Renata Oliveira e Nerter Samora
O ano de 2012 foi marcado pela movimentação das lideranças do Estado, algumas saíram vitoriosas e outras derrotadas. Em um ano eleição nada anormal. Papo de Repórter desta semana comenta algumas dessas movimentações que se destacaram ao longo de 2012.
Renata – No final de 2011 discutimos aqui neste mesmo espaço o quão importante seria 2012 para que se tivesse uma definição do cenário político no Estado. Comentávamos que seria a oportunidade de o governador Renato Casagrande se fortalecer e se consolidar como grande liderança política do Estado, movimentando as peças no sentido de acomodar a base política e construir uma unidade que garantisse não só sua governabilidade como também criasse condições para a sua reeleição. Acho que estamos bons de previsão, não é?
Nerter – Pois é. Foi justamente isso que Casagrande fez. Começou o ano garantindo que não iria se envolver no processo político, a menos que houvesse ameaça de retrocesso. Então, acho que houve essa ameaça no Estado inteiro, porque o DNA de Casagrande esteve em palanques de norte a sul e de leste a oeste. Mas essa ingerência aconteceu de forma bem suave. De forma geral, quem quis disputar, disputou. Não houve acordos de gabinete, só algumas mexidas estratégicas.
Renata – Isso. A atuação de Casagrande foi na verdade contrária à que exercia seu antecessor. Paulo Hartung reunia seus aliados e determinava quem disputaria e quem ficaria fora da disputa. Casagrande, não. Ele conseguiu se colocar em palanques diferentes para garantir o compartilhamento da vitória, independente do candidato que ganhasse. E mais, fez isso sem pedir um voto, sem subir em nenhum palanque e sem desqualificar qualquer adversário de seus aliados, nem direta e nem por meio de emissários.
Nerter – E por falar em Paulo Hartung, se Casagrande saiu vitorioso da eleição municipal, o mesmo não se pode dizer de Hartung. Fez apostas erradas, viu diminuir seu espaço político e ainda ofuscou a possibilidade de movimentação de Ricardo Ferraço (PMDB), que poderia ser seu regra três em 2014. O senador que depois de ter atuado como coadjuvante na eleição deste ano, achou melhor mergulhar para aliviar sua ligação com Hartung. Para o governador, só deve sobrar mesmo a possibilidade de compor com Casagrande e disputar uma vaga ao Senado na chapa governista. Mas até 2014, muita água vai rolar por debaixo dessa ponte. Até porque tem muita gente interessada nessa vaga, e não sei se Hartung terá força política suficiente para conseguir formar um palanque de consenso, já que a movimentação das lideranças com vistas à sobrevivência política é natural. Como a classe política gosta de dizer, agora todo mundo é japonês.
Renata – Sim. Embora, Hartung não esteja acabado e em 2014 Casagrande talvez tenha que unir forças em torno de seu palanque, caso o senador Magno Malta (PR) resolva mesmo disputar a eleição. Ele é populista, tem o discurso da família e Casagrande tem a partir de agora só um ano para melhorar sua gestão. Sim, porque se do ponto de vista político ele foi muito bem em 2012, ele está acumulando uma dívida social, complicada de se pagar. Cercado de uma equipe que, em minha opinião, mais atrapalha seu governo do que ajuda a fortalecer o governador, ele tem pagado um preço muito alto pela linha de continuidade de uma política implementada no governo Hartung que não cabe no Espírito Santo.
Nerter – Além dos problemas sociais que são grandes e começam a se voltar para o Palácio Anchieta, o governador tem ainda desafios na relação com Brasília que podem atrapalhar ainda mais sua vida em 2013. Além do fim do Fundap e da iminência da perda dos royalties, estão por vir mudanças no Fundo de Participação dos Estados (FPE) e na distribuição do ICMS. Nem tudo é prejudicial, mas vai precisar do acompanhamento do governador. Sobre as dívidas sociais, o problema de Casagrande é a resistência em mexer na equipe. Tirar o secretário de Segurança, Henrique Herkenhoff a esta altura do campeonato significaria para o governador assumir que a situação está fora de controle…
Renata – Mas está, e colocar policial na rua, sem uma estratégia de segurança não vai resolver o problema. Da mesma forma que dar bolsa de estudo não vai melhorar a nota do Índice de Desenvolvimento Educação Básica (Ideb) e comprar leito na rede particular não vai resolver a superlotação dos Prontos Atendimentos.
Nerter – Isso é verdade…
Renata – Já em relação às questões de Brasília, o governador precisa chamar a bancada à responsabilidade. Ficar chorando pelo leite derramado e reclamando de uma discriminação, que na verdade não existe, não vai resolver em nada. Além disso, se o Espírito Santo quer recursos, que apresente os projetos para conseguir liberar os recursos de que tem direito. Mas que não sejam projetos apenas para atender aos grandes empreendimentos industriais aqui instalados. Talvez seja a hora de menos estrada e mais projetos sociais.
Nerter – Voltando para o campo político, uma coisa que chamou a atenção em 2012 foi a conturbada relação entre o governador e o deputado Theodorico Ferraço (DEM). Desde que assumiu a presidência da Assembleia, Ferraço e Casagrande passaram a travar um acalorado debate sobre as movimentações na Casa. O presidente da Assembleia chegou a fazer críticas públicas ao governador, reclamando da falta de diálogo. Mas Casagrande acabou jogando água na fogueira. Aliado ao ex-governador Paulo Hartung, Ferraço teve um desempenho ruim na eleição, o que diminuiu seu poder fogo na hora do embate. Foi a hora de Casagrande entrar em cena, dando carta branca para a reeleição de Ferraço na presidência da Assembleia e ainda acertando a reforma do prédio da Assembleia, o que acabou com sua revolta.
Renata – Com isso, Casagrande conseguiu uma vitória que vai além da harmonia com a Assembleia, ele calou a voz de Paulo Hartung contra ele na Assembleia. As críticas de Ferraço serviam para descredenciar o governador e como há carência de novas lideranças, isso fortaleceria o antecessor. Além disso, Casagrande fez movimentações de forma a acomodar os aliados na Assembleia, garantindo espaço para todos, o que diminui os focos de resistências. Tirando Gilsinho Lopes e José Esmeraldo, do PR, que tentam levantar polêmica no plenário, o resto segue tranquilo para o lado do governador.
Nerter – Para terminar, vamos falar um pouco dessa história de mudança. Acho que nessa onda, surgiu uma liderança que vai ganhar cada vez mais peso político no Estado, que é o prefeito eleito de Vitória, Luciano Rezende. Presidente do PPS, partido que sempre atuou como força auxiliar do PSDB, o popular-socialista conseguiu uma vitória que mexeu no tabuleiro eleitoral, não só porque quebrou a hegemonia PT-PSDB, mas também porque no palanque adversário estava Paulo Hartung. Essa foi a maior derrota do ex-governador no Estado e colocou no jogo político mais uma liderança, o prefeito eleito. Vai influenciar em 2014, sem dúvida.
Renata – O fato é que 2012 traçou diretrizes para analisarmos o cenário futuro, mostrou que houve mudanças profundas, sim, no Espírito Santo, mas que o passado recente ainda está no jogo. Se 2012 foi importante, 2013 vai ser decisivo. Um ano de preparação para a disputa eleitoral, que pode consolidar de vez um novo período político no Estado, mas isso dependerá do novo grande líder do Estado, o governador Renato Casagrande.