Quarta, 01 Mai 2024

'Não acredito que Lula vá subir no palanque de Hartung'

'Não acredito que Lula vá subir no palanque de Hartung'

Rogerio Medeiros e Nerter Samora

Fotos: Riokan






O anúncio do governador Renato Casagrande de que será candidato à reeleição e pelo fim da neutralidade em relação à disputal presidencial foram bem vistos pelo ex-deputado estadual Marcus Vicente (PP). O presidente da sigla no Estado saiu em defesa da reeleição do governador, com o apoio do PMDB, partido do ex-governador Paulo Hartung, provável adversário do socialista no pleito de outubro.



Nesta entrevista a Século Diário, Marcus Vicente fala sobre as articulações do bloco partidário formado pelo PP e por mais dez siglas –, que pretende eleger dois deputados federais e até sete deputados estaduais. O progressista avalia que a disputa nacional deve influenciar na formação dos palanques no Estado e defendeu a decisão de Casagrande de apoiar o candidato do seu partido, o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos.



A conversa também abordou os preparativos do Espírito Santo para a Copa do Mundo de Futebol. Como presidente da Federação de Futebol local e vice-presidente eleito da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), ele revela como foi a articulação para a vinda de duas seleções (Austrália e Camarões), que vão treinar no Estado durante o torneio, e o legado que a Copa deixará para a economia e o futebol capixaba.





Século Diário: O ano de 2014 será marcado por dois grandes eventos: a Copa do Mundo de Futebol [que acontece entre os dias 12 de junho e 13 de julho] e as eleições estaduais e a presidencial, logo em seguida, em outubro. Qual será a influência da Copa nas eleições deste ano?



Marcus Vicente: A Copa não influencia, por exemplo, em ser positiva para o PT. Influencia na questão da mobilidade urbana, que é uma demanda antiga da população, assim como saúde e segurança pública. Tanto é que a Inglaterra está declarando medo em relação à violência no Rio de Janeiro. Ela optou por ficar no Rio, quer ficar no 'buxixo', mas nós trabalhamos internamente para trazer a Inglaterra para vir treinar no Espírito Santo. Para você ver como as coisas podem influenciar, do ponto de vista da falta de segurança, da falta de atendimento nos postos de saúde, pelo alto índice de mortes banais devido à violência, além da questão da mobilidade, como os aeroportos que não estão prontos. Isso sim pode influenciar negativamente para o PT e não o resultado da Copa, com o Brasil sendo campeão ou não.









- Eleito agora como vice-presidente da CBF, qual seu papel dentro da Copa do Mundo?



- Eu assumi um papel de articulação, no relacionamento institucional da entidade, que precisa se mostrar como um ente importante do ponto de vista da cultura do Brasil, que é o futebol. Além do momento que vamos viver, extremamente positivo, é o maior evento do planeta de todos os tempos, capaz de gerar milhares de empregos. Se você tomar como base a Copa da África do Sul [em 2010], são mais de 300 mil empregos diretos num movimento de mais de R$ 100 bilhões.



- E do Espírito Santo?



- O nosso Estado está inserido na Copa com duas seleções – Austrália e Camarões. Das 12 sedes, seis não têm nenhuma seleção treinado, o que significa isso? A Austrália chega no dia 28 e passa a ser notícia em todos os canais de televisão, porque é a primeira seleção que vai chegar ao Brasil, somente quatro dias depois chegam a segunda e terceira. Então toda a imprensa está voltada para o desembarque da Austrália. No dia 8 de junho chega a seleção de Camarões. A Austrália vai trazer seis redes de televisão, porque lá não tem uma TV exclusiva para o futebol, além de ser um país rico, é a 13ª economia do mundo, vai trazer 400 jornalistas, e até agora 41 mil turistas compraram ingresso. Se tivermos 10% dos turistas australianos girando no Espírito Santo, vamos ter de quatro a cinco mil turistas. Camarões também vai trazer uma delegação grande, com 150 jornalistas. E o mais importante disso tudo que, por exemplo, comparando o Espírito Santo aos outros estados que estão como sede (Amazonas, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Mato Grosso e Distrito Federal), não tem nenhuma seleção treinando. Então eles só vão receber a seleção 24 horas antes do jogo, depois do jogo eles vão embora porque o voo é charter [fretado]. Ou seja, vai gerar notícia 24 ou 48 horas, agora o Espírito Santo vai ter Camarões por 30 dias e a Austrália por 25 dias. Isso vai gerar um movimento econômico, desencadear uma série de benefícios, gerando empregos. Acredito que vamos ter visibilidade para o mundo inteiro.



