Sexta, 26 Abril 2024

EntrevistaVictor Gentilli

EntrevistaVictor Gentilli

Renata Oliveira e Rogério Medeiros 

 

“Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data”
Luis Fernando Veríssimo 
 
Victor Gentilli está no Espírito Santo desde o início da década de 1980. Passou pelos jornais A Gazeta e A Tribuna. Desde esta mesma época, leciona no curso de Jornalismo da Universidade Federal do Estado (Ufes) e não deixa de acompanhar o dia a dia do jornalismo capixaba. Mas se diz triste com a falta de informação no Espírito Santo. 
 
Para o professor, os veículos de comunicação a partir de alguns episódios recentes adotaram um processo de autocensura que contribui para a despolitização da população, o que afeta o processo político no Estado. 
 
Gentilli fala sobre a formação dos novos jornalistas, o compromisso dos jornais com grupos políticos e a falta de aprofundamento e reflexão das grandes questões do Estado que, para ele, precisam de esclarecimento. Confira a entrevista com o professor Victor Gentilli. 
 
 
Século Diário– Professor fale um pouco sobre a sua trajetória, sua carreira como jornalista e professor.
 
–  Eu sou paulista, entrei em redação em 1975, lá em São Paulo. De 1979 a 1981 trabalhei na sucursal do Globo, em São Paulo, e me reportava a Estela Lastemaster. E quando vim para o Espírito Santo, a Estela disse: “Olha a referencia ali é Rogério Medeiros”. E depois fui saber que ela era mulher de Claudio Bueno Rocha, e fiquei indignado quando Francisco Aurélio Ribeiro deu o nome de Metrópoles ao antigo cinema Claudio Bueno Rocha. Quer dizer, você cria um negócio, faz a homenagem e vem alguém e desfaz. Em 1982 eu vim para cá, fui para a universidade, continuei trabalhando em jornal, Gazeta e Tribuna, e a partir de 1989 voltei para São Paulo para fazer mestrado e doutorado, entrei na vida acadêmica, da pesquisa. Acompanhei a criação do Observatório da Imprensa, com Diniz, em 1996, 97. Hoje estou na vida acadêmica, mas eu sou jornalista, penso como jornalista,  leio jornal como jornalista e a minha cabeça é essa. Hoje sou pesquisador, mas o meu objeto de pesquisa é o jornalismo e a relação do jornalismo com a política, a sociedade, a economia. Aliás, é importante dizer quem é que financia a campanha e o que significa financiar a campanha, qual o preço desse financiamento, isso é fundamental, é jornalismo.
 
 
 – Temos um processo político no Espírito Santo muito complicado, de certa forma antidemocrático, com uma interferência muito grande na vida dos partidos, das lideranças políticas. Hoje estamos em um processo eleitoral com o ex-governador Paulo Hartung (PMDB) tentando manter o controle político com a aceitação do atual governador Renato Casagrande. Como o senhor analisa esse processo?
 
– Quando vocês me ligaram para marcar a entrevista e disseram que o tema seria política, eu alertei que eu não era uma pessoa muito boa, porque eu só sei isso lendo jornal. E lendo jornal a gente não fica bem informado porque os jornais hoje infelizmente são muito pouco esclarecedores. O Espírito Santo tem problemas graves, grandes questões a serem discutidas, seja em nível estadual e nacional, que não se sabe. Acho que vou falar mais de jornalismo do que de política, mas sempre vinculando uma coisa a outra. Algumas coisas me chamam a atenção. Por exemplo, os jornais passaram meses falando em royalties, nunca explicaram como isso funciona e nunca foram ver os municípios, como isso se opera, enfim, não fizeram jornalismo. Eu perguntava para as pessoas, perguntava para aluno, aluno que lê jornal, se sabiam o que era isso e não sabiam. Todo mundo brigando, manifestação, mas e daí? Ninguém sabe como é isso. Aí apareceu o Fundap (Fundo das Atividades Portuárias). O Fundap é uma caixa-preta. Eu via o Fundap dois, três meses na capa do jornal e ninguém abria aquela caixa-preta. Quem são os fundapeanos? Como é que funciona? O que é isso de você ter uma isenção fiscal que era de 12%, e aí igualou para 4% para todo mundo? Então, o Fundap não vai acabar, vai acabar é o ICMS, e baixando o ICMS, a receita do Fundap vai diminuir. Alguém foi nas empresas perguntar se elas iriam embora? Coisas banais do jornalismo. É terrível você estar em um lugar e não ter conhecimento das coisas daquele lugar.
 
