Sexta, 17 Mai 2024

Em nome da vitória em 2014, Lula e Hartung deixam diferenças de lado

Em nome da vitória em 2014, Lula e Hartung deixam diferenças de lado
Nerter Samora e Renata Oliveira
 
A preocupação na cúpula do PT nacional em relação à reeleição de Dilma Rousseff joga os holofotes no minúsculo eleitorado do Espírito Santo. Papo de Repórter analisa os interesses incutidos na aliança PT e PMDB fechada por cima.
 
Nerter – Pelo andar da carruagem o palanque de Dilma Rousseff no Espírito Santo vai mesmo ser puxado pelo PMDB. E dentro do PMDB, o palanque ao governo vai ser encabeçado pelo ex-governador Paulo Hartung em vez do senador Ricardo Ferraço. As conversas em Brasília, com a presidente; e em São Paulo, com o ex-presidente Lula, mostram que sem conseguir por meio das estaduais, o PT e o PMDB vão fechar a costura por cima, tirando os partidos do palanque de Renato Casagrande, com quem as lideranças do Estado querem ficar na disputa de 2014. Mas será mesmo que esta é a melhor estratégia para a eleição do próximo ano? A presidente vem apresentando índices crescentes de aprovação, mas as pesquisas no Estado mostram que o PT continua sendo rejeitado pelo eleitorado capixaba. Será mesmo que Hartung terá condições de mudar este cenário e superar Renato Casagrande na disputa? 
 
Renata – São muitas questões a serem respondidas diante de um cenário bastante incerto que se desenha para 2014. O governador Renato Casagrande ofereceu a neutralidade na disputa presidencial para tentar manter o arranjo político formado em 2010, mas esbarra em dois problemas: o primeiro é o desejo do grupo do ex-governador em retomar o controle do Estado e da classe política e, segundo, na falta de confiança da cúpula petista sobre sua neutralidade. É verdade que a identidade partidária de Renato Casagrande com o presidenciável socialista Eduardo Campos é inevitável e o governador nunca teve uma relação maravilhosa com o governo Dilma. Mas, o sinal de alerta no PT nacional em relação à reeleição de Dilma deve estar ligado e piscando, para que Lula passe por cima do histórico de abandonos de palanque do ex-governador. 
 
Nerter – É interessante como o interesse do PT nacional vai ao encontro do interesse do grupo, não é? Hartung precisa de um mandato. Ao Senado vai ter de disputar a eleição com o delegado Fabiano Contarato (PR) que pode vir a ser uma surpresa. Disputar contra uma incógnita é algo muito arriscado. Para o PT Nacional, apostar as fichas em Ricardo Ferraço também é uma operação de risco. De quebra, tem o ex-prefeito de Vitória João Coser, que pega carona nessa história de que o PT não quer a vice e sim disputar a vaga ao Senado. Deu certinho. Mas como fica o senador Magno Malta (PR) nesta história? 
 
Renata – Pois é. O senador vem falando que vai disputar, que está disposto mesmo, mas acho que ainda não convenceu a cúpula petista. Além disso, tem a questão do teto eleitoral do senador. Eu não duvido que Magno dispute a eleição, mas, repetindo, a preocupação do PT nacional deve ser muito grande para recorrer a Hartung. Mas, o que a cúpula do PT e o ex-presidente Lula podem não saber é a fama que Hartung tem na classe política. Ele não tem qualquer identidade com o projeto do PT, aliás, esse projeto de reeleição de Dilma também não tem. Mas nada  garante que o ex-governador não repita sua atuação das eleições anteriores. Faça uma foto com a presidente na frente do Palácio Anchieta e depois lave as mãos. 
 
Nerter – Ainda mais se o desempenho de Dilma no Estado repetir o de 2010. Hartung não vai se esforçar para puxar a presidente. Até porque, ele sempre mantém aquele flerte com o ninho tucano. Não vamos esquecer que ele tem uma relação muito próxima com o presidenciável do PSDB, Aécio Neves, e a presença de seus aliados – Guerino Balestrassi, Paulo Ruy Carnelli e Anselmo Tozi – no ninho  tucano, e de Neivaldo Bragato, no DEM, também aumentam o risco de que Hartung só esteja jogando para atrair o PT, desidratando Renato Casagrande. 
 
Renata – E por falar em Renato Casagrande, essa movimentação também coloca o governador em alerta. As pesquisas ainda apontam para sua liderança no jogo eleitoral, mas ainda faltam 11 meses para a eleição e o cenário pode mudar. Essa história do saco de bondade, por exemplo, pode virar com a história dos incentivos, não é? Esse seria o grande trunfo de Casagrande, conquistando os prefeitos com a divisão do bolo, ele conseguiria o apoio necessário ampliando o palanque para além dos 22 prefeitos do PSB e ganhando a maioria, afinal todo mundo quer ficar do lado do cara da caneta. 

 
Nerter – Pois é, mas isso pode ter repercussão muito ruim para o governador. Municípios cobram o repasse de R$ 600 milhões de sua cota-parte em benefícios concedidos pelo Estado; disputa pelo dinheiro rememora polêmica de mais de uma década. Reza a Constituição Federal que os municípios devem ficar com uma fatia de 25% do bolo do tributo. Este valor deveria ser repassado para o caixa das 78 prefeituras capixabas, independente da renúncia ou não do imposto. Entretanto, o governo estadual não repassa o dinheiro sob alegação de que os valores não chegaram a fazer parte das receitas do Estado.
 
Renata –  E o que chama a atenção é que essa polêmica vem sendo tocada na Assembleia pelo deputado estadual Rodrigo Coelho, do PT. Essa história, aliás, teria irritado muito o governador, porque pode desmontar a estratégia dele para o próximo ano. A bancada do PT engrossa o coro dos petistas que querem continuar com Casagrande, até porque a eles interessa as costuras proporcionais também. A bancada tem cinco deputados estaduais e quer manter. Não será qualquer perna proporcional que irá sustentar esse projeto. 
 
Nerter – Mas, voltado a Lula e Hartung, a costura ainda não foi fechada, mas se for é melhor o PT nacional abrir o olho, registrar isso em cartório e vigiar de perto. 

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