- Como foi o trabalho para atrair essas duas seleções?



- É o papel da Federação Capixaba de Futebol [da qual é presidente há vinte anos e vai deixar o cargo para assumir a nova função na CBF], de articulação desde 31 de julho de 2011, quando desde o sorteio da chave das eliminatórias [para a Copa], começamos a trabalhar. Demos sorte de pai do diretor executivo do Comitê Organizador Local da Copa (COL), Ricardo Trade, ser filho de Cachoeiro de Itapemirim e, sendo filho de Cachoeiro, como todo bom mineiro, viveu parte da infância dele em Marataízes, Guarapari, Piúma... Isso tudo ajudou muito no nosso relacionamento para que os dirigentes das seleções que visitavam os centros de treinamento também visitassem o Espírito Santo. Nesse período de dois anos e meio, recebemos onze delegações (Inglaterra, Irã, Noruega, Austrália, Camarões, Itália, Suécia, Portugal, Japão, Coreia do Sul). Tudo isso é um trabalho do comitê local, em parceria com a Federação e a CBF. Com isso, ficaram essas duas seleções que vão representar um momento marcante na economia capixaba e a repercussão no turismo do Estado.



- O Estado está pronto para receber essas seleções? O Estádio Kleber Andrade segue em obras...



- A proposta sempre foi de colocar o estádio estadual Kleber Andrade e a Arena Sicoob Unimed (antigo estádio Engenheiro Araripe, da Desportiva Ferroviária) como estrutura de centro de treinamento (CT) e não como estádio para jogo de futebol. Para CT, ambos estão prontos. A declaração dos dirigentes da Austrália, que visitaram o Estado na última semana, foi de que eles estavam vindo de Curitiba e Natal – onde vão jogar na primeira fase do torneio – e que os gramados onde serão os jogos estão abaixo da qualidade do gramado da Arena. Ou seja, o gramado onde eles vão treinar está melhor do que vão jogar. Isso é um testemunho do trabalho feito pelo Espírito Santo, e nisso tenho que ser justo, sob a liderança do governador Renato Casagrande, que recebeu todos os dirigentes de futebol que aqui estiveram e sempre mostrou que o Estado estava de braços abertos para eles. Tudo isso ajudou muito na decisão de cada seleção. É claro que o mais importante de um CT é o gramado. É o palco aonde o ator vai se apresentar.



- Diferente do futebol local, que ainda carece de apoio da iniciativa privada, essa preparação também envolveu investimentos de empresas...



 - A Arena Sicoob Unimed é um investimento totalmente privado, envolveu mais de R$ 2 milhões para colocar a arena, que vai ser o grande legado da Copa do Mundo para o futebol capixaba. Para você ter uma ideia da importância, teve um determinando momento que a Austrália pediu que tivéssemos um campo dois, que eles usam para o aquecimento e treinamento de goleiros, para poupar o campo principal. Nós conseguimos um projeto com o COL, eles investiram ainda R$ 215 mi nesse campo dois, que vamos utilizá-lo para fazer campeonatos oficiais de juniores, juvenil (SUB 15, SUB 12) e feminino. Quer dizer, além do gramado, temos um campo auxiliar com o padrão FIFA. Então vamos ter três centros de treinamento com estrutura, mais o quarto CT, que é o Parque do China [na região serrana do Estado], também com padrão FIFA, com 25 ofurôs, piscina aquecida, tudo de primeiro mundo. Uma pena que a questão de logística, da BR-262, não fez com que a seleção do Equador optasse por lá, senão teríamos três seleções aqui.



 - Ter outra seleção treinando no Estado seria um fato inédito...



- O fato de termos duas seleções é um fato inédito, o Espírito Santo já está participando da Copa, mais do que os seis estados que citei, onde só tem os jogos. Isso quer dizer que a imprensa não vai ficar lá, os jornalistas vão chegar e ficar junto com as equipes. O torcedor da Austrália, por exemplo, vai a Natal assistir um jogo, vai e volta para ficar aqui. Isso é economicamente importante para o Espírito Santo. Com isso, o Estado vai se tornar um destino turístico, tanto que o governo estadual, através da Secretaria de Turismo, esteve em Sidney para apresentar o Espírito Santo em um workshop para os operadores e agências de turismo sobre as nossas potencialidades, com a participação do treinador da seleção australiana e um jogador no estande do Espírito Santo.