– Em relação ao posicionamento de parte da imprensa, temos uma situação interessante no Estado, em que nos oito anos do governo de Paulo Hartung não vimos uma crítica sequer sobre sua atuação, como se o governo fosse perfeito. Como o senhor vê isso?
 
– Isso é grave. E mais grave do que isso, é como isso foi operado e vendido. O que é política? A política é a mediação de conflitos. Se você não esclarece quais são os conflitos em jogo, quais são os interesses disputados, você não tem governabilidade. A governabilidade só faz sentido se você permite que os interesses apareçam às claras. As pessoas não sabem quais são os interesses em jogo. Se você tem uma unanimidade na Assembleia que dura cerca de 10 anos, essa unanimidade é péssima. Cada deputado é representante de um conjunto de interesses e esses interesses conflitam e todo mundo adere. Como funciona essa adesão? O que leva a você ter uma adesão nessa dimensão? E essa adesão inclui a imprensa, o Ministério Público, várias outras instituições.
 
– E o quão prejudicial é essa falta de informação para a população?
 
– É triste ver isso. Na campanha da Dilma, o horário eleitoral foi altamente despolitizado. Essa campanha, eu vejo pouco, algumas coisas aparecem no horário eleitoral gratuito e você tem pequenos bastidores e a imprensa cobre o bastidor. O Luciano (Rezende) pode ter assediado o Psol, como se ninguém soubesse que a estratégia do Luciano é chegar ao segundo turno e todo mundo faz tudo para alcançar o seu objetivo na política. Essa é a normalidade e é isso que precisa ser dito, precisa ser esclarecido. Se a gente não tem uma sociedade esclarecida, aí sim nós temos uma democracia muito ruim. A questão da cidade, ninguém discute, os grandes problemas urbanos que estão em jogo e nem os interesses políticos, e pior, os interesses políticos prevalecem às questões urbanas. Por exemplo, na Serra, a disputa está entre dois, não sei, mas me parece ser um jogo de interesse semelhante. O operador do jogo é diferente, mas o jogo é o mesmo. Então, não tem alternativa. Em Vitória você tem uma disputa que não é mais a unanimidade que já foi, agora, faz sentido, e ninguém chama atenção, um cara que foi humilhado há dois anos, que ficou com 16% dos votos contra 80%, dois anos depois se aliar com quem o humilhou? 
 
– O senhor está se referindo a Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB) e ao ex-governador Paulo Hartung?
 
– Claro. Ora, o Luiz Paulo foi derrotado por (Renato) Casagrande e o Paulo Hartung que operou essa aliança, mobilizou essa unanimidade para derrotar o Luiz Paulo. E é tudo normal, ninguém mostra. É triste ver e entender, quer dizer, o jatinho do Zé Dirceu desce aqui, alguns dias depois, Ciro Gomes desiste e aí tem a mudança aqui. Essas coisas precisam ser explicadas. Se a política é ruim, o jornalismo precisa mostrar que a política é ruim. Se nós temos problemas aqui, e o jornalista não mostra isso, esses problemas se agravam.
 
– O que o senhor pensa sobre essa isenção que os jornais pregam sob o manto da lógica de ouvir os dois lados?
 
– O jornal da ANJ (Associação Nacional dos Jornalistas) traz um artigo do Eugênio Bucci dizendo que os jornais precisam ser plurais, defendendo o pluralismo nos jornais e hoje a ANJ é presidida pelo Café  [Carlos Fernando Monteiro Lindenberg Neto, diretor-geral da Rede Gazeta]. Aliás, o Século Diário foi censurado, isso foi notícia na Folha de S. Paulo, no Globo e foi notícia porque uma nota da ANJ denunciou isso, os jornais de fora dão e os jornais daqui não dão. Espero que a ANJ continue denunciando essas coisas. 
 
– Isso é interessante porque estamos indo para o 13º ano e sempre fomos classificados como sensacionalistas por conta das denúncias ou nosso posicionamento. Agora, as coisas começam a ser reveladas e os jornais se perderam. Isso consolidou a confiança do nosso leitor no nosso trabalho. 
 
