Sábado, 04 Mai 2024

Disputa com tucano pode pegar palanque palaciano no contrapé

Disputa com tucano pode pegar palanque palaciano no contrapé
Nerter Samora e Renata Oliveira
 
O candidato do PSDB ao governo do Estado, Guerino Balestrassi, tem uma missão hercúlea pela frente. Mas será que o governador Renato Casagrande (PSB) está preparado para enfrentar um adversário que o conhece tão bem? Papo de Repórter analisa o embate entre as duas lideranças que acontecerá independentemente do cenário eleitoral.  
 
Nerter – É claro que até junho, quando acontecerão as convenções e os partidos vão definir seus papeis na eleição deste ano, muita coisa pode acontecer. O que temos com os acontecimentos desta semana é um cenário eleitoral com três palanques: o do governador Renato Casagrande, pelo PSB; o do ex-prefeito de Colatina, Gueirno Balestrassi, pelo PSDB e, provavelmente, o do senador Ricardo Ferraço, pelo PMDB. Mas o que interessa neste Papo de Repórter é o novo embate entre PSB e PSDB, que acontecerá independentemente do número de candidatos no páreo. Há várias questões que podem influir na eleição. Não estou dizendo que pode haver inversão do resultado, com o PSDB que está em último na corrida eleitoral saindo vitorioso da disputa, até porque o PSDB está mais sozinho do que nunca. Mas que é um cenário interessante, é. 
 
Renata – Há tanta diferença entre os cenários, que é melhor separar por partes. Primeiro, o PSDB. O candidato naquele ano era Luiz Paulo Vellozo Lucas, aliado de longa data do então governador Paulo Hartung. Ele brigou bravamente para colocar sua candidatura, já que estava sendo esmagado pelo rolo compressor da unanimidade, que chamou de "bonapartista". Mas ao iniciar a campanha ele perdeu o fôlego. Também não poderia bater de frente com um projeto do qual fez parte. Enfrentar o palanque palaciano seria assumir que tinha também culpa no cartório das situações que estivesse apontando. O resultado daquela investida tucana foi devastador para o partido. O PSDB ficou sem representação na Assembleia, com um deputado federal isolado na bancada e internamente as disputas de lideranças por espaços só piorou o clima o ninho. 
 
Nerter – A diferença começa por aí. A entrada de Guerino Balestrassi no PSDB trouxe o fôlego que o partido precisava. Evidentemente só empolgação não garante vitória e o PSDB terá dificuldades muito grandes para colocar o bloco na rua. E o partido sabe disso. Sabe que está isolado, que terá pouco dinheiro, pouco tempo de televisão e que vai enfrentar uma máquina muito forte. Mas Balestrassi tem uns truques na manga, além do fígado inflamado desde 2008, quando o grupo de Renato Casagrande tentou empurrar o Paulo Foletto na sucessão dele em Colatina e ele deixou o partido, apoiando o petista Leonardo Deptulski. Essa já é uma vantagem. Ele já enfrentou o palanque palaciano antes, dadas as devidas proporções, já que estamos falando aqui de uma eleição municipal e agora será uma sucessão estadual. Há muita diferença. 
 
Renata – Mas o grande problema para Casagrande neste enfrentamento com o Guerino Balestrassi é que estamos falando de dois adversários que se conhecem muito bem. Balestrassi já foi do PSB, e como disse na entrevista, sabe como o PSB opera. Também esteve no governo de Renato Casagrande até outro dia à frente do Bandes, de onde saiu batendo a porta. Tudo isso lhe trouxe um cabedal de informações que podem ser muito úteis em uma eleição polarizada. Além disso, Guerino enfrentará Casagrande em um campo em que os dois transitam, a discussão municipalista. Casagrande virá para a disputa como o governador que retomou o perfil do ex-governador Gerson Camata, que também emplacou a marca de homem do interior. Balestrassi vai tentar desmontar essa imagem com a bagagem que traz pela passagem pela presidência da Associação dos Municípios do Estado (Amunes) e pela vice-presidência da Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Mas é bom que ambos se lembrem de que mais da metade do eleitorado está na Grande Vitória.
 