- Hoje se discute muito essa questão do legado da Copa, sobretudo, após as manifestações populares de junho passado. O que esse evento vai deixar para o Estado?



- O Espírito Santo mostra para o Brasil que tem competência para receber grandes eventos. Prepara o Kleber Andrade para receber as melhores seleções do mundo, a Arena Sicoob Unimed nas mesmas condições, por exemplo, todos os vestiários são climatizados, padrão de primeiro mundo. Isso nos projeta para os Jogos Olímpicos de 2016 [que acontecerá no Rio de Janeiro]. Já existe um convite oficial da Federação e do governo do Estado para Camarões e Austrália virem para o Estado com suas seleções [de futebol] masculina e feminina. Existe o convite oficial para a CBF trazer a seleção feminina e a masculina SUB 23 para a disputa das Olimpíadas. Tanto é que a seleção SUB 21 estará aqui, do dia 14 a 19 de maio, para se preparar para o Torneio de Toulouse, na França. É uma visão para 2016. O Espírito Santo se prepara com esse legado, ao longo do tempo, se Deus quiser, de sediar aqui uma chave da Copa América de 2019, a exemplo de Goiânia, que se prepara para isso. Para que Vitória e Cariacica sejam parte da sede do torneio, para receber jogos. Essa é a grande demonstração de que o Estado provou para a FIFA a sua competência para organizar, entregando os equipamentos a tempo e hora, que foram pactuados, e se projetando para receber mais seleções nas Olimpíadas e dar um salto maior para receber uma chave da Copa América de 2019.



- E o futebol capixaba, vai acompanhar esse legado trazido pela preparação para essas competições?



- Essas três grandes arenas, mais o Parque do China, dão ao futebol capixaba um momento importante. Inclusive, o regulamento da Copa Espírito Santo, que é feita no segundo semestre de 2014 [o vencedor ganha uma vaga para a disputa da Copa do Brasil], prevê que a final vai acontecer no Estádio Kleber Andrade, se todas as certidões estiverem liberadas para jogo. Então, o legado para o futebol capixaba é você ter visibilidade, equipamentos modernos para receber bem as famílias, jovens, crianças e mulheres, para ir bem ao estádio, que será uma arena multiuso, que também terá jogos de futebol. Isso é que nos esperamos, que o Vitória Futebol Clube estabeleça essa parceria com o grupo Sá Cavalcante para a construção de um shopping [o projeto prevê a inclusão do Estádio Salvador Costa nesse complexo], que também será uma arena importantíssima para o futebol capixaba.



 - E agora, vamos falar de política. O senhor preside o Partido Progressista no Estado, que está em uma aliança ampla na proporcional – disputa para deputado federal e estadual. Já tem mais ou menos essas pernas desenhadas?

 - O desenho para a eleição de federal está com todos partidos fechados nessa chapa, vamos ter 30 candidatos. O PP coloca na mesa uma opção de dez candidaturas. Para deputado estadual, nós estamos na discussão de puxar duas pernas, proporcionado a todos a chance de pleitear suas vagas nas pernas bem construídas e divididas, para que haja um equilíbrio entre todos os aliados coligados, que são onze ao todo.



- Há previsões no mercado político de que vocês façam dois federais e tenham uma boa sobra...



- A previsão é de que nós tenhamos duas vagas para federal, podendo até fazer a terceira, dependendo do posicionamento. Estamos a 150 dias da eleição, mas trabalhamos para isso. Para deputado estadual, essas duas pernas devem fazer três deputados. Essa coligação dos 11 partidos pode até fazer um sétimo deputado.



- Essa não é uma previsão muito otimista?



- Pelo contrário, ela é muito realista, porque se fizer um equilíbrio muito bom, nós temos excelentes candidatos, acreditamos que o PP tenha condição de fazer votos para duas vagas. O PV também pode fazer outras duas. Dividindo bem as forças, nós temos condições de chegar a 500 mil votos, só o PP quer fazer 100 mil votos, o PV deve passar de 110 mil. Nós temos o PTdoB, o PRB que tem uma chapa excelente, o PTC, PHS, PSL, PSDC e o PTN, que tem deputado na Assembleia [Jamir Malini, ex-vereador da Serra], o PRTB... Então temos uma possibilidade muito grande, estamos ainda mantendo conversas com o PCdoB e o PMN. Dá para a gente chegar com o pé no chão com as seis vagas nessas duas pernas.