– Tudo que se fala de Século Diário nunca foi escrito. É só dito, só corre na onda do boato. Então eu pergunto: por que o jornal nunca criticou Magno Malta (PR)? Faz parte, é o jogo. Vocês tomam posição. Eles criticam, mas não esclarecem. Vocês também não esclarecem como é esse acordo. Eu coloco vocês também em algumas ausências onde acho que faz falta. Agora, quando o dito é o que vira notícia e não o que significa aquela fala você não tem esclarecimento. Vocês dão informação e tomam posição. E agora a presidente do Iases [Silvana Gallina] está presa, vocês falaram o tempo todo. Os jornais disseram que prendeu, mas ninguém acompanha. Eu quero voltar um pouco para dar a dimensão da coisa. O Rodney Miranda (DEM) lançou um livro cheio de pseudônimos e ninguém disse quem é quem. Aí os jornais dizem que há uma crise entre os coronéis e o Rodney e ponto. Agora, que crise é essa? Quais coronéis? Por que eles estão brigando?
 
– Estamos sob censura não podemos falar sobre esse caso e outras figuras também...
 
– Eu acho que vocês tinham que desobedecer. 
 
– Mas...
 
– Eu sei. Eu sei que vocês não podem. Mas isso é inconstitucional e tem que ficar claro. São pequenas coisas... vocês essa semana chamam a atenção para um problema sério, que é a relação entre a Futura e a Gazeta, o conflito de interesses. Agora, eu quero chamar a atenção para uma outra coisa, a Futura não faz pesquisas, faz sondagem, a sondagem é um primeiro levantamento de dados que vai permitir que se faça uma pesquisa depois. Pior, ela se autointitula “instituto”. Instituto é uma coisa instituída, instituto é uma instituição, como alguém se autointitula instituto e todo mundo repete? 
 
 
– Essa questão é complicada porque muda o destino político de um município, de uma eleição, porque favorece o voto útil, influi no cenário eleitoral. 
 
– Eu vou falar uma coisa: as estrelinhas que vocês fazem, é jornalismo. Pesquisa não é jornalismo, é sondagem. Na estrelinha você tem a percepção do jogo político e a partir dali vocês fazem a cotação. 
 
– E temos processos por causa disso. Mas para fazer isso, há um acompanhamento o ano todo. 
 
– Mas quem cobre política tem que conhecer, tem que saber como é o jogo político. Sabendo como é a política você não precisa do instituto. Quando surgiu a política há uns 30, 20 anos, foi o Datafolha, e a política virou isso. 
 
– Agora, quando se recebe um jornalista recém-formado percebemos a ideia incutida de que a liberdade de imprensa é do patrão e não do jornalista, que muitas vezes é confundida com a linha editorial.
 
– Isso é terrível. Os alunos entram na faculdade e isso não é aqui no Espírito Santo, é no Brasil. O aluno no primeiro período quer fazer jornalismo com essa percepção. E como é que eu reverto se não tenho sequer uma referência para dar, de como se faz bom jornalismo? Leio Gazeta e Tribuna e o Valor (Econômico). Acho o Valor um grande jornal. E é curioso... acho uma bobagem esse negócio de PIG, mas o Valor nunca entrou no PIG. Tem um público específico que precisa daquele tipo de jornal, e eu acho que o Estadão, o Globo... e tantos jornalistas que o Espírito Santo perdeu, como Leonêncio Nossa, Rodrigo Rangel. Temos jornalistas do Estado na Veja, na Carta Capital, no Globo. Nos anos 90 foi uma geração inteira para o exílio. 
 
– De quem é a culpa? Dos patrocínios, do poder público, da visão dos jornais, de quem?
 
– Tem um processo geral. Essa despolitização da política é uma tendência geral no mundo, acentuada no Brasil e levada ao paroxismo no Espírito Santo. Acho que o processo começou a piorar com o “Chicago é aqui”. Esse foi o artigo do jornalista Fred Brum, que gerou um processo judicial contra a Gazeta e nesse artigo ele relatava todo esse cenário do Judiciário capixaba, que foi desbaratado anos mais tarde pela Operação Naufrágio. Tudo isso, ele já dizia naquele artigo. Ele foi demitido por isso. Aí começou a dificuldade, porque em vez de continuar a briga, os veículos passaram a se autocensurar. Isso foi em 1996. Quando eu vejo a Gazeta, quando vejo Antônio Carlos Leite falar contra o controle da mídia, eu falo: alguma vez houve um controle maior da mídia do que o grampo da Gazeta? Quem foi grampeado e está quieto pode falar em controle da mídia? O mais controlado de todos. Controlado por um Guardião, 200 jornalistas. Isso deveria ser denúncia internacional. Os grandes órgãos de jornalismo do mundo deviam se pronunciar. 
 
