Sábado, 18 Mai 2024

Mesmo sem apelo eleitoral, chuva pode ajudar palanque de Casagrande

Mesmo sem apelo eleitoral, chuva pode ajudar palanque de Casagrande

Nerter Samora e Renata Oliveira





O governador Renato Casagrande nunca esteve tanto na mídia capixaba quanto agora. Evidentemente, ninguém quer capitalizar com a desgraça alheia, mas o processo de reconstrução do Estado depois da chuva vai garantir uma visibilidade importante para a reeleição do socialista.



Nerter – Não me lembro de o governador Renato Casagrande aparecer tanto na mídia capixaba assim desde sua eleição em 2010. Com essa mudança editorial, principalmente dos telejornais do Estado, os veículos deixaram a política de lado e com isso as lideranças perderam visibilidade. Depois da chuva que arrasou muitos municípios no Estado, o governador ganhou um espaço na mídia muito grande. É claro que isso não foi premeditado, não há que se falar em campanha antecipada ou adesão da imprensa corporativa ao palanque do governador. Não é isso. Mas que isso vai trazer vantagens eleitorais, vai.



Renata – Pois é. Isso tem de ficar bem claro. Casagrande não está se aproveitando da tragédia para se promover. Muito pelo contrário, o tempo todo o governador fala na terceira pessoa do plural, convoca os secretários, os aliados e até os adversários em potencial para discutir ações de recuperação do Estado. Mas assim como ele e a presidente Dilma Rousseff foram os principais alvos nos protestos do ano passado, porque estavam à frente do governo, ele também acaba se beneficiando por estar fazendo o papel que lhe cabe, o de governador. A classe política já entendeu a importância que isso tem. Todo mundo, mas todo mundo mesmo, está ao lado de Casagrande nesse projeto.



Nerter – É só lembrar aquela reunião simbólica na última sexta-feira do ano no Palácio Anchieta. O que mais chamou a atenção foi a presença do ex-governador Paulo Hartung (PMDB) sentado ao lado de Casagrande para definir as estratégias a serem tomadas para mitigar os efeitos da chuva. Mas na mesma mesa, dando opiniões sobre o que fazer também estavam os senadores Ricardo Ferraço (PMDB) e Magno Malta (PR). Isso não significa, naturalmente, que todos estarão juntos na eleição, mas mostra que o governador tem capacidade de agregar forças em um momento de crise. Isso para os meios políticos é muito importante. E o coloca na posição de grande líder político do Estado.



Renata – É, mas essa discussão sobre a liderança do processo ainda é complicada. O grupo do Hartung, quando estava com a bola cheia com o PT nacional, disparou contra a unanimidade, dizendo que não cabia mais esse projeto da unanimidade, mas diante da evidente dificuldade em superar facilmente Casagrande, o discurso mudou. O governador se fortaleceu politicamente com os partidos, tanto que não houve o esperado esvaziamento de sua base como alguns pensaram que aconteceria. Os prefeitos também estão fechados com ele, sem falar que o cofre do Estado está cheio e permitiu que Casagrande anunciasse um pacote de ajuda de mais de meio bilhão de reais para socorrer os 54 municípios mais atingidos pelas chuvas.

O governador e seu antecessor já vinham mantendo o diálogo ultimamente, a necessidade de reconstrução do Estado depois da chuva, serviu para que Hartung saísse pela tangente e se alinhasse a Casagrande para garantir o espaço que lhe resta: o Senado.



Nerter – Mas, é claro, que uma movimentação nesses termos pode não ser uma saída tão honrosa para quem tem uma vitrine política para defender e por isso mesmo, ele manda seus recados, tentando mostrar que quem dá as cartas nesse jogo é ele. Mas não é bem assim, a classe política não vê mais Hartung como essa grande ameaça, como esse grande jogador que mexe nas peças do tabuleiro como bem entende. O cenário não é mais de “sim, senhor” para ele. Agora, essa união, se acontecer, pode ser um prato feito para que o senador Magno Malta se apresente como o candidato de oposição. Ele disputando o governo e Hartung o Senado não é jogo que Malta esperava para 2014, queria enfrentar Hartung de frente, mesmo assim o palanque Casagrande-Hartung representa o que o senador chama de condomínio da elite econômica do Estado, então, ele fica livre para bater do jeito que entende. A grande dúvida é se ele vai topar mesmo ir para a disputa, não é?



Renata – É. Há quem diga que Malta não tem outro caminho senão disputar. Mas eu ainda não estou certa disso. Ele tem um partido em reconstrução nas mãos e está isolado. Acho que nesse caso tudo pode depender de outra figura política, o ex-prefeito da Serra, Sérgio Vidigal. Se ele levar o PDT para o palanque do amigo Magno Malta pode garantir a entrada do senador na disputa. Mas sozinho, não sei se ele encara. Não podemos esquecer do PT. Dependendo das acomodações que sejam definidas por aqui, a nacional do partido, sem poder costurar a candidatura de Hartung - caso ele troque a disputa ao governo pelo Senado - não é descartada a hipótese de o PT se unir com Malta, que sempre se apresentou como cabo eleitoral de Dilma no Estado.



Nerter – Voltando a Casagrande, ele tem uma grande vantagem nesse cenário. Além de ter entendido o momento crítico, não ter se omitido e ter um bom colchão para ajudar os municípios afetados pela chuva, a emergência das atividades vai livrá-lo da legislação eleitoral. É que há uma série de restrições para os ocupantes de cargos executivos que disputam eleição como contratação sem licitação, publicidade de ações do governo, concessão de benefícios, entrega de bens, de obras. Ações que dão visibilidade e que neste momento se farão necessárias pela urgência da situação.



Renata – Mesmo assim o governador deve ter cuidado. Ele agiu bem até aqui, tal qual Obama, que na reta final da disputa pela reeleição em 2012, deixou a campanha de lado para dar apoio às vítimas da supertempestade Sandy, que devastou a Costa Leste dos Estados Unidos, enquanto seu adversário, o republicano Mitt Romney retomava a campanha presidencial. O cumprimento do papel de chefe do Executivo pode trazer muita visibilidade para governador, mas é preciso não passar do ponto, não exagerar para que não fique a impressão de que está se aproveitando da situação para se promover.



Nerter – Se tiver um opositor atento, qualquer exagero pode ser o motivo para uma dar início a uma guerra de denúncias de crimes eleitorais, que só trazem dor de cabeça. Além disso, o eleitor odeia aproveitadores e o discurso certo, na boca certa pode colocar em risco a reeleição do governador.  Com 54 municípios em situação de emergência as ações devem seguir 2014 adentro e não podem se confundir com o processo eleitoral. Mas esse foco todo nas ações do governo pode ser apenas neste início de trabalho de reconstrução. Daqui a pouco, a imprensa capixaba encontrará algo mais pulsante para se ocupar. Aí vai depender da impressão da população nas ruas sobre as ações de Casagrande.



Renata – O momento é de repensar o Espírito Santo e as propostas para um desenvolvimento diferente. Essa discussão pode, quem sabe, surgir antes mesmo do debate eleitoral. Vamos esperar para ver como a chuva mexeu com cada liderança capixaba para o jogo político deste ano.

 

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