estará blindado pelo mandato à frente da Casa, mas não vai evitar o desgaste político para ele e para o restante da Assembleia.



Renata – Ferraço saiu do plenário dizendo que vai voltar a ser o velho Ferraço dos bons tempos. Pode ser, afinal, como ele mesmo disse, tem meio século de vida pública, e isso tem que ser levando em conta, porque além da experiência em gestão pública, esse meio século lhe trouxe uma verdadeira excelência em movimentações políticas. Uma coisa ele já garantiu com o mandato à frente da Casa. A partir de agora, será mais difícil ser atingido pelas broncas judiciais. Quanto aos trâmites no Tribunal de Justiça, caberá à sua defesa as manobras protelatórias, em caso de alguma condenação, que lhe darão sobrevida suficiente para completar o mandato sem problemas. Enquanto o caso não transita em julgado, ele continua no mandato e deve se agarrar a esse cargo com unhas e dentes.



Nerter – Se pelo lado jurídico/administrativo, Ferraço se fortaleceu ao renovar seu mandato à frente da Assembleia, do ponto de vista político a história pode ser bem diferente, e dificilmente ele terá condições de voltar à velha forma com essa sombra em seus ombros. Os acordos fechados dentro da Casa mostraram que não havia outro jeito além de reeleger Ferraço. A alternativa que se apresentou de início, Roberto Carlos (PT), foi logo rechaçada pelos demais parlamentares. Outro nome que, dizem, chegou a ser cogitado pelo governador Renato Casagrande, foi o do líder do governo Sérgio Borges (PMDB). Mas ele também apresentava no Tribunal problemas com a Justiça. O mérito das ações contra Borges é bem diferente dos problemas de Ferraço, mas no frigir dos ovos, condenação é condenação. E os deputados preferiram Ferraço, até porque hà uma voracidade de parte da imprensa por Borges que não há em relação a Ferraço. E as condições foram criadas em favor do demista.



Renata – Isso é uma coisa, outra coisa é o jogo político deste ano e do próximo ano, quando estará em jogo eleição estadual. Alguns deputados, na eleição, disseram que Ferraço fortaleceria o Legislativo, mas a impressão que se tem é justamente o contrário. Ferraço à frente da Casa enfraquece o poder de fogo do parlamento na hora das costuras eleitorais do próximo ano. Os protestos que surgiram hoje, se intensificados, vão acabar chamando a atenção da população para a situação delicada dentro do prédio. Homeopaticamente, os episódios que devem surgir com os desdobramentos da Derrama vão enfraquecendo cada vez mais o presidente da Assembleia, a menos que se consiga fazer o caso cair no esquecimento, o que provavelmente não irá acontecer.



Nerter – A impressão que se tem é que diante do enfraquecimento do capital político do ex-governador Paulo Hartung (PMDB), ele entendeu que precisaria de um representante nas articulações do próximo ano para garantir o seu quinhão nas movimentações de 2014. Com a Assembleia na mão, Ferraço poderia ser esse porta-voz do grupo, já que com o controle sobre a Assembleia teria como tirar o sono do governador Renato Casagrande. Mas diante do escândalo, Ferraço saiu desgastado, e o governador é quem tem condições de dar as cartas no jogo de 2014 agora.



Renata – Coincidência ou não, assim que o nome de Ferraço começou a perder peso político, um balão de ensaio é jogado no mercado político com a ventilação do nome de Hartung para o governo do Estado no próximo ano. Hoje não haveria condições de o ex-governador se aventurar em uma empreitada dessas, mas o fortalecimento de seu nome pode pegar, sem que ele venha efetivamente a se candidatar. Se o boato ganhar peso, Hartung consegue duas importantes jogadas: a primeira é ganhar uma cadeira na mesa de negociação de 2014. A segunda, e mais importante, há uma nuvem constante sobre o governo passado, como se o governador e alguns de seus ex-secretários esperassem pelo pior a qualquer momento. Bom, ao jogar seu nome no mercado, Hartung prepara o discurso da perseguição política, que poderá ser sacado caso alguma bronca contra ele apareça de repente.



Nerter – O Tribunal de Justiça já deu seu sinal de mudança há algum tempo. O Tribunal de Contas, aos poucos, vai também mostrando personalidade. O governo Casagrande, apesar de algumas correntes que ainda o amarram ao passado, também vem atuando de uma forma muito diferente do governo anterior. A Assembleia, pelo jeito, ainda não entendeu o que mudou. Isso pode custar caro, e a conta pode ser cobrada no próximo ano, ou antes disso.

Veja mais notícias sobre Política.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Sexta, 17 Mai 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/