– Mas aí tem um pouco de culpa também da própria categoria que não briga por isso...
 
– Claro. Eu estou dando só alguns exemplos, como o Chicago é Aqui e o grampo, mas são vários outros, que contribuíram para isso e culminam com a Gazeta minguando dessa forma, mudando a postura.  
 
– O senhor está dentro da academia, professor, como lida com isso? 
 
– Isso é muito triste. Tem dados fundamentais para se ter como referência. São dois mil jovens negros, pobres, de periferia que morrem por ano. As pessoas não entendem a dimensão, o que isso significa. Só para se ter um termo de comparação para se pensar em políticas públicas, a dengue matou cerca de 30 pessoas em 2011, a violência matou dois mil. E nos jornais isso banalizou muito: fulano morreu, beltrano morreu, mas não se acompanha. Nem o velho jornalismo, nem o jornalismo mais moderno. Na Ufes tem gente que pesquisa violência que poderia dar boas matérias. 
 
– E houve uma mudança dos jornais para essa área policialesca, não é?
 
– Isso é terrível. Mas uma coisa precisa ser dita: o primeiro a fazer isso, chama-se Tião Barbosa, na Bandeirantes, com Na Mira do Repórter. A partir daí a coisa começou. 
 
– E vende, não é?
 
– Vende, mas é triste. Vejo ex-alunos aceitando isso, tendo essa percepção. É mais do que resignação, porque quando você tem resignação você tem consciência de que há um problema, mas isso é além, às vezes as pessoas sequer percebe que há uma coisa errada aqui. 
 
– Nessa questão do grampo, vale destacar a figura de Rodney Miranda, que foi apontado como quem orquestrou essa situação, tanto que ele foi “exilado” em Pernambuco por conta disso. Depois voltou, como se nada tivesse acontecido, aplaudido pelos meios de comunicação, e enquanto isso a situação na área de segurança pública estava se degradando cada vez mais, com denúncias de tortura em presídio, que chegaram até à ONU (Organização das Nações Unidas), o que foi tratado de forma superficial por parte da impressa. Rodney foi testado nas urnas, eleito deputado estadual e agora disputa novamente. E, além disso, teve o livro...
 
– Olha, o livro [Espírito Santo] é bom. O livro precisava era ser esclarecido. O livro conta coisas que não foram ditas no jornal e que eu fui ler no livro dele. Agora, fundamental, o livro dele esqueceu do grampo, da personal trainer e ninguém perguntou. Acho que ele foi corajoso, no livro ele e outros escreveram com nome de todo mundo, mas não contam quem é quem. 
 
– Por falar em censura, tivemos um episódio interessante aqui no jornal, em uma matéria do colega Nerter Samora, em que uma juíza, além da censura à matéria,  nos dá “dicas” de como proceder no nosso trabalho. Como o senhor avalia isso?
 
– Eu tenho que insistir, tem que desobedecer, mostrar o absurdo disso e lamentar o quanto isso foi lamentável. Os caras publicam diariamente que não podemos ter controle da mídia, aí vocês são censurados, eles foram grampeados e o controle da mídia é o que o Franklin Martins quer fazer? Que autoridade você tem para falar em controle da mídia se você não percebe o que acontece aqui?
 
– Este ano o senhor se inscreveu no prêmio Herzog, não é?
 
–  Saiu um edital do instituto Vladmir Herzog, que é um prêmio. Eu queria ganhar esse edital, são três e o Brasil inteiro está concorrendo. A pauta que eu dei é a prisão de dois integrantes do PCB Amorim e Laura..., mas principalmente o vínculo daquela prisão com a reportagem, a fotografia e a publicação daquilo no Diário. Isso é uma coisa que ninguém chamou a atenção. O que significava, em março de 1971, o jornal fotografar esses presos. Os agentes que vieram do DOI/CODI (Destacamento de Operações de Informações/ Centro de Operações de Defesa Interna) em um bimotor para cá para levar presos para São Paulo. O Diário foi lá e fotografou, colocou na primeira página do jornal. E é uma pena não termos os arquivos disso para registrar a imagem. Com a história da Comissão da Verdade, peguei esse episódio e analisei que merecia uma boa matéria. O que significava aquela prisão e o jornal noticiar. 
 
– As atrocidades da ditadura estão vindo à tona.
 
