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Ferraço: de ‘homem-bomba’ a investigado por corrupção

Theodorico de Assis Ferraço nasceu em 28 de novembro de 1937, no distrito de Jaciguá, que na época pertencia ao município de Cachoeiro de Itapemirim, sul do Estado. Foi na década de 1960 que ele começou a escrever seu nome na história política do Espírito Santo, imprimindo um estilo muito próprio que até hoje é a marca de sua trajetória.

 
Um estilo que talvez tenha herdado do pai. Só para se ter ideia do jeito Ferraço de agir podemos recorrer a um episódio em particular. Theodorico Ferraço pai, era subdelegado em Jaciguá. Na época o distrito recebeu o time de futebol de Alfredo Chaves – que mais tarde também terá importância fundamental na vida política do Estado e de Ferraço – e o subdelegado foi lá torcer pelo time da casa.
 
Era costume que o time visitante levasse o árbitro. Pois bem, os visitantes venciam por 3 a 1 quando Ferraço pai tomou uma providência. Primeiro mandou tirar a rede da trave adversária, de modo que as bolas chutadas em direção ao gol gerassem dúvida no juiz. Na dúvida…
 
Não satisfeito com o placar adverso, o subdelegado usou sua autoridade. Cruzou o campo, tomou o apito do juiz e entregou ao árbitro da casa. 
 
Foi tomando o apito da esquerda que Ferraço enfrentou o grupo político dominante no município de Cachoeiro e chegou pela primeira vez à prefeitura local, em 1973.
 
Durante toda a década de 1960 um grupo de esquerda se sobressaia no município, encabeçado por Helio Manhães, que antecedeu Ferraço na prefeitura. Outro importante integrante do grupo era o médico Gilson Carone, além do pai do hoje vice-prefeito Abel Santana. Outro nome que surge nesse movimento veio do movimento estudantil e também chegou à prefeitura anos depois: Roberto Valadão.
 
O grupo iniciou um movimento política de esquerda que teve início em Cachoeiro e se irradiou para outros municípios do sul do Estado. Foi nesse momento que surge Ferraço, com um perfil conservador em 1970, em plena ditadura militar. Ferraço venceu e começou a construir seu próprio sistema político, que lhe garantiu quatro mandatos de prefeito.
 
Mas não foi só em Cachoeiro que Ferraço imprimiu sua marca polêmica. Deputado federal, Ferraço foi o primeiro congressista a levantar a bandeira contra o governo do general João Batista Figueiredo. Não que Ferraço tivesse uma tendência antiditadura, mas com o interesse local, ajudou a combater os aqueles tempos nefastos. É que naquele tempo o grupo João Santos espalhava sua influência pela região, apoiados nos atos do Marechal Cordeiro de Farias.
 
Anos depois, em plena democracia no País, Ferraço mostra novamente sua cara, e dessa vez influindo não na política de Cachoeiro, mas na sucessão estadual. No período das convenções partidárias para a disputa pelo governo do Estado em 1998, o então tucano Paulo Hartung foi derrotado no ninho tucano por José Ignácio Ferreira. A chapa tucana contava ainda com o ex-prefeito da Serra, João Batista Motta, como o candidato ao Senado.
 
Mesmo depois de tudo acertado, Ferraço, não se sabe bem como, conseguiu mexer os pauzinhos para mudar o candidato ao Senado, tirando Motta, que virou suplente de Paulo Hartung.
 
No verão de 2001, Ferraço entrou definitivamente para a história da política estadual – e é aí que Alfredo Chaves entra novamente na história dos Ferraço –, quando o prefeito Ruzerte de Paula Gaigher proveu um encontro com a classe política capixaba para uma galinha ao molho pardo. E foi lá que Ferraço se levantou contra o governador, que reagiu.
 
Mas Ferraço acionou seus dossiês, que geraram uma série de denúncias contra José Ignácio, enfraquecendo sua gestão e, consequentemente, sua candidatura à reeleição.
 
Deu ainda o discurso necessário para que Paulo Hartung construísse seu palanque baseado na faxina ética, em 2002. Hartung foi para o Palácio Anchieta e Ferraço para a prefeitura de Cachoeiro e foi esquecido pelo novo governador. Chegou a entrar em conflitos com Hartung.
 
Passada a Era Hartung, Ferraço chega à presidência da Assembleia no mesmo momento que se reaproxima do agora ex-governador. Nem mesmo o abril sangrento que tirou da disputa pela sucessão de Hartung o filho de Ferração, Ricardo Ferraço, foi capaz de prejudicar a dobradinha dos dois na eleição de 2012. Dobradinha esta que não rendeu frutos para nenhum dos lados, mas que deu base para que Ferraço pudesse brigar pelo último nicho de poder que lhe resta, depois de ter perdido a disputa pela prefeitura de Cachoeiro em 2008, para o PT, e novamente para os petistas em 2012, com o candidato Glauber Coelho (PR).
 
No final do ano passado, quando tudo parecia tranquilo para Ferraço, depois de acertar com os deputados e com o governo sua reeleição para presidência da Casa, estoura no colo do “homem-bomba” um artefato que ele não havia detonado. A Operação Derrama, colocou na conta de Ferraço a manobra em favor de um esquema de corrupção quer atinge pelo menos oito prefeituras capixabas.
 
Por sua trajetória política, pelos altos e baixos que já passou ao longo desses quase 50 anos, desde seu primeiro mandato eletivo de deputado estadual em 1967, não dá para dizer que ele está encurralado. Quando se pensava que a onça estava ferida, eis que surge um parecer do procurador-geral de Justiça, Eder Pontes, tirando Ferraço do centro do furação.
 
Mesmo com a caminhonete de provas que chegou ao tribunal de Justiça essa semana e com o inquérito policial mostrando fartas evidências materiais e testemunhais de que o presidente da Assembleia teria usado a prefeitura de Itapemirim, comandada pela mulher dele, a ex-prefeita Norma Ayub (DEM), para fechar acordos com a CMS Assessoria e Consultoria, o Ministério Público não viu conexão no caso.
 
É por essas e outras que em Cachoeiro há o ferracismo e o antiferracismo. Porque ele divide opiniões, cria polêmica e não passa despercebido, mesmo que seja com uma sombra de suspeita sobre seus ombros, Ferraço é Ferraço.

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