Sábado, 04 Mai 2024

???Essa coisa de unanimidade de condomínio tem de ser questionada???

???Essa coisa de unanimidade de condomínio tem de ser questionada???
Rogério Medeiros e Renata Oliveira
Fotos: Gustavo Louzada/Porã
 
Tucano desde abril de 2013, o ex-prefeito de Colatina (noroeste do Estado) Guerino Balestrassi parece já ter assimilado completamente o discurso do PSDB. Ainda no início do segundo semestre do ano passado, logo que deixou o comando do Banco de Desenvolvimento do Estado (Bandes), ele anunciou em um encontro com a Executiva Nacional do partido o interesse de disputar o governo do Estado. Balestrassi sabia exatamente o que isso significaria. Além de ter de erguer o palanque do presidenciável tucano Aécio Neves no Estado, ele teria de enfrentar o palanque palaciano, comandado pelo ex-correligionário, Renato Casagrande. 
 
 
E, para isso, vai enfrentar a marca do governador no interior. Guerino tem afinidade com a pauta municipalista, já que esteve à frente da Associação dos Municípios do Estado (Amunes) e foi vice-presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM).
 
Nesta entrevista a Século Diário, o tucano demonstra sua motivação para a empreitada, dispara contra a unanimidade em torno do governador, critica a imagem de governo municipalista que é vendida pelo socialista, e mostra que não sofre pressão alguma por entrar em uma disputa tão dura para o PSDB. 

 
 
Século Diário – O processo eleitoral que vem por aí guarda certa semelhança com o processo que elegeu Renato Casagrande. Havia um candidato da unanimidade, que seria o hoje senador Ricardo Ferraço (PMDB), depois substituído pelo governador Renato Casagrande, e o candidato do PSDB, Luiz Paulo Vellozo Lucas. Tudo indica que essa unanimidade irá se repetir no Estado e só sobrará Guerino Balestrassi como alternativa. Vai topar?
 
Guerino Balestrassi – Vou sim. Me preparei para isso, independentemente da situação. É lógico que o melhor modelo de eleição, que a população gostaria de ter, seria com cada um defendendo sua bandeira, com quatro, cinco candidaturas. O ideal seria que o Magno [senador Magno Malta (PR)] e o Ricardo [Ferraço] fossem candidatos.  A eleição no primeiro turno leva muito em conta as proporcionais. Se conseguíssemos levar a eleição para o segundo turno, a maior beneficiada seria a população. É isso que eu percebo que a população quer, porque uma eleição com essa característica que está se formando, visando tempo de televisão e coligações, fica morna, e o morno não é bom. Mas eu estou preparado para isso.
 
– Está preparado para pegar a fera? Vai ser um contra um. 
 
– Exatamente, mesmo com somente dois minutos de tempo de televisão. Não acredito que ninguém virá se alinhar conosco. Primeiro por causa do recurso financeiro, que nós não temos, segundo porque estamos em uma eleição em que a ideia política é que nós não vamos ganhá-la. Como as alianças se fecham antes, são antecipadas, não vamos conseguir aliados. 
 
– Em 2010, o PSDB teve ao seu lado aliados históricos em nível nacional, como o DEM, o PPS e o PTB. No cenário nacional houve a diluição do DEM, com a criação do PSD, e o PSD não deve caminhar com o PSDB, assim como o DEM, que se aproxima do governo; o PPS, no Estado, já se alinhou ao palanque palaciano. Então, provavelmente, aqueles partidos que estiveram com os tucanos em 2010, não vão estar agora. 
 
– Não tenho garantia disso. O Aécio [senador Aécio Neves, presidenciável tucano] está com dificuldades em fechar alianças em cima, imagina eu aqui. Não trabalho com essa hipótese, mas se vierem, serão bem-vindos. 
 
– O senhor é cristão novo no PSDB, mas daquela disputa de 2010 entre tucanos e o palanque palaciano, o que muda para essa nova edição?
 
 
– O que muda é que nós estamos um passo de vez. O que muda é que planejamos a construção de uma chapa proporcional, com deputados estaduais e federais. Hoje estamos com uma chapa de estadual com quase 45 pré-candidatos, para selecionar em torno de 30. Não existia na época. A outra coisa é que temos uma chapa de deputado federal que, neste momento, tem três âncoras: Max Filho, Luiz Paulo Vellozo Lucas e César Colnago e mais nove pré-candidatos. Podemos ter uma chapa capaz de eleger dois e, dependendo do que acontecer, até três federais. Essa estrutura é ideal para fortalecer a chapa proporcional. Uma eleição de confronto direto como esta ajuda na construção da proporcional e dificulta para a majoritária. Dificulta porque é um confronto direto e vamos ter pouco tempo de televisão, mas os proporcionais vão ter destaque, vão se diferenciar. A expectativa é de chegar a mais de 200 mil votos para estadual e mais de 300 para federal. 
 
