Sábado, 27 Abril 2024

Coser projeta sua imagem nos meios políticos com PT nas mãos

Coser projeta sua imagem nos meios políticos com PT nas mãos

Nerter Samora e Renata Oliveira

 

Depois das polêmicas no ninho tucano, chegou a vez do PT iniciar as discussões para eleição do novo comando do partido no Estado. Com a aproximação do Processo de Eleição Direta (PED) dos petistas, o Papo de Repórter analisa as conversas que de bastidores da escolha que deve ter reflexos no posicionamento da sigla em relação às eleições de 2014.

 

Nerter – O PT vive um momento de preparação para sua eleição interna, que acontecerá só em novembro, mas que terá o processo deflagrado agora, no início do segundo semestre. A escolha do presidente do PT é muito mais do que uma decisão interna, referendada em convenção. O processo de eleição direta, o PED, é um exercício eleitoral para lideranças e para a militância do PT. Como a escolha é pelo voto direto, a disputa interna é sempre muito mais interessante do que nas demais siglas. É verdade que a convenção do PSDB deste ano também foi quente, mas por outro motivo.



Renata – Sim, no PSDB a convenção estadual aconteceu depois de muitas conversas entre os tucanos de alta plumagem. Apesar da insatisfação da base, a Executiva atual foi reeleita, com todos os seus membros. No PT, a coisa é bem diferente. A eleição é proporcional e a escolha é feita diretamente pelo eleitor. O processo deveria funcionar, evitando que um grupo usasse manobras internas para conseguir a hegemonia. Mas, como para tudo neste País existe um jeitinho, a eleição do PT muito antes de começar, já está decidida. Oficialmente, quatro nomes devem ser lançados na disputa: o ex-prefeito de Vitória, João Coser, pela Alternativa Socialista; a deputada federal Iriny Lopes, pela Articulação de Esquerda; o presidente da CUT, José Carlos Nunes, por uma dissidência da CNB, e o subsecretário de Direitos Humanos, Perly Cipriano, pela Ala Lulista da CNB. Na prática, porém, a escolha de Coser para a presidência do partido é um ponto consolidado no PT, os demais vão apenas garantir a proporcionalidade no comando.



Nerter – É verdade. E esse movimento de consolidação do grupo de Coser no comando do partido vem desde o ano passado, quando foi aberto o período de filiação partidária e o ex-prefeito de Vitória conseguiu colocar na sigla toda uma base eleitoral, garantindo vitória certa no PED. Mas como o processo é longo e promove debates internos, será uma oportunidade de os candidatos conseguirem expor para a base os problemas do partido. Coser e seu grupo deram ao PT capixaba o pragmatismo adotado na Nacional do partido. Vem fazendo movimentos que garantiram o espaço do partido no governo de Renato Casagrande. Não é nada, não é nada, o partido tem o vice-governador e duas secretarias. Pelo menos dois desses três espaços vão render frutos para o PT em 2014. O vice-governador Givaldo Vieira vem construindo sua candidatura a deputado federal no próximo ano e o secretário Helder Salomão começa a trilhar o mesmo caminho. É claro que o êxito das campanhas vai depender de uma boa colocação em chapa proporcional, mas que a visibilidade do governo ajuda, isso ajuda.



Renata – Assim como aconteceu em 2009, o PED será uma excelente oportunidade de o PT discutir seu posicionamento para a disputa eleitoral do ano seguinte. Nesse debate, uma questão filosófica deve ser colocada na mesa. Como você disse, Coser e seu grupo, que agrega além de sua corrente outros grupos internos, trouxe pragmatismo ao partido no Estado. Mas para o grupo de Iriny Lopes e Perly Cipriano esse pragmatismo tem limites. Essas lideranças ainda resistem ao abandono total das ideologias que vêm da origem do PT. As questões ligadas aos direitos humanos, luta das minorias, trabalhadores, ainda são caras a essas lideranças, que devem pautar suas plataformas de campanha interna na discussão desses ideias. Até porque, esse pragmatismo não trouxe um ganho geral para o partido. Algumas lideranças alcançaram seu lugar ao sol. Mas é preciso lembrar que o partido teve um desempenho muito abaixo do esperado na eleição do ano passado. E, com as limitações que se colocam para o cenário eleitoral do próximo ano, o partido pode não repetir o desempenho de 2010.



