Sexta, 03 Mai 2024

Fator Magno Malta é mais uma variável na matemática eleitoral 2014

Fator Magno Malta é mais uma variável na matemática eleitoral 2014
Nerter Samora e Renata Oliveira
 
 
Os movimentos do senador Magno Malta (PR) em nível nacional não convencem a classe política capixaba de que sua estratégia é para fora. Enquanto isso, Casagrande e Hartung articulam para evitar um palanque de oposição inflado pela visibilidade nacional do republicano.
 
 
Nerter – Enquanto todo mundo pulava o Carnaval, o senador Magno Malta (PR) foi no jornal Globo e deu uma declaração surpreendente, disse que já tinha fumado maconha na adolescência, para legitimar a estratégia política do discurso que adotará na eleição deste ano. Justifica seu discurso antidrogas com uma experiência de cadeira, dizendo que já esteve “do outro lado do balcão”. Ou seja, sem conseguir emplacar a CPI dos planos de saúde, que lhe renderiam uma penetração na classe média muito forte, ele apela para outro discurso que atinge diretamente também essa classe. O combate à criminalidade por si só, pressupõe um discurso para a classe mais baixa e a pedofilia já é uma roupa usada. Mas cruzada contra as drogas, dentro de seu conceito de proteção à família, é ainda mais abrangente. 
 
Renata – Com certeza. Mas a dúvida da classe política é se esse discurso de Magno Malta é uma estratégia para a candidatura a presidente da República ou para a eleição ao governo do Estado. Ora, se ele diz que não abre mão de que o delegado Fabiano Contatato (PR) dispute o Senado e partindo do princípio de que o PR não tem outro nome senão ele próprio para a disputa no Estado, a impressão é de que esse discurso, que está muito forte no Espírito Santo devido ao alto índice de criminalidade, seja o foco que ele usará para a disputa estadual. Mas, para confundir o mercado ainda mais, ele vem pressionando o PR de fora para dentro como quem busca de fato a viabilização de sua candidatura presidencial. 
 
Nerter – Bom, uma coisa parece certa, o PR não vai deixar o governo Dilma Rousseff para embarcar na aventura de Malta. Ao menos que seja realmente uma estratégia casada com o palanque de Dilma, para facilitar o acesso da presidente ao público evangélico. Mas não dá para acreditar em Magno Malta no papel de laranja da Dilma. Isso não tem nada a ver com o perfil do senador. Ele está correndo o País, buscando apoio, tentando ampliar sua imagem com as lideranças políticas, já tem até artista encampando seu slogan e empregar artistas em sua campanha sempre foi uma prática que dá certo. Líderes religiosos também entram nessa estratégia. Enfim, ele tem feito um movimento para fora. 
 
Renata – E isso é que deve dar um nó ainda maior na cabeça da classe política capixaba. Embora se tente diminuir o potencial político do senador republicano, com evasivas – afinal, enfrentar seu discurso conservador é perder voto, porque o eleitorado é tão conservador quanto ele –, os líderes políticos do Estado sabem muito bem o quanto é arriscado ter um palanque de oposição com Magno Malta à frente. Agora potencialize isso com a visibilidade nacional que ele pode conseguir até junho com essa história de candidatura a presidente. 
 
Nerter – Se ele não conseguir emplacar o projeto nacional, não será por sua desistência e sim pela negativa de legenda. Então ele desce para a disputa estadual. E aí tem um discurso pronto para enfrentar quantos palanques estiverem montados. Veja bem, não estou dizendo que ele ganha a eleição. Mas vai colocar fim a essa coisa repetitiva de disputa do governo do Estado sem debate, sem pega pra capar. O palanque palaciano continua em vantagem, mas vai ter que limpar sua vitrine depois que o senador acionar sua metralhadora giratória.
 
Renata – É claro que ele não estará lidando com um bando de meninos, não é? O governador Renato Casagrande continua à frente do processo eleitoral. Ele controla a classe política e trabalha firme para ter além dos 22 partidos em seu palanque o PMDB e, por que não, o PR também. Quer unanimidade e, por isso, vem tentando adiar a definição o máximo que puder. 
 
Nerter –  Aliás, já reparou que tá rolando um jogo de “deixa que eu deixo”?
 
Renata – Sim. Todo mundo só quer falar em eleição em caráter definitivo em maio, ou melhor, em junho. Mas por motivos diferentes. Casagrande atrasa o processo porque o controla. Espera a definição do PMDB e do PR, mas esses dois dependem de uma definição nacional para saber como irão proceder no Estado. Já o ex-governador Paulo Hartung, que sempre fez questão de adiar o máximo suas decisões, desta fez o faz porque está acuado, sem espaço político. Não quer entrar em bola dividida, quer um mandato garantido e para ele o melhor caminho é disputar o senado no palanque palaciano, mas para isso, é preciso que Casagrande e João Coser preparem esse caminho, sobretudo acalmando os ânimos no PT. 
 
Nerter – Sim, então esta entrada de Hartung no palanque de Casagrande deve acontecer às vésperas do processo. Como todo mundo desconfia dessa manobra de Hartung, não desceu ninguém do palanque do socialista. O problema vai ser se depois de tudo fechadinho, o governador definir seu apoio ao presidenciável do partido, o governador de Pernambuco Eduardo Campos. Aí quero ver como os petistas vão lidar com isso. Se bem que não acredito que ele fará isso. Já designou o prefeito de Vitória, Luciano Rezende, para em nome do PPS fazer as honras da casa para o pernambucano. Mas e o senador Ricardo Ferraço, como fica nesta história?
 
Renata – Pois é. To sentido que em ano de Copa do Mundo, Ricardo vai ficar no banco outra vez. Está cada vez mais difícil para o senador se viabilizar como candidato a governador. E se o PT for acomodado na vice de Casagrande, isso significa que a sucessão do socialista está costurada com o PT em 2018 e não com Ricardo Ferraço. Isso torna sua vida difícil para a disputa à reeleição. Magno Malta não tem o que perder. Tem o partido no Estado nas mãos, pode disputar a eleição confrontando o palanque de Casagrande e tem seu público fiel para a reeleição em 2018. Ferraço virou senador pelo palanque palaciano, um palanque comandado por Hartung. Naquele momento ele vinha de secretarias no governo, além da vice-governadoria. Como o Senado é uma casa muito distante do eleitor, pode ficar difícil para o peemedebista. 
 
Nerter – Acho que a candidatura de Ricardo este ano seria um exercício muito importante para ele, visando a 2018. Até porque seu adversário será Renato Casagrande e não Magno Malta. Se hoje ele tem dificuldade em se viabilizar justamente porque sua densidade eleitoral não convence os aliados, imagine daqui a quatro anos. 
 
Renata – Todas essas questões devem estar rondando a cabeça do governador Renato Casagrande. Ao tentar reconstruir seu palanque de unanimidade, ele esbarra no fato de que convencer todo mundo é difícil. Ainda mais sem os mecanismos que seu antecessor utilizava para garantir o silêncio da oposição. A coisa hoje tem de ser na base do convencimento e quem consegue convencer Magno Malta de alguma coisa? E quem consegue convencer Hartung de um outro projeto que não seja o dele? E quem consegue convencer Ricardo Ferraço de que ele será recompensado no futuro se abrir mão agora?

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