Segunda, 06 Mai 2024

Desafio da classe política para 2014 é se adaptar às demandas pós-chuvas

Desafio da classe política para 2014 é se adaptar às demandas pós-chuvas
Nerter Samora e Renata Oliveira 
 
No campo social, a chuva colocou a população capixaba diante do desafio de enfrentar a calamidade. Papo de Repórter analisa o campo político, em que caberá aos principais atores entender qual a necessidade da população daqui para frente.
 
Nerter – O ano de 2013 no Espírito Santo vai ficar marcado pela chuva que atingiu o Estado nos últimos dias. As prefeituras já em crise  desde o início do ano, agora estão em estado de emergência ou calamidade pública. Mais de 50 municípios foram afetados e as necessidades dos capixabas mudaram após a catástrofe. Foi uma semana de Natal marcada pela tragédia. O fenômeno é natural, mas assim que as águas começarem a baixar será o momento de cobrar ações e a classe política tem de estar preparada para dar respostas. Aliás, em Vila Velha as cobranças já começaram. A população já saiu às ruas para pedir soluções.
 
Renata – O momento é de crise, mas podemos observar como foi o comportamento de algumas lideranças nesses dias e fazer algumas projeções sobre o que pode acontecer em 2014. Começando, evidentemente pela vinda da presidente Dilma Rousseff ao Estado. É triste, mas, mesmo diante de tudo que estava acontecendo, houve espaço para o discurso do "mi-mi-mi". Dilma não fez uma visita ao Estado, não foi para isso que ela veio. Cumpriu apenas o protocolo. Faria isso em qualquer estado, independentemente de quantas vezes tenha ido. Ela fez o mesmo em Minas Gerais, que também sofre com as chuvas. Do ponto de vista político, a ideia é jogar para o governo federal a culpa das escolhas equivocadas do Estado ao longo de sua história. 
 
Nerter – Dilma, necessariamente, não precisa vir ao Estado, até porque, quase todos os seus ministros já estiveram aqui. Cobrar do governo federal a liberação de obras irregulares, como a história do aeroporto, chega a ser abuso. Como se a culpa pelo desvio da verba fosse do governo federal. Algumas lideranças, como o senador Ricardo Ferraço (PMDB), o governador Renato Casagrande e o ex-governador Paulo Hartung, vivem dizendo que o Estado dá mais ao Brasil do que o Brasil ao Espírito Santo. Mas não é bem assim. Aliás, a presidente foi bem direta ao assunto. Não tem recurso para as ações de prevenção às chuvas porque os municípios não têm projeto. Dinheiro em caixa a presidente garantiu que tem. É só pedir. 
 
Renata – É verdade. Essa é a grande dificuldade da classe política. Parece tudo mambembe. Falta profissionalismo, principalmente da bancada. De que adianta ter o segundo lugar em produção, com Ricardo Ferraço, se o Estado continua baixo clero no Congresso? Qualitativamente, não há muito aproveitamento. Não há uma liderança que bata na mesa. 
 
Nerter – Uma coisa que ficou patente também foi a necessidade de se mudar a agenda para a eleição do próximo ano. Casagrande tinha um plano já traçado para o processo eleitoral, que ficava bem evidente, com sua movimentação em direção ao interior do Estado. Mas tudo mudou com a chuva. As cidades que Casagrande pretendia fortalecer a imagem dos prefeitos e capitalizar com os cabos eleitorais, ou melhor, prefeitos, em 2014, agora vivem uma situação crítica. Não vai dar para investir em melhoramentos, será preciso reconstruir o que a chuva destruiu. Algumas cidades ficaram completamente destruídas e será necessário muito trabalho, muitos recursos e união de lideranças para começar do zero. As primeiras estimativas apontam que muitos municípios demorarão um ano para por tudo de volta no lugar. A reconstrução será lenta e penosa. 
 
Renata – Aliás“reconstrução do Espírito Santo” é um termo bastante usado esses dias tanto por Casagrande como por Hartung. Agora, quem vai conseguir convencer mais a população é que são elas. O processo eleitoral do ano que vem será muito diferente. Já estava se mostrando assim antes e agora mudou ainda mais. A eleição vai colocar na mesa a necessidade de se rediscutir os rumos do Espírito Santo de uma forma mais responsável. Se bem que até agora ninguém discutiu os motivos do que aconteceu. Até porque é mais fácil jogar a culpa no governo federal ou em um fenômeno natural atípico. Mas não é bem assim. 
 
Nerter – Aconteceu tanta coisa nesse ano que mudou a agenda eleitoral de 2014, que não dá  nem para saber como será construído o cenário. Se antes havia uma demanda política por mudança, agora há uma agenda de emergências. Se ela vai se manter, vai depender da resposta nos próximos meses. Evidentemente, reconstruir um estado inteiro não é uma tarefa fácil e nem rápida. Mas o desenvolvimento das ações já vai dar um indicativo do que pode ser. Agora, o governador Renato Casagrande se saiu bem nessa história. Esteve presente o tempo todo, se movimentou bastante, fez as ações necessárias. Quer dizer, fez o que se espera de um governante. 
 
Renata – Bom, se comparado com o prefeito de Vila Velha Rodney Miranda (DEM), fazer o que tinha de fazer já é muita coisa. O episódio da viagem do prefeito para Nova York em meio ao caos instalado no município prejudicou a imagem política do demista e ainda respiga em seu padrinho político, o ex-governador Paulo Hartung (PMDB). Rodney abortou a viagem e por mais que a imprensa corporativa tenha tentado limpar a barra dele, o prefeito continuou fazendo trapalhadas depois que voltou. Muita gente queria que ele ficasse por lá. A ideia de "rasgar" a Rodovia do Sol causou tumulto na quinta-feira (26). Há ainda os comentários de cooptação de lideranças comunitárias para tentar colocar panos quentes na revolta popular que já se formava no município. 
 
Nerter – Rodney tentou uma jogada midiática. A ideia era fazer algo no mesmo estilo da imagem de Rambo que ele criou quando secretário de Segurança. Esse episódio realmente pode afetar a eleição estadual porque a imagem de Rodney é muito ligada à do ex-governador. Fez campanha com slogan “O candidato do Hartung”. Se Rodney fizer alguma besteira grande, ele pode comprometer não só sua reeleição, como também pode prejudicar o padrinho, caso o ex-governador entre na disputa do próximo ano. Agora é Hartung que vai querer se descolar da imagem do prefeito. 
 
Renata – Deu para perceber a preocupação com isso, com o episódio da viagem do prefeito aos Estados Unidos, com a tentativa de proteger Rodney. Na verdade, esse espaço que Rodney ganhou na mídia para tentar se justificar, não protege só a ele, mas a seus padrinhos políticos.  O primeiro é o ex-governador Paulo Hartung, mas também tem o senador Ricardo Ferraço (PMDB) que vinha rasgando elogios ao prefeito nas redes sociais e o pai do senador, o presidente da Assembleia, Theodorico Ferraço (DEM), correligionário de Rodney. 
 
Nerter – Resumindo o cenário depois da chuva. Casagrande vai precisar dar um forte impulso nos prefeitos para reconstruir o seu projeto político voltado para o interior e Hartung precisará encontrar uma forma de se fazer ouvir por Rodney Miranda. Se o prefeito conseguir recuperar a imagem, acertando uma medida, ainda que midiática, tudo bem. Se não conseguir vai se afundar ainda mais e levar muita gente com ele para o buraco. 

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