Nerter – E Casagrande, estaria preparado para enfrentar seu ex-correligionário? Acho que por essa ele não esperava. Desde o final da eleição municipal de 2012, o governador intensificou seu projeto de aglutinação de forças em torno de seu palanque, se estabeleceu como grande líder político do Estado, acumulou muito recurso nos cofres do Estado, para atrair os prefeitos e fortaleceu muito seu campo político no sentido de desestimular nomes que estavam cotados para enfrentá-lo. O foco de Casagrande tem sido o ex-governador Paulo Hartung e Ricardo Ferraço, pelo PMDB, e Magno Malta, pelo PR. Mesmo Balestrassi tendo lançado seu nome na disputa desde o início do segundo semestre do ano passado, Casagrande estava se preparando para esses outros adversários, considerados muito mais fortes para a disputa. 
 
Renata – Sim, mas hoje o cenário é muito diferente. Ricardo Ferraço entra na disputa com o discurso de que a unanimidade não cabe mais. O problema é que para ele não cabe mais porque não interessa mais. Hartung dificilmente vai entrar em uma disputa contra um palanque tão forte. Eleição de dois turnos seria algo impensável para quem gosta de definir o pleito bem antes de o processo ser deflagrado, com campo limpo. E Magno Malta voltou a falar em Presidência da República, ou seja, não topa ir para o confronto pelo governo do Estado. Sobrou Guerino, que fez muito bem seu dever de casa. Está rodando o Estado todo, se fortaleceu dentro do PSDB, fez planejamento e principalmente, está muito disposto a enfrentar o Renato Casagrande. Também acho que para esse adversário, Casagrande não se preparou. 
 
Nerter – É bom ter pé no chão também, afinal estamos falando de uma disputa no molde Davi e Golias. Casagrande tem a maioria dos partidos ao seu favor, tem apoio da Assembleia, apesar do esperneio de alguns deputados, tem 22 prefeitos socialistas, tem uma imagem construída e solidificada depois das chuvas do final do ano passado de grande amigo do interior. Balestrassi tem dois minutos de televisão, a candidatura pesada de Aécio Neves para carregar e está sozinho. PPS, DEM e PTB, que são aliados históricos ao ninho tucano, estão querendo espaço no palanque palaciano. Como eu disse anteriormente, empolgação não garante vitória, muito menos no Espírito Santo, onde as eleições são definidas em gabinete e a unanimidade está mais fortalecida do que nunca. 
 
Renata – Com certeza. Mas pelo menos, haverá uma disputa. Balestrassi não parece ser o tipo do candidato que vai colocar o nome só para cumprir a obrigação com o palanque presidencial para o senador Aécio Neves ou para garantir o espaço de seus candidatos proporcionais. Vai trazer a reflexão. Além disso, ele joga a responsabilidade para cima de Casagrande. Quando diz que não se importa em perder, ele coloca a pressão no adversário. É Casagrande com toda essa estrutura que tem obrigação de ganhar e ganhar bem. 
 
Nerter – Quanto ao Ricardo Ferraço, a pressão da nacional para colocá-lo no páreo faz diferença porque pode tirar do palanque de Renato Casagrande o PT. No PSDB há uma orientação nacional para que o partido não esteja em uma coligação em que o PT esteja. Se o PT sair, o caminho fica mais livre para que os tucanos possam conversar com o governador. O partido está isolado, sem seus aliados históricos e precisa eleger deputado federal, precisa eleger deputado estadual. Precisa recomeçar o caminho político para tentar se reinserir no jogo político do Estado. Ricardo Ferraço na disputa pode mexer com essas acomodações. Do ponto de vista da política parece que ele serve mais ao PMDB nacional do que vice-versa. A disputa no Espírito Santo parece moeda de troca para os palanques que realmente interessam ao PMDB, sempre ávido por espaço. 
 
Renata – Mas será que além do PT ele vai conseguir forças políticas para erguer seu palanque? Será que o PT nacional vai impor o desembargue do palanque palaciano? E as demais forças políticas vão trocar de camisa, a troco de quê? Acho que a entrada do Michel Temer na história fortalece muito o senador, mas não resolve os problemas regionais como um todo. Como você disse no início deste Papo, até junho muita coisa pode acontecer. 
 
 
Nerter – Ou nada pode acontecer também. No momento há muita movimentação das forças políticas. Mas nada garante que Ricardo Ferraço vá mesmo disputar o governo. Nada garante que Magno Malta vá mesmo disputar a Presidência. Ao que parece, de concreto, temos a candidatura de Casagrande e a de Balestrassi. 
 
Renata – Mas isso é hoje. Amanhã é outra história. 

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