                    
 
– Acho que está muito otimista...
 
– Estou. Tenho que estar, não é?
 
– Mas o PSDB também está conversando com Renato Casagrande...
 
– O PSDB não vai estar em uma aliança em que estiver o PT. Esta é uma decisão da Nacional. No próximo dia 11 haverá uma reunião da Nacional em que isto será colocado categoricamente. Quem vai decidir é a Nacional. Aqui no Estado o PT dificilmente sairá da aliança com o PSB, por isso, vamos estar longe desta aliança. 
 
– O DEM tem alguma possibilidade de estar com vocês, embora o presidente do partido, o prefeito de Vila Velha, Rodney Miranda, já tenha declarado preferência pelo palanque de reeleição de Renato Casagrande?
 
– Só se vier de cima para baixo. Aqui, dificilmente vamos conseguir formar aliança. 
 
– Nem na proporcional?
 
– Não, na proporcional eu prefiro ir para o sacrifício e fortalecer a chapa tucana, porque meu projeto principal é eleger na proporcional. Não descarto a possibilidade, há muitos casos na política, Renato Casagrande, Albuíno Azeredo, eu, em Colatina, quando comecei....mas a prioridade do meu projeto é eleger proporcional. 
 
– Mas o cenário é desfavorável para vocês...
 
– É desfavorável agora, mas ninguém pode vender o preço do futuro no valor de hoje. Isso só vai se intensificar depois da Copa. 
 
– As projeções são de que o partido faz um federal...
 
– Nas eleições passadas, faltaram 15 mil votos para elegerem dois, quando só tinham dois candidatos. 
 
– Há uma situação complicada para esta eleição, que é a tendência de um aumento muito grande de votos nulos e brancos, que refletem uma rejeição do eleitorado à atual classe política. Para onde vão esses votos?
 
– Essa é uma vantagem para nós, porque vamos entrar com um grupo novo. Temos vários candidatos rodando o Estado e que estão entusiasmados neste projeto. Isso pode ajudar, é um fator. Mas a eleição... o povo não quer falar sobre isso agora. Ele tem pressa nos serviços, muita pressa em resolver as demandas, os problemas graves em que se encontram o Estado e o Brasil, mas ele não tem pressa no processo eleitoral, não quer saber em quem votar. 
 
– Mas o campo da política é escorregadio. Em nível nacional, o PSDB e o PSB estão juntos...
 
– O Aécio fez um movimento para evitar que a eleição fosse decidida no primeiro turno. Ele fez um movimento de agrado para que Eduardo Campos [governador de Pernambuco e presidenciável pelo PSB] fosse candidato. Conseguiu tirar o PSB do governo federal, colocar o Campos na oposição, ele sempre foi aliado do PT. Conseguiu motivá-lo a ser candidato. Mas agora é chumbo trocado, o Aécio motivado, Campos motivado, agora é saber quem vai para o segundo turno, torcer para que tenha esse segundo turno. Mas ele precisava fazer esse movimento, porque o confronto no primeiro turno PT-PSDB não era interessante. E nem o confronto aqui entre PSB e PSDB é interessante neste momento, mas, infelizmente, é o que pode acontecer. 
 
– O PSB oferece um palanque de neutralidade, que é complicado, já que a própria identidade partidária aproxima Casagrande de Eduardo Campos, mas o PT pretende apresentar uma candidatura ao Senado, que garante o espaço de Dilma neste mesmo palanque. E o PSDB, como vai trabalhar a campanha de Aécio no Estado? E como entra o candidato do partido ao Senado, coronel Luiz Sérgio Aurich, nesta história?
 
– O PSDB tem candidato ao governo e ao Senado e todo mundo vai entrar fazendo campanha para o Aécio no Estado e o Aécio fazendo campanha para nós. Isso também pode ser um fato diferente, porque a nossa relação com Minas é muito diferente da relação com São Paulo. O PSDB tem sempre ganhado aqui, e como Minas tem mais identidade com o Espírito Santo, isso pode ajudar na campanha do Aécio. Vamos vestir a camisa do Aécio. No fim da eleição passada, eu defendi que o candidato tinha de ser o Aécio e ele teve um papel que o projeto aqui no Estado não fez. Ele colocou um vice, elegeu o vice. Construiu um projeto político interessante, que nós aqui não fizemos. Foi um erro neste processo todo. Ele tem um perfil municipalista muito forte. Casagrande só tem fala municipalista, mas ele destruiu todos os gestores municipais. Todos os prefeitos estão praticamente na lona por causa do governador. Para tentar se levanta, ele naufragou todos os gestores municipais. Não tem um que esteja bem. Esse desequilíbrio que aconteceu com Rodney atinge também os outros prefeitos. Ele não teve competência de fazer as obras e agora joga na conta dos prefeitos. Os municípios vão ser fiscalizados e daqui a dois anos esses vão estar presos, porque a fiscalização será feita quando a obra estiver pronta. A incompetência do Estado está matando os gestores municipais, coisa que Aécio não fez. Então, essas coisas vamos defender no palanque.
 