–  Rogério Medeiros fez um livro [Memórias de Guerra Suja] excelente botando Cláudio Guerra para dar declarações e fez um livro excelente. Aliás, quem percebeu a dimensão da importância desse livro foi Alberto Diniz e ele não é qualquer pessoa. Eu não me lembro de alguma vez o Observatório da Imprensa ter feito dois programas seguidos sobre o mesmo assunto, um entrevistando você e outro vindo aqui para entrevistar Cláudio Guerra. Ele é jornalista e sabe o que isso significa e tem tanta coisa naquele livro. Eu quero insistir na questão do jornalismo e na questão da política que você está colocando. É inconcebível uma pessoa como Camilo Cola ser chamado de matador, de mandante de crime, e o PMDB não falar nada, nem o Camilo publicar uma nota oficial, nem o jornal questionar isso, Ministério Público ficar quieto. Esse é um fato de uma série que é apontada no livro, mas esse tem uma relevância política, porque é um deputado federal, que está aqui e é acusado, e isso precisa ser apurado. Ele precisa se defender. Ninguém foi lá perguntar para ele o que acha. E aí estou falando da imprensa nacional também.
 
 
–  Mas o livro mostra um atentado na casa de Roberto Marinho a mando do próprio Roberto Marinho, a utilização do carro da Folha de S. Paulo...
 
–  Sim. Estou citando só uma coisa, porque tem muita coisa ali. Aliás, se você comparar, os dois agentes que têm informação para dar, os dois estão aqui no Espírito Santo, que são o Cláudio Guerra e o Marival Chaves e se você comparar o texto de um com o texto do outro, eles se complementam. O Orlando Bonfim, o Marival fala que ele foi jogado no rio, era o DOI/CODI de São Paulo. Os nomes não conflitam. Tudo faz sentido.
 
– E sobre a chegada de Carlos Fernando Lindenberg à presidência da ANJ?
 
–  O Café foi eleito presidente da ANJ, ninguém foi procurá-lo para comentar o que ele vai fazer. Ele assumiu a Associação Nacional dos Jornais, ele representa os grandes, médios e pequenos jornais. Voltando no tempo, Cariê tem razão quando ele diz que a ditadura fez bem ao jornal, porque ele pegou o jornal do pai dele do PSD e despolitizado, ele tinha que fazer uma coisa melhor e fez.  De uns tempos para cá, muitas coisas aconteceram e os jornais pioraram muito. Em termos jornalísticos, o Casé e o Luciano fizeram da Tribuna, que não era nada, um jornal que vende bem, superou a Gazeta
 
–  É um jornal competente dentro da linha que se propõe.
 
–  Sim, fez um público que não lia jornal passar a ler, tem seus méritos. Mas também tem problemas e na questão das masmorras isso ficou evidente. Não me interessa se foi o governador que mandou ou se foi autocensura, o fato é que a coluna do Élio Gáspari não saiu, houve censura. E não é apenas a censura ao Élio Gáspari, é a questão da ausência do poder público. Ele denunciou que o problema ia ser levado para a ONU. Vocês haviam noticiado antes, o que ele fez foi dar a dimensão nacional do fato. 
 
–  A censura foi abafar o fato...
 
E aí não é um problema simplesmente político, é social e é uma grande pauta. Cadê os grandes repórteres que cobrem as grandes pautas? 
 
–  A Record, inclusive, veio ao Estado e houve uma movimentação muito grande do Palácio Anchieta para evitar que a matéria fosse ao ar...
 
–  E faz sentido o governador Casagrande manter o secretário de Justiça? Faz sentido não se dar qualquer esclarecimento? E faz sentido os jornais não verem esse absurdo? O meu olhar jornalístico está sempre presente. 
 
–  E a coisa parece ser mais grave, professor, porque no momento em que o deputado Gilsinho Lopes (PP), que é presidente da Comissão de Segurança da Assembleia e delegado, vai para a tribuna da Assembleia e pede a demissão do secretário, percebe-se na forma como os jornais colocam uma tentativa incutida no texto de desmerecer quem está cobrando. 
 
–  Um deputado que cobra isso tem uma relevância jornalística fundamental e tem que ter o destaque e o acompanhamento e dizer que o governador ignorou e continua ignorando. Eu sou professor de jornalismo, leio os jornais. Essa semana vi no jornal uma matéria sobre a Ufes, são duas matérias, uma do Ministério Público cobrando por conta daquele estupro e uma matéria de um assalto no campus. Uma está na página cinco e a outra na página 13. Se o jornal não é capaz de amarrar os fatos, quem é que vai fazer isso? O jornalismo é necessário, um jornalismo que cobre, que investigue, que tome partido, se for o caso. 

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