Sábado, 18 Mai 2024

Depois da chuva, é hora de arregaçar as mangas; mas onde está todo mundo?

Depois da chuva, é hora de arregaçar as mangas; mas onde está todo mundo?
Nerter Samora e Renata Oliveira
 
Após as tormentas de dezembro, muita gente quis aparecer na foto para mostrar que está "trabalhando" na reconstrução do Estado. Mas, na prática, há muita encenação e pouco trabalho. Papo de repórter analisa as movimentações políticas das lideranças que tentam capitalizar com a tragédia.
 
Renata – No dia 27 de dezembro, em meio ao caos causado pela chuva, uma reunião no Palácio Anchieta colocou lado a lado os nomes cotados para a disputa ao governo do Estado este ano. Lá estavam, além do governador Renato Casagrande, o ex-governador Paulo Hartung e o senador Ricardo Ferraço, os dois nomes do PMDB que podem disputar com Casagrande ao lado do PT; e também o senador Magno Malta (PR), que pode se apresentar como o candidato de oposição. Passada a chuva e dado início ao Plano de Reconstrução do Estado, nem todo mundo tem aparecido na foto, não é?
 
Nerter – O senador Ricardo Ferraço chegou a provocar polêmica na bancada, dizendo que os membros do grupo deveriam destinar todas as suas emendas para os estragos da chuva. Ele estava lá na reunião, mas no início da semana estava em Cingapura. A convite do governo de lá, foi conhecer os portos do país. Nada contra a viagem, mas foi um desfalque na comitiva do governador em Brasília para dividir a conta do prejuízo. O ex-governador Paulo Hartung andou dando entrevistas (Record News ES), falando em união, em momento difícil, mas e de prático? Se ele anda de amores com o governo federal, agora que é favorito do PT nacional para encabeçar chapa contra Casagrande, poderia fazer dar uma forcinha na negociação. Magno Malta, pelo menos, está aparecendo. 
 
Renata – Engraçado que quem está junto agora deve ficar separado na eleição, como é o caso do Malta e do Casagrande e quem está separado, quer recompor a unanimidade. Por falar em entrevistas de Hartung, ele continua fazendo aquilo no qual é mestre: postergar decisão para confundir o mercado político. Assim como o governador Renato Casagrande, Hartung diz que só vai falar em eleição em maio ou junho, quando começarem as convenções partidárias. Enquanto isso, a classe política vai tentar adivinhar qual caminho o ex-governador vai tomar para, dependendo da situação, pode se acomodar. 
 
Nerter – Se por um lado algumas figuras sumiram da foto, por outro, o que teve de gente querendo aparecer nessa história na Assembleia não está no gibi. As sessões extraordinárias de terça e quarta-feira foram palco de um festival de justificativas. Os deputados tentaram prestar contas de onde estavam na hora da chuva. A gente até entende que não dava para saber porque a Assembleia não estava funcionando e se eles fossem aparecer na hora da chuva, ao lado do governador, também ficaria parecendo oportunismo. Mas falar disso agora, também ficou parecendo, então é difícil saber o que eles deveriam fazer. O fato é que a crise de representatividade dos deputados estaduais é tão grande que independentemente da posição deles, ela é rejeitada pela população. 
 
Renata – É verdade. Isso cria situações complicadas na Casa. Por exemplo, no que diz respeito à oposição. O deputado Euclério Sampaio (PDT) pode até capitalizar com sua postura contra tudo e contra todos, mas não tem um discurso que abale o governo. Ao chegar na Assembleia em uma posição de fragilidade, o deputado Paulo Roberto (PMDB) vem ocupando aos poucos esse espaço. Digo de fragilidade porque além de suplente, ele está no gigantesco PMDB, então encontrar um espaço para disputar a eleição, ainda mais em São Mateus, onde o colega Freitas (PSB) tem o Palácio Anchieta do seu lado, vai ser muito difícil na base governista. 
 
