Nos meios políticos ficou bem evidente a estratégia do governador eleito Paulo Hartung (PMDB) em tentar desconstruir a imagem de seu principal adversário, o governador Renato Casagrande (PSB). O peemedebista queria blindar seu futuro governo de comparações. A tática já é conhecida do mercado, já que Hartung obteve êxito em tentativas anteriores.
Hartung vem construindo sua carreira política com essa estratégia. Nos meios políticos a leitura é de que Hartung fez isso com os ex-governadores que o antecederam, criando assim condições para que seu governo escapasse de qualquer julgamento público. Com o apedrejamento dos adversários, ele consegue desviar o foco de sua gestão.
Desta vez, porém, a estratégia não logrou êxito. Para algumas lideranças, a reação de Casagrande, ainda que na reta final de seu governo, permitiu que o socialista conseguisse equilibrar o jogo, se mantendo vivo no cenário político e se credenciando para um embate futuro, que deve acontecer a partir de uma possível candidatura de Casagrande à Prefeitura de Vitória.
O cenário político atual favoreceu a reação do governador. Em 2002, Hartung encontrou no Estado as condições políticas para implantar uma política unilateral, com um viés maniqueísta, que hoje já não cabe mais. Não seria possível, por exemplo, colar no governador o rótulo de crime organizado, que facilitaria essa desconstrução de sua imagem.
O caminho escolhido foi o de tentar desidratar Renato Casagrande a partir de uma abordagem de descontrole financeiro. Com a atuação dos aliados políticos, Hartung tentou passar a ideia de que seu sucessor foi um mau gestor, não mantendo a excelência na gestão. Esta estratégia seria coroada com a rejeição as contas de Casagrande pela Assembleia Legislativa.
O que o governador eleito não contava era com os interesses diferenciados do Plenário. Com uma Assembleia que não conseguiu reeleger mais da metade dos deputados, o cenário aponta para a necessidade de proteção dos parlamentares.
Caso Hartung, sem mandato conseguisse por meio de articulação de bastidores derrubar as contas do governador que está no poder, poderia sair muito fortalecido do processo, mas como saiu derrotado da disputa, fortaleceu Casagrande. E mais, agora terá de lidar com a Assembleia Legislativa de uma forma também diferenciada. Não haverá mais como impor o controle político total, de forma vertical.
Quando convocou a imprensa para falar sobre o parecer da Comissão de Finanças, o governador Renato Casagrande fez uma afirmativa que ecoa até hoje nos meios políticos: “Hoje sou eu, amanhã pode ser qualquer um de vocês”. Por isso, a leitura do mercado sobre a aprovação as contas da Assembleia não é meramente de uma vitória de Renato Casagrande, mas de um recado do Legislativo para o governador eleito Paulo Hartung.