– Pelo jeito, o discurso de oposição do PSDB já está pronto. 
 
– Nós temos identidade com o PSDB, sempre tive excelente convivência com os tucanos. O PSDB, no meu mandato em Colatina, chegou a ter cinco secretarias, no primeiro mandato. E tinha o PT ao meu lado também, mas não era amplo. Em 2000 ganhei como azarão com PT e PSB. Em 2004, juntou PSDB e eu fui com esse grupo. Eu poderia ter ampliado, mas eu vi que não cabia. Esse é o discurso que precisa ser encarado aqui no Estado e ninguém tem coragem. Isso eu pratiquei. Disse que não cabia todo mundo, a administração tem de ser enxuta. Vamos ficar com um grupo pequeno e ficamos. No Estado, não, é todo mundo. Se o governo tem aprovação de 30%, tem a Assembleia com 100% apoiando. Quando a população olha, não sabe a quem procurar. Se tem uma demanda contra o governo, contra um secretário, procura qual deputado? Não tem. Isso não cabe. Essa coisa de unanimidade, de condomínio, tem de ser questionada. E eu sempre questionei. 
 
– O fato de ter passado pela Rede, de Marina Silva, pode ter favorecido sua entrada no público das redes sociais?
 
– Eu não sei. É difícil prever o que pode acontecer. Tenho uma simpatia pela Marina, tenho um relacionamento muito bom com o Walter Feldman [deputado federal pelo PSB-SP], mas não sei o que pode acontecer nessa eleição.  
 
– Mas as redes sociais vão dar seus indicativos...
 
– Não dá para avaliar. Eu não jogo a força toda em uma ação ou outra, acho que é o conjunto da obra, o que podemos aproveitar de espaços que possam surgir. Não acredito em uma solução única, seja nas redes sociais, seja nos debates, seja nas mobilizações na Copa do Mundo. Acho que é o conjunto, a insatisfação do povo. Hoje há dois estados do Espírito Santo. Há o Espírito Santo daqueles atores lá, maquiado, com esse investimento pesadíssimo que o governador está fazendo. Aliás, acho que a imprensa investigativa tinha que trabalhar nisso. O que se gastou em publicidade neste governo é muito dinheiro. O que ele colocou de dinheiro para se promover e mudar o foco das promessas que ele não conseguia cumprir. O outro Espírito Santo é a realidade, bem diferente. Eu percebo isso, estou todos os dias em contatos com a população. Não é essa fotografia que está aí. São dois estados, um maquiado e outro da insegurança, das obras não cumpridas. Então é muito cedo para dizer o que pode definir. Até porque, a população tende ao equilíbrio em uma eleição como esta. Não é Fla x Flu, se está jogando Vasco e Bangu e o cara não é nem Vasco nem Bangu e é o que a população é hoje. Vai torcer para o Bangu. Tem uma tendência ao equilíbrio que não pode ser descartada. Estou muito animado com a eleição, não me preocupo em perder, resultado é o de menos. Se eu fizesse questão de mandato, me candidataria a federal, a estadual, que é uma disputa que teria mais possibilidades, mas não é isso que me interessa. 
 
– Tem disputa para o Senado ou o coronel Aurich está confirmado como candidato?
 
– Aurich está muito motivado para ser nosso candidato ao Senado. É nosso pré-candidato. É lógico que, se vier de cima para baixo uma composição com algum partido que indique um nome, temos que chegar ao Aurich e ter uma conversa com ele sobre o que é melhor para o partido. Tanto eu como ele temos conversado sobre isso. Mas, a princípio, a chapa está formada. Guerino e Aurich. 
 
– Como vê essa disputa ao Senado ?
 
– A gente não sabe quem vai disputar. Uns dizem que é o Hartung, [João] Coser, Rose [de Freitas]. 
 
– O Aurich como uma novidade pode surpreender?
 
– Ele tem um discurso muito interessante para a sociedade. A questão da segurança, gente! É propaganda na televisão dizendo que está tudo ótimo e mãe sepultando o filho. Ou de acidente ou droga. Essa realidade é dura. Ele tem um discurso neste sentido. É um complemento do que me falta. Aí temos que achar quem tem o perfil de vice, que me complementa no discurso e na prática. Mas tanto eu quanto ele temos identidade do que a gente faz com o que fala. 
 