- Está consolidado dentro dessa ampla coligação o apoio à reeleição do governador Renato Casagrande ou ainda tem alguns obstáculos?



- Na coligação, temos pequenos obstáculos ainda, mas em relação ao Partido Progressista, ele está definido pela reeleição do governador Casagrande. É uma questão consolidada, programática, de pensar no que o Espírito Santo tem concretizado nesses últimos quatro anos, sob liderança do governador e na possibilidade dele continuar à frente dos avanços e desafios que o Estado enfrenta, como nas áreas da saúde, segurança e mobilidade urbana. O Partido Progressista olha muito, por exemplo, para a questão histórica da perda das receitas e no enfrentamento desse desafio com todos os aliados, o problema das enchentes, que ele foi um grande líder para chegar a todas as casas atingidas, com o papel do Estado dando assistência para as famílias e os municípios. Ele se mostrou muito presente nesse momento.



E outra coisa é a questão do pedágio [cuja cobrança na Terceira Ponte foi suspensa pelo governador por tempo indeterminado após a divulgação do relatório preliminar da auditoria feita pelo Tribunal de Contas], que é um sentimento, envolve toda a Região Metropolitana, embora ela possa e vai ser contestada na Justiça. Mas a posição política do governador nesse momento foi extremamente correta do ponto de vista do interesse da população. Então eu acho que certas coisas são desafiadoras, no presente e no futuro, a questão da saúde, segurança e mobilidade, que não vai deixar de ser para ninguém em qualquer lugar do mundo. Mas o que mais nos chama atenção é a questão social, a construção do homem. Eu acho que o ser humano deve estar acima da máquina, da construção das paredes e do asfalto. O asfalto, a construção física da alvenaria são importantes, mas a do homem é fundamental, e vemos o governador Renato Casagrande com mais esse perfil humano. Esse é um grande viés da transformação social, para que o homem possa caminhar em busca de tempos melhores para si e sua família.



- Isso é uma crítica ao desempenho dos governos passados, em especial, aos oito anos do ex-governador Paulo Hartung (PMDB)?



- Não é crítica. Nós vemos que esse viés vai ao encontro do papel programático, do estatuto do Partido Progressista. Olhar muito a promoção humana. As pessoas têm que ter capacidade de entrar no mercado de trabalho, gerir sua própria vida, ter condições de construir sua casa, dar qualidade de vida à sua família. O PP tem muito da ação política do governador Casagrande, é reconhecer sua liderança nesse projeto.



- O senhor se refere ao PP, e os outros partidos da coligação?



- A grande maioria dos partidos já tem esse desenho, praticamente todos que estão conversando nessa mesa, e o partido do governador, o PSB, que é majoritário dentro do governo. Defendemos que o PP faça parte da chapa do governador, com a indicação do empresário Antonio Perovano como suplente ao Senado.



- Falando em cenário nacional, o PP ainda não definiu o seu apoio nas eleições presidenciais...



- O partido está fazendo essas conversas, mas os diretórios estaduais foram liberados para procurar as melhores alianças. O objetivo maior do PP é eleger deputados federais e senadores, mas não há uma definição de qual candidato a presidente vai apoiar. Hoje, o partido está no Ministério das Cidades, mas não definiu se vai ficar com Dilma, Aécio [Neves, PSDB] ou Eduardo Campos [PSB].



- Mas voltando ao Espírito Santo, qual ideia o senhor tem do processo eleitoral? Para falar a verdade, há muito tempo não temos uma disputa para governador. E uma disputa que está parecendo ser muita dura entre Paulo Hartung e Renato Casagrande. Como essa disputa pode despertar o debate na população?



- Eu vejo isso como muito importante e salutar para o processo democrático, essa discussão em relação a programas, alianças e resultados obtidos para a população capixaba. Acho que o embate vai se perdurar nos bastidores até o final de maio e início de junho. A população está atenta a esses movimentos e o PP tomou uma posição do ponto de vista da aliança que, programaticamente, é a mais importante, que é a aliança com o governador Casagrande.



- Já que demonstra apoio ao governador Casagrande, como vê essas resistências que surgiram ao ex-governador Paulo Hartung, vindo do senador Ricardo Ferraço e do ex-governador Gerson Camata, ambos do PMDB?



