Quinta, 02 Mai 2024

Costuras nacionais amarram a eleição no Espírito Santo

Costuras nacionais amarram a eleição no Espírito Santo
Nerter Samora e Renata Oliveira


 
O governador Renato Casagrande tenta desatar o nó criado com as movimentações do presidente de seu partido, o governador de Pernambuco Eduardo Campos. Papo de Repórter analisa as influências do cenário nacional na disputa de 2014 por aqui.
 
Nerter – Muita coisa mudou nas articulações da classe política para a disputa eleitoral do próximo ano, com a filiação da ex-senadora Marina Silva ao PSB, no último sábado (5). O cenário eleitoral nacional, que já vinha influenciando fortemente nas movimentações locais, agora se tornou um norteador para as composições no Estado. Em meio a toda essa efervescência, o governador Renato Casagrande tenta ainda manter unido o grupo que o elegeu em 2010, mas essa parece ser uma tarefa inglória, não é?
 
Renata – Membro importante do PSB nacional, o governador capixaba teve um duro embate recentemente com os caciques socialistas, na tentativa de desvencilhar a eleição presidencial das articulações locais. Mas o máximo que conseguiu foi adiar uma tomada de decisão para março do ano que vem. Até lá, ele vai depender muito das arrumações feitas e ter jogo de cintura para manter o diálogo com as lideranças aqui. Até porque, embora seja hoje o grande líder político do Estado, as arrumações não dependem apenas de sua vontade. 
 
Nerter – Evidentemente o PSB Nacional cobra, e deve intensificar essa cobrança a partir da composição com Marina, um posicionamento de apoio do governador do Estado. Casagrande é partidário e sua postura de neutralidade pode não se sustentar, na medida em que o presidenciável socialista começar a querer circular pelo Estado. Vai ficar estranho se o governador se abster da companhia do pernambucano. Uma vez juntos, vai ficar difícil dissociar a identidade partidária entre eles. Casagrande pode até ficar nessa de ser neutro, mas mesmo que não abra a boca, não tem como evitar a aproximação.
 
Renata – Eduardo Campos, que não é bobo nem nada, já começou a fechar o cerco. Vem ao Estado, marca território, e certamente voltará. Mas a pressão não vem só do PSB. O PT, que não construiu projeto para o Estado, tem como meta a reeleição de Dilma e quer um compromisso de Casagrande com o palanque petista. Como Marina e Campos alinhavam um palanque de oposição, com o objetivo de pôr fim à dicotomia PT-PSDB, a tendência é de que endureçam o discurso, embora eu ache muito complicada uma ex-ministra do governo PT e um aliado político desde 1989 conseguirem convencer o eleitor de seu palanque oposicionista. Mas o PT não gosta da ideia e vai também pressionar o governador. Para isso, admite até que pode conversar com Magno Malta, do PR, que mesmo com bandeiras políticas diferentes, tem uma disposição governista... e voto.
 
Nerter – Quem está quietinho, só observando, é o PMDB. O partido fez uma costura por cima, no encontro com o vice-presidente, Michel Temer, e o senador Valdir Raupp, presidente do partido. O senador Ricardo Ferraço reafirmou com os companheiros aqui, a definição de Brasília, mas encontrou um pedregulho no caminho. Mesmo depois de toda essa reviravolta nacional, a bancada do PMDB na Assembleia Legislativa continua firme em seu propósito de permanecer no grupo do governador Renato Casagrande. Entende que assim será mais fácil garantir a reeleição de pelo menos parte dos deputados estaduais. A imposição de uma posição para o próximo ano, pautada apenas na discussão majoritária, não será aceita, os deputados querem discutir democraticamente seu futuro político. Mas os caciques do partido no Estado sabem que se a coisa apertar no lado do PSB, a aliança entre PT e PMDB vai ficar mais forte do que nunca.  
 
Renata – Exatamente. Aí o grupo de Ricardo Ferraço e Paulo Hartung terá a justificativa que precisa para se colocar como a grande alternativa para o palanque presidencial no Estado. Atrairá o PT, alinhavando um palanque contrário à reeleição do governador Renato Casagrande. Se a decisão vier de fora, os deputados não terão o que fazer senão aceitar a acomodação que lhes será oferecida dentro do palanque próprio.
 
Nerter – Quem também observa a movimentação é o PSDB. Aliás, o silêncio do candidato do partido ao governo do Estado, Guerino Balestrassi, é ensurdecedor. Os tucanos acreditam que a entrada de Marina Silva na aliança com o PSB vai levar a disputa presidencial para o segundo turno. O problema é que para os analistas políticos nacionais, essa aliança prejudica mais o candidato tucano do que a presidente Dilma. Há ainda essa confusão no ninho da pomba sobre quem será mesmo o candidato. Eduardo tem 4% de intenção de votos, pode crescer com a propaganda eleitoral e o início da campanha, mas quanto? Marina está em segundo, mas será vice. O capital de Marina, se é que não sofreu desgaste com a entrada no PSB, é próprio. A transferência para Eduardo é uma incógnita. Se Marina virar candidata pelo PSB, um partido sessentão em vez de um projeto ideológico, como se propunha a Rede Sustentabilidade, corre o risco de ser taxada de oportunista. 
 
Renata – Aparentemente, a candidatura de Aécio Neves não está decolando. Balestrassi vem tentando convencer o próprio ninho tucano de sua disposição. Mas não se sabe até que ponto as articulações de bastidores vão manter Balestrassi na disputa. Parece que o mercado político vai mesmo ter que esperar até março para saber como se comportar na eleição do próximo ano.

 
Nerter – Esses são alguns dos novos componentes neste complicado jogo eleitoral de 2014. Isso no sentido partidário. É importante destacar que o governador Renato Casagrande não está parado, circula por todo o Estado, entregando obras e equipamentos, assinando ordens de serviço. Ou seja, fazendo a "máquina" funcionar. Nesse sentido, ele diminui as chances de um outro "abril sangrento", quando o cenário nacional impôs as condições para a disputa local. Enquanto isso, vamos continuar acompanhando e registrando todos os movimentos nos bastidores políticos.



Renata – É isso mesmo, a disputa está apenas começando!

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