– O PSDB fez uma série de seminários em várias regiões do Estado para discutir a eleição deste ano. O que foi aproveitado desses encontros? Já existe um projeto de governo sendo alinhavado? 
 
– Tem. Temos as diretrizes feitas pelo Aécio, que eu achei muito interessante. E nós temos que fazer algo próximo daquilo, verificando as demandas do Estado. Olha, as demandas do Estado estão expostas. Tanto no 2025 como no 2030 você tem as demandas e detectamos nos nossos encontros, os macroproblemas. Você precisa desse enfrentamento na gestão. Temos isso alinhado para falar como vamos fazer. Não há nada que os governos não saibam. Tem que saber executar operacionalmente.  
 
– Não tem que inventar a roda...
 
– Não tem que inventar a roda. O problema é de gestão. 
 
– Muitos tucanos ficaram empolgados com os encontros justamente por essa imagem de gestor, de planejador, que foi passada com suas falas.
 
– Eu tenho um perfil técnico e visão de planejamento, mas também tenho experiência operacional, sou empreendedor, e isso me ajudou na minha empresa, na Prefeitura de Colatina, na presidência da Associação dos Municípios do Estado (Amunes) e no Comitê da Bacia do Rio Doce. Então eu tenho experiência em operacionalidade também. Mas o que passei para o PSDB é que precisávamos de um planejamento. Quantos votos precisaríamos para eleger deputado federal e deputado estadual trabalhando no solo, ou seja, considerando a possibilidade de irmos sozinho? Estamos trabalhando nesta hipótese. Se vierem aliados, vamos pensar, mas queremos trabalhar nossas chapas proporcionais. 
 
– O senhor já esteve no PSB, já foi correligionário de Renato Casagrande, e tiveram seus altos e baixos, partidariamente falando. Já foi do governo, no Bandes. Quer dizer, conhece bem seu adversário. O quanto isso ajuda na construção de um palanque de oposição?
 
– Ajuda muito porque eu sei como o PSB opera. Nunca fui uma pessoa muito partidária, nunca quis ser gestor de partido, tanto que comeram a minha boia em 2008 porque eu não administrava o partido. Eu não queria ser presidente do partido, mas cheguei a ser vice-presidente. Depois de Renato, era eu. Eu que fiz o acordo para eleger Renato Casagrande deputado federal, eu que ajudei na coordenação dele para o Senado, em articulação com os prefeitos. Todas essas estruturas de eleição eu conheço bem e conheço como opera o PSB. O sistema operacional deles é muito parecido com o do PT, é basista. Mas não vamos levar para o lado partidário, vamos discutir a gestão. E o que eu não concordo com esses governos é o arranjo de cooptação. Governo tem de ser enxuto, senão você tem que gastar energia o tempo todo com conflito interno. 
 
– Esse é o problema da unanimidade...
 
– Além de ser esse o problema, o que mais me chateia é que isso é a falta da política. O esquema de política, o fluxograma, é uma marca de governo, gestão administrativa e a gestão política, mas a gestão política está indo para cima da gestão administrativa e da marca. Isso inibe a gestão administrativa, os conflitos são muito grandes, e aí fica todo mundo contra a parede. O operacional não funciona. O gestor lá, o secretário, não toma decisão. Não toma porque tem medo. E aí vira um processo de judicialização. A população não identifica mais a política para a solução de seus problemas, aí ela vai para o Judiciário, os órgãos de controle, AGU [Advocacia-geral da União], CGU [Controladoria-geral da União]  O volume de recursos nos órgãos de controle vão lá para cima, a quantidade de gente lá para cima. O que tínhamos de ter é uma definição clara de quem governa e quem fiscaliza. O modelo clássico.



O PSDB estava no governo, o PT fiscalizava, e isso era muito bom para o Brasil. O PT foi para o governo, o Lula fez acordo com o PMDB, acabou com a oposição, não tem mais quem fiscalize. E esse modelo implantado por Lula universalizou para os estados e municípios. Aqui deu no que deu, naquele processo de reconstrução do Estado que era uma coisa transitória, de um momento, virou definitivo. Isso não funciona. Temos que ter quem governa e quem fiscaliza, aí a política funciona e a população vai  procurar a política, e não os órgãos de controle. Os órgãos de controle se empoderando do jeito que estão não deixam a máquina andar e os administradores têm medo de assinar qualquer coisa. O governo não anda e está repassando para os municípios. Daqui uns dias, os prefeitos estão presos. 

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