Grupo reivindica que Gaurink, reeleito, tenha os votos anulados e seja expulso do partido

A chapa “A Estrela tem que Brilhar”, liderada pela vereadora Açucena no Processo de Eleição Direta (PED) do Partido dos Trabalhadores (PT) em Cariacica, entrou com recurso nas instâncias partidárias internas contra os resultados da disputa no município. O grupo quer que seja instaurado um processo disciplinar contra a chapa “Construindo uma Nova Cariacica”, e que os votos do presidente reeleito, Luiz Carlos Gaurink Dias, sejam anulados, e que ele seja expulso do partido.
A votação foi realizada no último domingo (6). Luiz Gaurink, da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), teve 549 votos (51,8%) contra 510 (48,2%) de Açucena, da corrente Democracia Socialista (DS), que compõe o campo de oposição “Para Voltar a Sonhar” (PVS). Na disputa pelo diretório, o grupo de oposição conseguiu 49,25% dos votos, garantindo metade das vagas na direção do partido em Cariacica.
A chapa de Açucena aponta “irregularidades” no dia da votação. Segundo ela, houve interferência externa de outros partidos, sobretudo do Partido Verde (PV), que faz parte da Federação Brasil da Esperança junto com o PT e Partido Comunista do Brasil (PCdoB), mas faz oposição aos petistas em Caciacica. “Integrantes da atual administração”, comandada pelo prefeito Euclério Sampaio (MDB), também teriam interferido no pleito.
Aliado do prefeito, César Lucas é vereador pelo PV em Cariacica. Em 2024, grupos do PV e do PCdoB defendiam um apoio da federação à reeleição de Euclério Sampaio, mas o PT acabou lançando a candidatura de Célia Tavares, que sofreu uma grande derrota no pleito. Outro nome que apareceu nos bastidores foi do ex-vereador André Lopes (PSB), ex-presidente do diretório do PT e que deixou a legenda listando insatisfações, e hoje integrante da gestão de Euclério como cargo comissionado.
Além disso, de acordo com o grupo, “promoveu-se propaganda antecipada, ofensiva e intervencionista por meio de grupo de WhatsApp público, onde foi anunciada a intenção de interferir nas eleições do PT, proferindo ataques às lideranças históricas do partido antes e após o encerramento do PED. Ao entrar com recurso, os representantes da chapa acreditam que essa intervenção não se deu de forma isolada, havendo indícios de vínculos políticos notórios em explícita afronta à candidatura de Açucena à presidência do PT municipal”.
Século Diário solicitou, mas não teve acesso ao processo e às provas que o grupo diz possuir. Nas redes sociais, o deputado federal Helder Salomão, ex-prefeito de Cariacica, já havia falado em “tentativas inescrupulosas” de influenciar a eleição a favor da CNB.
“Com o apoio de uma parte minoritária do PT, políticos de outros partidos ligados à administração municipal e à Câmara de Vereadores jogaram sujo para tentar impor uma derrota aos petistas de verdade. Deram um tiro no pé porque conquistamos 50% das vagas na Executiva e no Diretório Municipal do Partido. Isso se deve ao fato de que a companheira Açucena (vereadora do PT na Câmara Municipal), ocupará acento na direção municipal, de acordo com o regimento interno”, comentou em postagem na segunda-feira (7).
Já o deputado estadual Denninho Silva (União), parente e apadrinhado político do prefeito, exaltou, na Assembleia Legislativa, que a derrota da vereadora foi um “massacre” e “vergonhosa para turma do PT que acha que é dona de Cariacica e do Espírito Santo”, citando os colegas de plenário, João Coser e Iriny Lopes, o senador Fabiano Contarato e Helder Salomão, além de se referir a Açucena como “ex-vereadora” e a Célia Tavares como “finada”. Ressaltou, ainda, que o resultado mostra que “Cariacica está no rumo certo, e não tem mais aquele cabresto, aquele curral que existia antigamente”.
‘Grupo do eucalipto’
Luiz Gaurink classificou o recurso tentando anular a eleição como “desespero” pela derrota sofrida por seus opositores. “Não existe nenhuma declaração minha na imprensa de que eu tive apoio ou ingerência do prefeito. Nem tenho relação com o prefeito”, afirmou.
Segundo ele, o racha interno do PT de Cariacica tem origem em situações de anos atrás. Um ponto decisivo teria sido o recuo de Helder Salomão em se candidatar a prefeito em 2016, preferindo apoiar a reeleição de Juninho Geraldo (Cidadania, ex-PPS), mesmo que as instâncias partidárias municipais tivessem optado por uma candidatura própria a prefeito.
O conflito se intensificou em 2024, quando Célia Tavares foi escolhida para ser candidata a prefeita. “Célia não dialoga com as pessoas. Ninguém queria, foi a Nacional que decidiu. Teve uma grana danada para conseguir uma mixaria de votos”, criticou.
Foi a insatisfação com os rumos do partido que, segundo ele, despertou em diversos militantes que estavam distanciados do PT a participar do PED. Ele admite que o ex-vereador e ex-presidente do PT André Lopes (PSB), que hoje integra a gestão de Euclério, lhe ofereceu ajuda, mas apenas para conversar com antigos filiados que estavam insatisfeitos.
Gaurink também ressaltou que todas os petistas com mandato e principais lideranças estavam contra ele, e mesmo assim saiu-se vitorioso. Ele ainda classificou Helder e seus aliados como “grupo do eucalipto”: “onde ele está, nenhuma outra liderança cresce do lado”.