Sábado, 27 Abril 2024

Casagrande terá trabalho para manter a unanimidade em 2014

Casagrande terá trabalho para manter a unanimidade em 2014

 

Renata Oliveira e Nerter Samora





Depois dos esforços na semana passada para marcar o lugar do ex-governador Paulo Hartung (PMDB) na vaga ao Senado, o governador Renato Casagrande agora se vê diante da possibilidade de ter como adversário o senador Magno Malta (PR) nas eleições de 2014, um risco ainda maior.





Nerter – Na semana passada houve toda aquela movimentação de situar o ex-governador Paulo Hartung (PMDB) no palanque que se constrói para reeleição de Renato Casagrande, delimitando seu espaço à disputa para o Senado, mas o governador não contava com uma outra variável que pode abalar seu sistema de unanimidade política: Magno Malta (PR). O senador apareceu na TV criticando a política de segurança pública, apontando números e com o discurso palatável para seu eleitorado. Isso pode ser um grande problema para o governador em 2014.



Renata – O governador Renato Casagrande, quando chegou ao governo em 2010, foi eleito em um palanque sustentado por um sistema político de eliminação das oposições, que está vigente no Estado desde 2002, com a ascensão de Paulo Hartung ao governo do Estado. Por isso, até o Carnaval, a impressão que se tinha era de que o governador só precisaria administrar esse amplo leque de alianças para garantir um palanque de consenso para sua reeleição. Mas, pelo jeito, não vai ser bem assim.



Nerter – É verdade. Depois do Carnaval começaram a surgir os balões de ensaio que podem desestabilizar o arranjo político que sustenta o palanque do governador. Além disso, os partidos aliados começaram a fazer cobranças. Desgastado com a eleição municipal, o ex-prefeito da Serra, Sérgio Vidigal (PDT), faz exigências. O PSDB, que havia se aproximado, agora não quer cargos no primeiro escalão, para manter uma distância segura. O PSD também não quer se aproximar e o PR pode virar oposição. Seria o fim da unanimidade?



Renata – Temos duas situações aí. A primeira é que Magno Malta é um risco muito grande, mesmo, para a reeleição de Casagrande. Ele tem um discurso que arrepia as minorias, mas que pega com grande parte do eleitorado, principalmente em um Estado cujo eleitor já vem mostrando perfil conservador há tempos. Os próprios interlocutores de Casagrande reconhecem o risco que seria o palanque de Malta. Por isso, essa primeira situação aponta para a necessidade de o governador, caso não queira enfrentar o senador, se reaproximar do PR, assim como a presidente Dilma tem feito em nível nacional, inclusive. Outra questão está na necessidade de Casagrande imprimir uma marca neste primeiro mandato, como já falamos aqui, não é?



Nerter – Sim. O problema é que o governador foi eleito no palanque da continuidade. Então, tudo que ele mostra parece ser uma finalização do que foi iniciado no governo anterior. Um exemplo disso foi a inauguração do Hospital Jayme dos Santos Neves, na Serra. Essa poderia ter sido a grande obra do governo Casagrande, mas ele teve que compartilhar a glória com Hartung, já que a construção foi iniciada no governo passado. Uma situação mais do que justa até. Então, fica a impressão de que Casagrande não tem um projeto para chamar de seu. Além disso, ele não pode romper com o governo passado, mostrando a herança recebida, como estão fazendo alguns prefeitos  eleitos no ano passado. Ele tem de arcar com as dívidas que recebeu sem mostrar como foram parar na mesa dele. Um outro problema é que, no governo de Casagrande, as perdas de recursos federais se acentuaram. Isso tem consumido dinheiro do Estado e dedicação do governo nas movimentações em Brasília.



Renata – Para piorar a situação, os prefeitos estão começando a sentir os efeitos do fim do Fundo de Desenvolvimento das Atividades Portuárias (Fundap) e isso os tem levado a buscar ajuda do governo do Estado. A choradeira dos prefeitos pode ter um efeito positivo, se o governo conseguir equilibrar a situação nos municípios ou pode complicar as movimentações eleitorais do governador, se ele não conseguir dar uma resposta.



Nerter – Casagrande tem pouco tempo para conseguir uma visibilidade que lhe dê apoio popular para a eleição do próximo ano. Escolheu a área da saúde como um condutor desse crescimento, mas vai precisar implementar seus programas e dar publicidade aos resultados e gerenciar as crises com rapidez. Mas uma coisa é complicada: Magno Malta pegou a questão da segurança como bandeira para o palanque de oposição e para conseguir uma resposta nesta área, Casagrande vai penar. 



Renata – Até porque os noticiários da hora do almoço e do jantar, uma das principais fontes de informação para a população em geral, deixaram de aprofundar temas políticos e na briga por audiência adotaram um tom policialesco, acompanhado do discurso do medo, que tem bastante apelo popular. Desconectadas de uma discussão mais profunda sobre as causas, a violência passou ser pauta diária de parte da imprensa, o que pode dar vazão ao discurso "linha dura". Contra isso, dificilmente, Casagrande poderá lutar. Ainda que esvazie os presídios e consiga baixar os índices de homicídio, esse discurso já se enraizou e a população quer punição.



Nerter – Além do peso político de Malta em um possível palanque de oposição, Casagrande tenta frear um trem descarrilado que é a antecipação do debate eleitoral no campo nacional. Debate, aliás, que vem sendo puxado pelo presidente do partido dele, o governador de Pernambuco Eduardo Campos. Por mais que queira adiar o debate para não criar incomodo na sua enorme base, Casagrande não vai conseguir impedir que essas movimentações se intensifiquem agora em 2013. Ainda que isso não signifique necessariamente que o afastamento das legendas, em nível nacional, impeça o arranjo local. Isso pode criar uma insatisfação muito grande, podendo aumentar a cobrança para a permanência no palanque do governador.

Renata – O governador tem um ano difícil pela frente. Precisa ficar de olho nas movimentações nacionais, no que acontece em Brasília, e tentar manter unido o grupo que já estava fechado antes mesmo de ele virar governador. Uma coisa é certa, quem apostou em uma eleição legitimadora de um palanque único pode perder dinheiro.



Nerter – Pode não. Vai acabar perdendo dinheiro!

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