Nerter – Sim. E não se pode dizer que Paulo Roberto faz uma oposição ruim. Começou a construir um discurso de fiscalizador de brechas em projetos do governo que incomoda. Sua identidade com o ex-governador Paulo Hartung, de quem foi líder do governo, facilita o encaixe de um discurso de oposição. Mesmo assim vai ter muita dificuldade na eleição deste ano, justamente por estar numa legenda muito pesada. Mas também na Assembleia a lotação não foi esgotada. Alguns deputados não apareceram para votar os projetos de reconstrução do Estado, enviados pelo governador, que foi pessoalmente à Casa detalhar o projeto para a mesa diretora. 
 
Renata – Aliás, o que Casagrande mais fez esta semana foi explicar o  plano de reconstrução. Se reuniu com a imprensa, com os deputados estaduais, com os prefeitos e ministros, em Brasília. Ligou para a bancada federal para buscar apoio na pressão. O governador não parou esta semana. E mostrou que está ficando esperto. Além de tratar de dar respostas rápidas sobre a questão da chuva, ainda apagou dois princípios de incêndio. O primeiro em relação à tarifa da Terceira Ponte, que ele fez questão de abafar ainda na segunda-feira. E no meio da semana, minou o movimento que tomava corpo nas redes sociais, com a possibilidade de reajuste da tarifa do Transcol. Anunciou o congelamento até a licitação do novo contrato. 
 
Nerter – Tudo que Casagrande não precisava neste momento era de uma nova manifestação. Depois de recuperar os 20 pontos percentuais de aprovação perdidos nos meses de junho e julho, o governador vem construindo a imagem de homem do interior. Imagem construída socorrendo os prefeitos que, se antes estavam em crise, hoje estão em desespero. Esse é o ponto que vai definir a eleição deste ano: a capacidade do governo do Estado em recuperar o que foi arrasado pela chuva. Isso também deve definir o número de palanques eleitorais que teremos na eleição. Eu entendo essa distância segura que o ex-governador vem mantendo do processo. Se Casagrande se queimar ele não estará tão perto para sair chamuscado se ele for bem, Hartung poderá avaliar se vale a pena enfrentá-lo ou se será melhor se unir ao governador para compartilhar do momento positivo. 
 
Renata – Com certeza a evolução do problema vai definir a eleição. Casagrande se antecipou, mostrou serviço. Fez os projetos necessários para captar verbas federais, aprovou os projetos necessários para abrir o cofre do Estado e está se mexendo. Mas a capacidade de recuperação dos municípios será importante. Os prefeitos serão seus principais cabos eleitorais, então ele precisa que esse plano de reconstrução fortaleça não só a sua imagem, mas também a imagem dos prefeitos. 
 
Nerter – Uma mudança, pelo menos, neste processo de reconstrução já pode ser sentida. Em várias oportunidades aqui em Século Diário falamos da falta de projetos a serem apresentados para captar recursos. 
 
Renata – Eu falei isso várias vezes na minha coluna. Chega a ser irritante esse discurso de que o governo federal não olha pelo Espírito Santo e blá, blá, blá. É o Espírito Santo que tem de olhar para si mesmo. Recursos existem, mas não dá para sair liberando dinheiro só por causa dos belos olhos do governador ou dos prefeitos, ou dos deputados federais. Concordo plenamente com a crítica da presidente Dilma Rousseff e isso ficou explicito com a notícia de que o Estado tinha R$ 53 milhões parados em alguns ministérios, dependentes de projetos. É claro que isso não é tudo, não basta viver recursos federais, o governo tem criar condições para os municípios ganharem autonomia financeira. Outro dia, Hartung falava em entrevista sobre a influência cenário internacional na economia no pleito capixaba. Essa dependência, que foi acelerada em seu governo é torna os municípios atrelados ao governo dessa forma. 
 
Nerter – Mas essa é uma discussão que não deve entrar na pauta de discussão desta eleição. O discurso deve ficar na recuperação imediata do que foi destruído, o que para os municípios já está de bom tamanho. 
 
Renata – É. Mas, mal sabem os prefeitos e os eleitores que sem uma discussão sobre o modelo de desenvolvimento do Estado, todo esse investimento será apenas um paliativo até o próximo desastre. Mas isso não dá voto, não é?
 
Nerter – É. 

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