Ex-prefeito de Cachoeiro pede indenização de R$ 20 mil do ex-vereador por difamação

O ex-vereador Léo Camargo (PL), de Cachoeiro de Itapemirim (sul do Estado), recebeu, nessa sexta-feira (19), um mandado judicial para retirar das redes sociais um vídeo contra o ex-prefeito Victor Coelho (PSB), que atualmente é secretário estadual de Turismo. Coelho pede indenização de R$ 20 mil por danos morais. Uma audiência de conciliação foi designada para 6 de fevereiro de 2026.
A retirada de parte do conteúdo foi determinada no último dia 1º, mas a intimação postal não chegou de forma imediata a Léo Camargo, e a defesa de Victor Coelho reclamou de descumprimento. No entanto, na manhã desta segunda-feira (22), o vídeo não estava mais disponível no perfil de Camargo no Instagram.
A postagem que rendeu a abertura do processo foi uma “tréplica” de uma discussão que Léo Camargo e Victor Coelho travavam nas redes sociais, em julho deste ano. Coelho havia respondido a uma crítica feita por Camargo ao governador Renato Casagrande (PSB). Em seguida, o ex-vereador voltou à carga, citando uma suposta relação extraconjugal de Coelho com uma subordinada, que teria engravidado.
“Ele [Victor Coelho] ganha quase R$ 30 mil por mês do seu patrão, então precisa dar um jeitinho de falar alguma coisa contra alguém. E quando o vídeo chegou a mim, eu logo me perguntei, poxa vida, será que Vitor Coelho descobriu que, enquanto eu, como prefeito, eu traía minha esposa com a minha secretária, eu logo engravidei, e logo depois eu dei um bom dinheiro para ela esconder a gravidez e deixar tudo por debaixo dos panos. Mas eu pensei, não, eu nem sou prefeito ainda, então deve ter acontecido alguma coisa do tipo com alguém que já foi prefeito aqui na cidade, não comigo”, disparou Camargo, de forma irônica.
“E a outra coisa que eu imaginei”, continuou Camargo em outro trecho, “poxa, será que Vitor Coelho descobriu que eu recebi uma propina de R$ 300 mil para que eu não pudesse vir fiscalizar o atual prefeito de uma cidade próxima, aqui, bem próxima. E eu falei assim, não, não, não, não, ele não deve ter descoberto isso, porque eu não aceitei nem a água que eles pediram no restaurante naquele dia, eu deixei eles pagarem, eu fiz questão de pagar, me levantei da cadeira e falei, eu não aceito esse tipo de suborno ou de propina. Daí eu abri o vídeo e logo vi algumas questões que ele colocou em pauta”.
Na petição inicial, a defesa de Victor Coelho afirmou que Léo Camargo estava promovendo a “reedição de uma imputação difamatória”, pela qual o jornalista Jackson Rangel foi condenado em outro processo movido pelo ex-prefeito. “O requerido, ciente do caráter falso e judicialmente rechaçado de tal história, optou por revivê-la em seu vídeo, utilizando-se do mesmo artifício para macular a honra do requerente”, argumentou.
Em outros pontos do vídeo, Léo Camargo afirmou também que Victor Coelho, “na pandemia, mandou fechar todos os comércios”, porque “nunca precisou de trabalhar. Sempre foi criado em cima do sofá dos pais dele”. Camargo defendeu, também, em resposta a uma crítica de seu adversário, que não teve projetos aprovados durante o seu período na Câmara, porque Coelho “induziu os outros vereadores a ficar contra mim”.
“Ao agir dessa maneira, o requerido não pratica um ato de informação ou de crítica. Pratica um ato de deliberada contaminação do debate público, utilizando-se de calúnias recicladas como se fossem fatos, em flagrante desprezo pela verdade e pelas decisões judiciais que já haviam atestado a falsidade de tais imputações”, argumentou a defesa de Coelho, mencionando ainda que a publicação teve 735 compartilhamentos e 28,9 mil visualizações.
Léo Camargo também rebateu no vídeo acusações que teriam sido feitas por Victor Coelho contra ele, relacionados a um suposto caso de violência doméstica, ao fato de ele ter recebido auxílio emergencial durante a pandemia, e de ter recebido tíquete-alimentação da Câmara, mesmo tendo votado contra. Em relação à primeira acusação, Camargo classificou a informação como mentirosa. Sobre o auxílio, disse que recebeu, sim, porque na ocasião era apenas um “microempresário” e tinha direito ao benefício. Já o tíquete ele disse que utilizava para comprar alimentos para moradores de baixa renda.
Em sua decisão, o juiz Rafael Dalvi Guedes Pinto reconheceu que o vídeo extrapolou os limites da liberdade de expressão e determinou que fossem retirados apenas os trechos indicados que tratam de ofensas pessoas a Victor Coelho, sob pena de multa única no valor de R$ 2,5 mil.
“De concluir, neste cenário, que parte do conteúdo do vídeo publicado pelo réu em rede social ultrapassaria os limites do permitido para a livre expressão do pensamento, devendo tal iniciativa ser evitada. Com tal proibição não se quer censurar a liberdade de expressão dos usuários das redes sociais, mas apenas adequá-las ao limites legais”, escreveu o magistrado.
Rivalidade
A rixa entre os dois políticos remete ao segundo mandato de Victor Coelho (2021-2024), quando Léo Camargo ocupava uma cadeira na Câmara de Vereadores pela primeira vez. Nas eleições do ano passado, Coelho apoiou a candidatura de sua ex-secretária para prefeita, que ficou em quarto lugar. No mesmo pleito, Camargo entrou na disputa majoritária e ficou em segundo lugar.
Nas eleições de 2026, os dois deverão disputar cadeiras na Assembleia Legislativa. Victor Coelho tem feito vídeos relembrando o que classifica como realizações suas em Cachoeiro. Já Léo Camargo tem andado com o deputado estadual Callegari em manifestações da extrema direita. Camargo e Callegari deverão migrar do Partido Liberal (PL) para o Democracia Cristã (DC), por causa de divergências com o senador Magno Malta, presidente do PL capixaba.