Sábado, 18 Mai 2024

Hartung sente dificuldade para desconstruir a unanimidade que ele mesmo criou

Hartung sente dificuldade para desconstruir a unanimidade que ele mesmo criou
Nerter Samora e Renata Oliveira
 
 
O ex-governador Paulo Hartung (PMDB) vem procurando cavar um espaço político para se acomodar em 2014. Mas tem ficado cada vez mais distante do jogo eleitoral. Papo de Repórter analisa a situação complicada de Hartung e as consequências da manutenção da unanimidade
 
 
Nerter – O ex-governador Paulo Hartung e o senador Ricardo Ferraço (PMDB) dominaram os comentários nos meios políticos por causa da entrevista dada por eles ao Valor Econômico, publicada na última segunda-feira (27), mas não do jeito que eles queriam, não é?
 
Renata – Não, mesmo. Que Hartung ainda tem uma forte influência em parte da imprensa capixaba, isso é fato. Como é verdade também que ele consegue emplacar boas notícias a seu respeito na mídia nacional. Mas ele adotou uma estratégia muito equivocada, na minha opinião. O Valor Econômico tem uma "pegada" socialista. Quase todos os dias Eduardo Campos aparece nas páginas do jornal, e bem. Casagrande também é bem tratado pela publicação. Então, querer colocar fogo no mercado político por aí, não parece ter sido a melhor escolha. A reportagem fez um panorama muito próximo da realidade política do Estado e não se deixou cair no canto da sereia. 
 
Nerter – A repercussão foi imediata e quem teve de se explicar foi o senador Ricardo Ferraço. Ao usar o termo “dissimulação” para definir a estratégia de Hartung ficar em cimma do muro, ele causou um espanto muito grande na classe política. Eu acredito que ele não teve a intenção de atacar Hartung, apenas escolheu mal as palavras. Mas, uma vez dita e publicada, a expressão causou uma saia justa para o senador. A repercussão nos meios políticos foi muito diferente da esperada pelo grupo, acredito. Mostrou o ex-governador sem espaço, com uma indefinição fora de contexto e de que estaria atrapalhando as movimentações do PMDB no Estado.  Depois da entrevista ficou clara a impossibilidade de transito do PMDB no palanque de Renato Casagrande como sócio da candidatura. Reforçou o abono do presidente nacional do PT, Rui Falcão, à aliança com o PSB, o que deixa o PMDB com uma vaga na vice e olhe lá. Fechou a porta socialista para qualquer rompante de Hartung ou de seus emissários na tentativa de tomar o controle das conversas. As declarações forçaram ainda um encontro fora de tempo entre Ricardo Ferraço e PSDB, que só serviu para que o coronel Sérgio Aurich batesse o martelo e formalizasse sua candidatura ao Senado pelo PSDB. 
 
Renata – Vale dizer que a movimentação para que Luiz Paulo Vellozo Lucas disputasse o Senado para evitar Aurich também foi por água abaixo. O ex-prefeito não topa e apoia o coronel. No PMDB também houve movimentação. Rose de Freitas e a base de deputados querem forçar a convenção para abril e Paulo quer em junho. Diante do impasse, o presidente Lelo Coimbra está cada vez mais isolado e quem tem falado em nome do partido é Ricardo Ferraço. Hoje nos meios políticos pouca gente acredita que Paulo Hartung vá disputar a eleição deste ano, pelo menos na majoritária.
 
Nerter – As esperanças estavam depositadas na influência de Lula no PT daqui, mas, isso mudou com o fortalecimento da aliança PT-PSB e com a vaga ao Senado garantida para o presidente do partido, João Coser. Acho muito difícil que ele mexa no cenário dessa forma. Além disso, Rui Falcão não é louco de vir aqui dar esse direcionamento que deu sem o aval da cúpula petista. O fato é que Hartung criou a unanimidade em 2002, acostumou a classe política a dialogar com a caneta na mão e agora não consegue desconstruir aquilo que ele mesmo criou. 
 
Renata – Nós, de Século Diário, sempre criticamos esse tipo de política de coalizão, como acontece em nível nacional, e de unanimidade, como foi na última década no Estado. Esse arranjo enfraquece os partidos, apaga a oposição e compromete a democracia. Seria bom ter uma disputa eleitoral e eu, particularmente, gostaria de ver Hartung disputando uma eleição de verdade, apresentando propostas, enfrentando o contraditório em debates, até porque acredito na capacidade do ex-governador de disputar uma eleição com chance. Mas também não acredito que ele assumiria um risco eleitoral grande como o de enfrentar Casagrande e a máquina palaciana, ainda mais em uma situação de isolamento como a que se encontra o PMDB hoje. 
 
Nerter – Já a disputa para o Senado estaria fora de cogitação. Do outro lado Hartung teria dois especialistas da área da segurança – o coronel Aurich e o delegado Fabiano Contarato (PR) – justamente a área mais delicada de seus governos. Com um governo de vitrine, facilmente contestado, seria muito difícil para o ex-governador escapar das criticas que seriam inevitáveis. Aurich deixou o governo Paulo Hartung fazendo críticas à falta de políticas públicas nesta área e Contarato tem credibilidade nos meios sociais para colocar o dedo na ferida. Além disso, em tempos de perfil da mudança em alta, disputar com duas novidades, não parece ser uma opção inteligente. Ele precisaria estar em um palanque forte para garantir a limpeza do campo, muito tempo de televisão e máquina agindo em seu favor. Este palanque seria o de Casagrande, mas as portas parecem estar fechadas para essa composição. 
 
Renata – O que é mais interessante para Casagrande, dar o espaço para Hartung ou garantir a aliança com o PT nacional, guardando a vaga para que Coser dispute? O ex-prefeito de Vitória não teria chances em outro palanque. O que Hartung pode oferecer depois da eleição? Nada. Mas se Casagrande conseguir eleger o petista ganhará pontos com o PT e consequentemente com o governo federal, caso Dilma consiga confirmar a reeleição. 
 
Nerter – Mas, voltando à questão da unanimidade, é complicado a gente dizer que Hartung quer destruí-la. Tudo bem que Ricardo Ferraço veio a público dizer que ela não cabe mais. A questão, porém, é que a unanimidade foi muito útil enquanto serviu aos interesses do grupo dele. Ele não quer destruí-la, quer ter o controle sobre ela. Ou você acha que uma vez retornando ao poder Hartung iria aceitar conviver com a pluralidade?
 
Renata – Aí é que está o problema do ex-governador. Ele comandou o Estado e o mercado político com mão de ferro, reprimiu qualquer tipo de reação ao seu governo e esmagou a classe política. Não vou dizer que os partidos e as lideranças hoje estão muito fortalecidas, mas há uma diferença. A negociação com Casagrande não envolve perseguições do arranjo institucional. Uma vez livres da bota pesada de Hartung, dificilmente as lideranças vão aceitar voltar ao cabresto. 
 
Nerter – Por isso o isolamento do PMDB. Hartung insinuou lançar candidatura e ninguém desembarcou do palanque de Casagrande. Não foi por acaso. Não é só porque é o melhor espaço para disputar as eleições ou por causa do diálogo com o cargo. Também vem desse temor da classe política em viver sob o rígido comando do ex-governador. 
 
Renata – Por essas e por outras, a situação dele está cada vez mais complicada e a de Casagrande cada vez mais confortável. O que a gente espera é que tenha alguma disputa. Eleição de unanimidade é muito chata e as consequências para os governos são sempre ruins. 

Veja mais notícias sobre Política.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Sábado, 18 Mai 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/