Domingo, 05 Mai 2024

Cenário capixaba de 2014 repete antecipação da disputa presidencial

Cenário capixaba de 2014 repete antecipação da disputa presidencial
Nerter Samora e Renata Oliveira
 
Assim como na disputa presidencial, o cenário da eleição ao governo do Estado também está um ano adiantado. Papo de Repórter analisa o movimento das principais lideranças cotadas para a disputa ao Palácio Anchieta em 2014
 
 
Nerter – Na semana passada analisamos neste espaço a movimentação nacional na construção dos palanques à Presidência da República. As discussões, disparadas pelas ações do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), na tentativa de viabilização sua candidatura a presidente anteciparam em um ano o processo e levou os demais candidatos a se movimentarem. No Espírito Santo, a calmaria que vinha sendo construída no cenário de disputa do próximo ano foi sacudida pelos ecos do debate nacional, que movimentou às lideranças por aqui. E a semana foi bastante movimentada, não é?
 
Renata – Com certeza. A própria vinda do presidenciável socialista ao Estado já causou uma movimentação logo no início da semana. A presença da juventude do PSB no evento da Rede Tribuna, ovacionando a candidatura do pernambucano, coloca o governador Renato Casagrande numa situação complicada em sua estratégia de permanecer neutro na disputa presidencial. Campos liberou Casagrande do compromisso de fazer campanha para ele. Mas o próprio PSB local vai se encarregar de cobrar do governador o apoio à campanha do presidenciável. E se o PSB vai cobrar de um lado, o PT e o PMDB também vão pressionar o governador a cumprir a promessa de neutralidade. 
 
Nerter – Casagrande vinha em uma situação bem confortável, até toda essa movimentação do PSB. Mas, assim como a presidente Dilma Rousseff, o governador capixaba tem uma vantagem em relação a seus adversários. Ele vem correndo o Estado com ações que vem lhe garantindo uma visibilidade grande à captação de apoio, sobretudo, dos principais indutores de votos nas bases: os prefeitos. Esta semana, o evento no Palácio Anchieta de assinatura do projeto que será enviado à Assembleia, mexendo no Fundo de Combate às Desigualdades, vai trazer outro nível de fortalecimento aos prefeitos. Se o “Fundo Cidades” garantirá os investimentos nos municípios, o novo fundo vai ajudar no custeio. É a salvação da lavoura para os prefeitos que estão com a corda no pescoço, ou seja, a maioria. Casagrande pode não conseguir a tão sonhada unanimidade para a disputa à reeleição, mas já conseguiu diante do novo cenário, sair na frente. 
 
Renata – Tanto que o PMDB, ou melhor, o grupo do ex-governador Paulo Hartung, teve que reagir. O anúncio do senador Ricardo Ferraço de que vai disputar a eleição ao governo, chamou a atenção por não ser o perfil do grupo se antecipar tanto a um processo eleitoral. Por um lado, essa atitude casa com o cenário nacional que obrigou as lideranças a se colocarem. Mas há também quem veja uma movimentação muito mais intrínseca aí. O objetivo é pressionar o governador Casagrande, conseguindo assim uma garantia de um bom posicionamento para o grupo dentro do palanque de reeleição do socialista. Para ser candidato, Ricardo tem muita dificuldade, precisa convencer muita gente de sua disposição. Faltam partidos para apoiá-lo, falta convencer os deputados estaduais e os chamados históricos de que vai se viabilizar, falta convencer o PT nacional e Dilma de sua candidatura e falta voto no interior. Um processo que poderia ser colocado no próximo ano também, mas a situação nacional forçou a antecipação. 
 
Nerter – Qual o real objetivo desse grupo só vai dar para saber no próximo ano. Por enquanto, eles vão tentando aparar arestas e colocar um discurso de excelência, sem olhar para trás. Como se uma outra entidade política tivesse governado o Estado antes de Casagrande. Como se todas as crises e gargalos do governo atual tivessem sido criadas a partir de 2011 e não fossem herança da política implementada pelo grupo do ex-governador Paulo Hartung (PMDB) de 2003 a 2010.  Esse mesmo grupo de aliados do ex-governador, os sem voto, que hoje ensaia uma movimentação de filiação em siglas  que foram relegadas ao segundo plano nesse arranjo eleitoral, caso do DEM e do próprio PSDB...
 
Renata – Verdade, e ainda que toda essa movimentação de Ricardo Ferraço seja mesmo para garantir lugar privilegiado no palanque de Renato Casagrande, a impossibilidade de retomada da unanimidade persiste pelo posicionamento do senador Magno Malta (PR) em disputar o governo do Estado no próximo ano. O republicano é uma pedra no sapato que vai continuar machucando, já que ele está cada vez mais determinado a se afastar de vez dos dois grupos. Como nunca foi incluindo no jogo palaciano, tem condições de enfrentar os dois palanques, com o mesmo discurso de contraposição à política voltada para a manutenção do poderio econômico. Ele veste mesmo essa ideia de enfrentamento às elites capixabas e o eleitorado gosta disso.
 
Nerter – Magno já tem batido em algumas questões pontuais. Quando fala da dolorida questão da segurança, consegue atingir os (virtuais) palanques de Casagrande e de Ricardo Ferraço. Mas, apesar de apostar na popularidade e no poder de sua retórica, Malta e Ricardo têm um problema em comum, o fato de precisarem buscar apoio partidário para construir um palanque bem alicerçado e ter tempo de TV suficiente. 
 
Renata – E o quesito apoio partidário, Casagrande segue na frente, até porque está com a caneta na mão e à classe política pouco importa a cor dos olhos de quem está à frente do Palácio Anchieta, o que importa é que mão segura a caneta. Todo mundo quer ficar com o governo, no PR, Malta sentiu o efeito disso com a debandada de lideranças. Ele conseguiu um trunfo importante para tentar equilibrar o jogo, o delegado Fabiano Contarato, que vai reforçar o palanque como possível candidato ao Senado, mas perdeu nomes importantes para a disputa proporcional, como ex-prefeito de Vila Velha, Neucimar Fraga, que migrou para o PV e o secretário de Esportes, Vandinho Leite, que agora é socialista. 
 
Nerter – No PMDB, Ricardo Ferraço enfrenta o mesmo problema, com a resistência da bancada estadual em desembarcar do palanque de Casagrande. Nesta semana, porém, o cenário é de três candidaturas ao governo do Estado no próximo ano. Se todas vão se manter até as convenções de meados do próximo ano já é outra história... 
 
Renata – Isso vai depender da capacidade de movimentação de cada um dos nomes colocados e da ocupação de espaço dos aliados. Sem falar na influência do cenário nacional, que fica cada vez mais forte na política capixaba. 
 
Nerter - Ah!, tem também a candidatura do tucano Guerino Balestrassi, tão silenciosa que quase esqueço de registrar.

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