Segunda, 29 Abril 2024

Casagrande e Hartung mais próximos de um iminente enfrentamento

Casagrande e Hartung mais próximos de um iminente enfrentamento
Nerter Samora e Renata Oliveira
 
As movimentações da semana passada irritaram muita gente nos meios políticos, principalmente o governador Renato Casagrande (PSB). Primeiro ele mandou recados cifrados, mas agora já sente os reflexos da clara possibilidade de ter Paulo Hartung (PMDB) como adversário em outubro. 
 
 
Nerter – Na semana passada, todo mundo quis fazer de conta que não tinha acontecido nenhuma movimentação nacional para erguer um palanque alternativo para o ex-governador Paulo Hartung. Diante da impossibilidade de conter os reflexos no mercado políticos, inevitáveis após tudo aquilo, as principais lideranças do Estado estão começando aos poucos a tomar posição sobre a clara possibilidade de uma mudança radical no jogo político para a eleição deste ano. O PMDB parece reservar Hartung, mas ao colocar o ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon para coordenar os seminários do partido sobre eleição, deixa transparecer a movimentação com o DNA do ex-governador. 
 
Renata – Houve reflexos também no PT. O ex-prefeito de Vitória, João Coser, tratou de desconversar sobre o assunto, fez questão de aparecer do lado do governador para mostrar que está tudo bem. Mas o que se comenta nos bastidores é que ele está sob pressão das lideranças internas do partido. Se bem que a defesa da deputada Iriny Lopes e a assinatura da senadora Ana Rita no livro de candidaturas à Assembleia, deixam transparecer que as coisas estão acertadas dentro do PT. O entendimento do partido deve caminhar com a candidatura própria do PMDB, que parece cada vez mais pacificada, até porque ela parte da nacional do PT
 
Nerter – E por falar em nacional há que se considerar fortemente a interferência do processo eleitoral presidencial na conjuntura do Estado. Embora a queda de Dilma não seja exatamente um complicador, porque envolve questões muito subjetivas, pode pressionar o cenário ainda mais. Lula sempre foi incisivo em relação à disputa no Espírito Santo. Ele não acredita no palanque neutro de Casagrande e não quer Hartung na base de Dilma no Senado, não confia em nenhum dos dois. E nem poderia depois dos papeis desempenhados por ambos em eleições passadas. Se o PT aumentar a pressão, certamente o PSB não ficará atrás. O acirramento da disputa presidencial vai forçar um posicionamento das lideranças locais. 
 
Renata – Até o PSDB entra nesta história. A parceria entre o tucano Aécio Neves e o socialista Eduardo Campos está em jogo, tanto que o programa do ninho tucano no Estado foi barrado porque na ânsia de atacar o desafeto Renato Casagrande, o candidato ao governo tucano Guerino Balestrassi pegou pesado. Essa postura tem reflexos na aliança nacional dos dois partidos, que estão afinados no propósito de levar a eleição para o segundo turno. São muitas arestas a serem aparadas para evitar que o cenário daqui influencie e nos arranjos nacionais. Mas uma coisa é certa, nestas eleições, a nacional influencia aqui e fortemente. 
 
Nerter – O que chama a atenção é a forma como governador Renato Casagrande está lidando com o novo cenário. Primeiro, cobrou lealdade do PMDB, dizendo que ajudou no fortalecimento do governo de Paulo Hartung. Depois vem falar da legitimidade do PMDB em disputar o cargo que quiser. Ele parece estar perdido nessa confusão toda. Tudo é fruto da falta de um plano alternativo à unanimidade. Casagrande até o final do ano passado controlava todas as movimentações da classe política, ainda controla a maioria, mas vê que o desgaste que Hartung acumulou nos quatro anos de planície estão sendo compensados pela articulação nacional. 
 
Renata – O governador começou mandando mensagens cifradas, falando em lealdade, traição, fofoca, mas parece ainda acreditar que é possível reunir em seu palanque os aliados de 2010. Não é. O PMDB já fala em comparação de governos, o deputado Paulo Roberto tem a clara missão de bater todos os dias no governo para tentar desgastar a gestão de Casagrande. As peças já estão colocadas de forma estratégica no tabuleiro eleitoral. São dois movimentos, um para desestabilizar Casagrande e outro para fortalecer Hartung.
 
Nerter – Por enquanto, as forças políticas observam os movimentos dos dois. Ninguém desembarcou, ainda, do palanque de Casagrande, que parece um lugar seguro. Ninguém quer trocar o certo pelo duvidoso, até porque Hartung é mestre em fazer movimentos para um lado e, na hora H, seguir uma direção totalmente diferente. Mas isso não pode demorar muito. Para manter essas forças em seu palanque, o governador precisa tomar uma posição forte. Falar abertamente sobre o processo eleitoral. Se esperar até o fim do semestre, como diz, pode ser atropelado pelo processo. 
 
Renata – Outros elementos assessórios, porém muito importantes nesta discussão também precisam se apresentar para o debate. O senador Ricardo Ferraço (PMDB) flerta com os interlocutores do Palácio Anchieta. Denuncia o golpe. Mais uma vez, Ricardo foi deixado de lado nas movimentações. Embora tenha se tornado um senador importante para o PMDB nacional, foi atropelado novamente pelo processo. Hartung eleito tentará a reeleição e Ricardo, que tem o claro objetivo de disputar o governo, não teria como entrar na fila para 2018. Com Casagrande, tem uma chance. 
 
Nerter – Outra figura importante nesta discussão é o ex-prefeito da Serra, Sérgio Vidigal e o PDT, que é um partido interessante para qualquer coligação, forte, com uma bancada grande e voto. Mas Vidigal tem uma visão partidária e o cenário aponta para um jogo de grupos. Ele também sofre a pressão da nacional, que havia determinado a conversa com o palanque de Casagrande e tem um claro objetivo de aumentar a bancada na Câmara. Então a saída de Vidigal da proporcional não é tão simples. Ele precisa encontrar um substituto para a disputa de deputado federal e o PDT, embora seja um partido grande no Estado, não tem estrelas da mesma grandeza que Vidigal. Isso sem falar que essa movimentação envolve também a disputa polarizada com o prefeito Audifax Barcelos (PSB), na Serra. 
 
Renata – Temos que considerar também as demais forças políticas que estão no palanque de Casagrande. O governador segue forte para a disputa, embora contra Hartung ele tenha uma eleição difícil, muito provavelmente em dois turnos, caso entre mais alguém. Se for uma disputa plebiscitária, a situação é ainda mais complicada pelo próprio perfil de Casagrande, que não é de confronto. Vai deixar Hartung fazer ataques à sua gestão sem reagir? E se reagir, como vai ser essa reação sendo que ele foi eleito com o apoio de Hartung e teve seu governo todo compartilhado com aliados do antecessor em sua equipe? 
 
Nerter – Isso explica os movimentos que parecem perdidos do governador. O certo é que Casagrande tem de contar agora com um cenário em que ele não disputa sozinho, não terá disputa fácil e precisa de um posicionamento rápido. Se esperar até junho, não sei não. 

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