Nerter – E tem o fator Dilma também, não é? Se tem uma coisa que o PT não diverge internamente é a prioridade do palanque presidencial de reeleição de Dilma Rousseff. Esse é um ponto que une pragmáticos e ideológicos e vai contar, não só para a eleição interna mas também para o processo eleitoral do próximo ano. E essa prioridade pode estar, inclusive, abrindo um espaço para que o partido pule fora do palanque do governador Renato Casagrande. A candidatura a presidente do governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos (PSB), parece irreversível, o que impede o PT capixaba de apoiar a reeleição do governador. Como nacionalmente o partido continua aliadíssimo do PMDB, abre-se aí um precedente para um outro palanque com as duas siglas.



Renata – Mas os petistas pragmáticos do Estado precisam para isso se livrar do palanque alternativo pensado pelo PT nacional, já que não será possível colocar lado a lado o senador Magno Malta (PR) –  que vem sendo assediado para erguer um espaço em que Dilma, desconfiada da fidelidade do governador e de seu antecessor, possa confiar politicamente no Estado – e o ex-governador Paulo Hartung (PMDB).



Nerter – Ao dizer que pode lançar candidatura própria para evitar o palanque do senador Magno Malta, o prefeito João Coser dá um recado para os meios políticos, que foi lido como: vamos ficar ao lado do PMDB, longe de Casagrande e de Malta. Como o partido não tem um nome com musculatura forte para disputar o governo, os meios políticos entendem que o PT vai trabalhar a vaga ao Senado, tendo como candidato ao governo um peemedebista, que pode ser o ex-governador Paulo Hartung ou o senador Ricardo Ferraço. Coser, que não conseguiu emplacar seu sucessor na prefeitura de Vitória, não teve uma desaprovação terrível ao deixar a gestão na Capital, mas vinha de um processo de desgastes políticos e administrativos em seu segundo mandato. Não sai da disputa de 2012 com musculatura para uma candidatura ao governo. Como senador pode conseguir um bom apoio, mesmo assim, estamos falando em mais de 1,5 milhão de votos.



Renata – Mas é por isso mesmo que Coser precisa da hegemonia no PT. Com o partido nas mãos. Coser terá um trunfo na mesa de negociação do próximo ano. É claro que será preciso aguardar que a névoa que se instala hoje no cenário nacional se dissipe, mas com o comando do partido, o ex-prefeito de Vitória terá muito mais condições de conseguir uma boa acomodação para a disputa do próximo ano. E, evidentemente, nessa discussão também está incluída a acomodação da chapa proporcional. Por isso, ao lado de Coser nessa discussão está o ex-prefeito de Cariacica, Helder Salomão, que também não conseguiu fazer a sucessora em seu município, mas como tem planos menos pretensiosos para o próximo ano, pode alcançar um bom resultado eleitoral.



Nerter – Para o governador Renato Casagrande a possibilidade real de perder a aliança com o PT é preocupante. Até porque o PMDB também movimentou suas peças, tencionando o jogo político antecipado. A solução seria uma adesão imediata ao palanque de Dilma Rousseff, mas isso que ele não pode fazer dado seu perfil partidário.



Renata - Esse fator Eduardo Campos deve ser preponderante tanto na disputa nacional quanto na consolidação ou não do projeto de reeleição de Casagrande. Enquanto isso, o governador pernambucano adota a cautela. Mas voltando ao PED, uma coisa fica clara, o PT capixaba não vai abrir mão do seu papel na mesa de negociações para o pleito de 2014. E possivelmente, com Coser saindo candidato ao governo ou Senado.



Nerter – Agora vamos acompanhar o que eles vão combinar com a militância, porque o debate neste processo será um importante termômetro do que pensa o PT capixaba, um tanto desidratado após a disputa do ano passado.



 

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