Sexta, 03 Mai 2024

Casagrande enfrenta dificuldade para reagrupar base que o elegeu em 2010

Casagrande enfrenta dificuldade para reagrupar base que o elegeu em 2010
Nerter Samora e Renata Oliveira
 
 
A carta de Eduardo Campos à presidente Dilma, que selou a saída do PSB da base do governo federal, traz uma realidade para o Estado que o governador Renato Casagrande queria evitar, mas já não pôde.
 
 
Nerter – Quem ainda acreditava que o cenário eleitoral do próximo ano ainda poderia contar com o palanque de unanimidade que imperou no Estado em 2010, esta semana percebeu que a reedição desse arranjo esvaiu-se. Além da movimentação intensa do PMDB na construção de um palanque próprio e tentando atrair o PT para sua composição, o governador Renato Casagrande sofreu um xeque-mate do presidente de seu partido, o governador de Pernambuco e presidenciável socialista, Eduardo Campos. Nesta semana, o PSB devolveu os cargos que o partido tinha no governo federal à presidente e deixou a base aliada de Dilma. E mais, já teve liderança socialista pedindo a saída dos petistas dos seis estados governados pelo PSB. Para coroar a movimentação, o PDT decidiu permanecer no governo, mantendo-se aliado com o palanque da presidente Dilma. 
 
Renata – Imagina o problemão que isso tudo vai trazer para a disputa eleitoral no Espírito Santo em 2014. Agora a gente entende toda essa antecipação do senador Ricardo Ferraço, buscando visibilidade, ainda que questionável; reunindo a bancada, conversando com prefeito petista. Certamente antes mesmo do almoço com Michel Temer, ele já sabia o que estava por vir. Aliás, essas são as vantagens de se estar em Brasília, não é? Olha como essas peças se encaixam. O PSB nacional se afasta do governo federal, logo a parceria PT e PMDB se fortalece ainda mais nacionalmente, abrindo a brecha para a costura no Estado. Aliado a isso temos o movimento do ex-governador Paulo Hartung de migração para o PDT, operação abortada depois da barrigada de O Globo, e absorvida por toda a imprensa capixaba, que noticiou que havia um mandado de prisão contra a principal estrela do partido no Estado, Sérgio Vidigal. O mandado foi negado pela PF, mas outras denúncias envolvendo o ex-prefeito em operações no Ministério do Trabalho obrigaram Vidigal a entregar o cargo. 
 
Nerter – É verdade, o que o grupo estava articulando é uma reprodução do agrupamento que está se fazendo em nível nacional. E paralelo a isso tem o PSDB, não é? Em nível nacional há um acordo de bastidores de Eduardo Campos e Aécio Neves para evitar a vitória de Dilma  no primeiro turno. No Estado, os tucanos estão com espaço marcado para, da mesma forma, ajudar na divisão dos votos, levando  o pleito para o segundo turno. Aqui o partido tem um papel inverso na parceria, lá vai ajudar o PSB, aqui vai minar o partido. Mas nos dois casos terá um papel importante. 
 
Renata – Pois é. Aí há duas análises a serem feitas. A primeira diz respeito ao governador Renato Casagrande, que provavelmente deve estar arrependido da mudança de rumo de sua candidatura em 2010. No final de 2009, Casagrande estava isolado e tinha um discurso que o qualificava como um candidato de oposição ao então governador Paulo Hartung, mas a movimentação nacional entre PT, PMDB e PSB com a retirada da candidatura a presidência de Ciro Gomes (PSB-CE) em troca do apoio petista em seis estados, incluindo o Espírito Santo, fez com que o até então candidato palaciano Ricardo Ferraço fosse excluído da disputa, dando lugar a Casagrande. O socialista passou a ser o candidato da continuidade, com o apoio de Hartung. Virou governador em uma eleição de unanimidade, assumiu dívidas do governo anterior, gerenciou crise após crise, blindou seu sucessor e agora está encurralado. Sem tempo, perdendo apoios políticos e tentando construir tardiamente uma marcada de seu governo para garantir a reeleição.
 
Nerter – O interessante é que quem vem articulando no Estado esse isolamento de Casagrande é  justamente o seu antecessor. Hartung vem peregrinando o Estado com um discurso de gestor de excelência, desidratando seu sucessor enquanto Ricardo Ferraço vem tentando se credenciar e se apresentando como o nome a enfrentar Casagrande em 2014. Isso sem falar que ele tem um trunfo: o discurso que foi vítima de uma  movimentação política que o tirou do páreo em 2010. E o eleitor capixaba adora uma vítima. Mas você falou em uma outra leitura, qual seria?
 
Renata – Como vai ficar esse palanque PT-PMDB no Estado? Nele estarão Hartung, que fez foto com Dilma em 2010, mas não mexeu uma palha para evitar que ela perdesse a eleição nos dois principais colégios eleitorais do Estado. Disse que ela deveria calçar as sandálias da humildade e que a derrota foi um recado dos capixabas para a presidente. Isso irritou Dilma na época, e muito. Ricardo Ferraço deu fuga a um senador boliviano e a presidente teve e está tendo um trabalho enorme para evitar conflitos com o vizinho Evo Morales. Eu não preciso lembrar a reação da presidente a essa história, preciso? Enfim, como Dilma vai subir nesse palanque. Acho que vai ser preciso muito extintor de incêndio para que ela divida microfone com o grupo de Hartung. Pode ser até que não venha, mande Michel Temer se virar com esse palanque que ele arrumou para ela no Espírito Santo. 
 
Nerter – Outra coisa que também deve ser observada é a situação do PT local no Estado. Os caciques socialistas já pediram educadamente para que os petistas deixem os cargos nos governos do PSB nos Estados. No Espírito Santo, isso significa duas secretarias e, simplesmente, a vice. Givaldo Vieira vem rodando o Estado e aproveitando o cargo e a estrutura que disponibiliza para colocar fermento em sua candidatura a deputado federal. Vai ficar no mínimo desconfortável. Além dele, Helder Salomão também candidato a federal é titular da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos. E o que dizer de Alexandre Passos, que não disputou a reeleição para a Câmara dos Deputados e não tem densidade suficiente para brigar por um assento na Assembleia no próximo ano?
 
Renata – Como não poderia ser diferente, governador Renato Casagrande e o presidente regional do PT, José Roberto Dudé, reagiram dizendo que no Estado continua tudo como está. Mas não é bem assim, não é. Até porque, esse rompimento era tudo que Hartung precisava para justificar seu palanque alternativo. A intensificação dos encontros entre o grupo do ex-governador e os petistas é evidente. Por outro lado, como Casagrande vai se livrar do perfil partidário que sempre foi uma marca de sua trajetória política? O que vai dizer se Eduardo Campos quiser fazer campanha no Estado? Vai evitar andar com ele e pedir votos? Falta explicar melhor como irá funcionar o tal palanque da neutralidade, que está sendo anunciado por Casagrande como a solução de todos os problemas.
 
Nerter – Esse deve ser o grande dilema de Casagrande. A pouco mais de um ano do início da campanha, o cenário é pouco esclarecedor tamanha as variáveis que se apresentam. Muito embora seja o dono da máquina, vale relembrar que ninguém sabe melhor do que o próprio governador da influência do palanque nacional em disputas estaduais - até mesmo no Espírito Santo, pouco expressivo nacionalmente em termos de voto. Mas não pense que esse dilema é apenas de Casagrande. Todo mundo da base ou não vai ter que apostar um uns dos lados. Uma escolha errada pode ter um preço muito alto.

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