André Carvalho e Raniery Ferreira disputam presidência do partido na eleição interna

O Partido dos Trabalhadores (PT) deve priorizar a renovação de seus quadros ou promover um resgate histórico de suas origens como uma sigla forte e combativa? Esses dois enfoques opõem, em termos gerais, os candidatos à presidência do diretório de Vitória no Processo de Eleição Direta (PED) deste ano: André Carvalho e Raniery Ferreira.
Raniery foi tesoureiro da União Estadual dos Estudantes Secundaristas do Espírito Santo (Ueses), e depois partiu para a militância popular. Em 2013, foi eleito o presidente mais jovem da Associação de Moradores do Bairro Maria Ortiz. Suplente como candidato a vereador nas eleições de 2024, vai assumir a cadeira de Karla Coser na Câmara Municipal em julho, quando a parlamentar entrará em licença-maternidade.
No PED, Raniery representa a corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária no PT nacional e que, no Espírito Santo, defende a reeleição da presidente estadual Jack Rocha, deputada federal. Filho do atual presidente do PT de Vitória, o militante histórico José Carlos Gomes Ferreira, ele defende que o partido aposte na juventude.
“O PT precisa passar pela transição geracional. Os mais jovens precisam assumir os espaços de decisão do nosso partido. Me coloco como candidato para levar a mensagem do PT onde todos possam entendê-la – desde os mais jovens aos mais experientes, dos mais simples aos mais estudados. Quero um partido propositivo e com oportunidade de crescimento para todos. Os mais antigos nos trouxeram até aqui, mas é a ousadia dos mais jovens que vai nos fazer avançar”, afirma.
Essa visão sobre renovação, inclusive também está presente em sua avaliação sobre as eleições de 2024. Para Raniery, o PT, em vez de apoiar João Coser como candidato a prefeito – que acabou derrotado ainda no primeiro turno –, deveria ter apostado em uma liderança nova, como Karla Coser ou Jack Rocha – essa última, inclusive, chegou a colocar seu nome internamente.
“Se pegarmos o cenário da Grande Vitória, percebemos uma aceitação maior por candidatos mais jovens na maioria das cidades. Em Vitória não foi diferente. Com exceção de Cariacica, os candidatos mais jovens se destacaram”, argumenta.
André Carvalho tem uma avaliação diferente sobre 2024. Para ele, a insistência da pré-candidatura de Jack Rocha foi um erro. “Embora seja legítima e prevista dentro do estatuto do partido, naquele momento o partido precisava passar sinais da firmeza da sua candidatura para atração de aliados. Sem definir o candidato, como discutir com os outros projetos? Perdemos seis meses de pré-campanha e de organização do partido para a disputa. Foi um equívoco”, afirma.
Na militância estudantil e popular, Carvalho teve papel de liderança em movimentos importantes das últimas décadas, como a luta contra o aumento das passagens de ônibus na Grande Vitória e a ocupação da Assembleia Legislativa como forma de pressionar pela derrubada do pedágio da Rodosol na Terceira Ponte – ação que ocorreu em meio a efervescência das Jornadas de Junho de 2013. Atualmente, atua como assessor político do Sindicato dos Servidores do Estado (Sindipúblicos).
Em termos partidários, André começou no PT, depois migrou para o Partido Socialismo e Liberdade (Psol) – que presidiu a nível estadual. Ele se desfiliou em 2017 e retornou ao berço petista em 2022, agora compondo a corrente Alternativa Socialista (AS), de João e Karla Coser, que se juntou ao campo de oposição “Pra Voltar a Sonhar” – liderado pelo deputado federal Helder Salomão e a deputada estadual Iriny Lopes – no PED deste ano.
“Há uma insatisfação generalizada com a falta de funcionamento democrático das instâncias partidárias e a baixa capacidade de formulação política para uma atuação protagonista. O PT de Vitória tem importância singular na trajetória do partido. Foi aqui que vivemos experiências marcantes, como o governo de Vitor Buaiz – que nos alçou à condição de primeiro governo estadual eleito pelo PT no Brasil – e as duas gestões de João Coser. Já contribuímos muito para a cidade, e é urgente retomar esse protagonismo com inovação e renovação. O PT tem um legado a honrar e muito ainda a oferecer a Vitória”, comenta.
Na visão de André Carvalho, faltou ao partido acompanhar a postura combativa de Karla Coser contra a gestão do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), bem como mobilização nas disputas comunitárias. “Nossa militância ficou à deriva!”, critica.
Raniery, em contraponto, tem “alianças pontuais” – como ele próprio coloca – com o deputado estadual Denninho Silva (União), aliado da gestão municipal. Com Pazolini, diz manter “uma relação respeitosa”.
Planos para 2026
Sobre as eleições gerais do ano que vem, André Carvalho ressalta que “não existe 2026 sem projeto! Por isso, a importância do PED 2025 é decisiva para definir os rumos do PT. O partido precisa formular seu programa e diretrizes para apresentar à sociedade capixaba e ao conjunto das forças políticas”.
Assim, ele defende que após 6 de julho, data da votação do PED, “o PT deve debruçar-se sobre suas perspectivas para o Espírito Santo e, a partir daí, definir sua tática eleitoral – conectada à reeleição do presidente Lula, à reeleição do senador Fabiano Contarato e à ampliação de nossas bancadas federal e estadual”. Nas disputas proporcionais, sua tendência vai apoiar as candidaturas de João Coser para deputado federal e Karla Coser para deputada estadual.
Já Raniery destaca a necessidade de uma candidatura “séria e competitiva para o Governo do Estado, não apenas um cabeça de chapa”. Ele ressalta ainda que é preciso um palanque “robusto” para defender o legado do presidente Lula. “Não vejo o PT no palanque do Ricardo Ferraço (caso ele se viabilize), tampouco no de Pazolini”, argumenta. Nas disputas proporcionais, o objetivo central de sua corrente vai ser a reeleição de Jack Rocha como deputada federal.