- Gerson Camata tem uma história no Espírito Santo. Ele tem uma folha de serviços prestados que poucos políticos na história da República tiveram. Podemos falar de Camata do mesmo patamar de Carlos Lindenberg, Jones dos Santos Neves...ele está dando uma demonstração do estadista que é, do Estado que ele governou e representou no Senado muito bem. A fala do senador Ricardo Ferraço é de quem convive nos bastidores política, de quem está nos bastidores da política nacional, onde representa o Espírito Santo muito bem e, sobretudo, pelos um milhão e meio de votos que nós depositamos nele. Então são falas que devem ser respeitadas, como da ex-deputada federal Rita Camata (PSDB), que teve quatro mandatos, com um respeito muito grande da opinião pública nacional. Isso é uma coisa que tem de ser refletida, porque temos que pensar no melhor para o Espírito Santo e para o Brasil. Por isso, o PP se coloca nessa trincheira para que se discuta, mas nós temos nossa posição a favor da unidade que foi construída lá atrás. Unidade construída para o bem do Espírito Santo, por meio de um debate amplo. Por isso somos favoráveis à reeleição do governador. Acredito que tem de ocorrer a consolidação dos feitos de Casagrande nos próximos quatro anos.



- Sim, mas nós estamos falando de uma situação atípica. O PMDB caminha para a candidatura do ex-governador Paulo Hartung e Ferraço e Camata são do mesmo partido. O que nos causa espécie é que eles estão dentro do partido, que tem um candidato chamado Paulo Hartung.



- Pela liderança de Gerson Camata e do senador Ricardo Ferraço, isso mostra que a maioria do PMDB trabalha pela reeleição do governador Casagrande. Porque entendem como o PP, que se trata do melhor para o Espírito Santo. O debate continua, mas a unidade precisa ser considerada para o governo dar avanços sem o problema da perda de receitas, dos royalties, para o Estado avançar muito mais. Essa mesma divergência é fruto que se consolida na maioria do PMDB, que quer ficar ao lado do governador Casagrande. É só você ver a posição da maioria da bancada estadual do partido na Assembleia Legislativa. Isso é indiscutível. Eu não posso falar pelo PMDB, mas as falas do Camata e do Ricardo Ferraço refletem isso.







- Mas esse problema também está dentro do PT, quer dizer, o partido está indo com Paulo Hartung, mas parte considerável que está no governo quer ficar com Casagrande...



- Mas o PT pensa diferente do PMDB. O partido tem um projeto nacional que é maior do que o projeto estadual. Todos no PT, e vocês sabem disso, em qualquer Estado, pensam no palanque do PT nacional no Estado. O PMDB não pensa em candidato a presidente da República, pode ter um candidato a vice-presidente [o atual ocupante do cargo, Michel Temer, presidente de honra da sigla], que vai estar composto no palanque do PT nacional no Espírito Santo. Nesse ponto, se consolida a minha fala inicial. O PT pensa em ficar com Renato Casagrande, mas não consegue se desassociar do projeto nacional. É uma luta partidária, estatutária, que tem em seu programa essa vertente que quase obriga os estados a fazerem palanque para o candidato a presidente.



- Há mudanças que parecem mexer nos votos, por exemplo, Casagrande queria ficar isento e manter o leque de alianças que o elegeu, quando pretendia ser candidato ao governo e Hartung ao Senado. Essa condição garantia essa isenção em relação à disputa presidencial, embora o seu partido tenha candidato, que é o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Agora ele anunciou o seu apoio ao candidato socialista, após uma definição entre Eduardo e Aécio fora do Estado. Como avalia o governador tendo agora que pegar a bandeira da candidatura do partido e ser contra a gestão Dilma?



- A eleição presidencial influencia nos estados, assim como o Estado é a base para definir a eleição de presidente. A articulação nacional influencia nos estados, é histórico isso. Você pode procurar, há uma articulação de forças que se faz influenciar pela nacional. No Espírito Santo, quando o PSDB se coloca para fechar uma aliança com o PSB, define os dois palanques do Estado. O PSB de Casagrande vai ficar no palanque com Eduardo Campos. E o PSDB, sob liderança do Luiz Paulo [Vellozo Lucas, ex-deputado federal], César Colnago [deputado federal], Max Filho [ex-prefeito de Vila Velha] e Rita Camata vão ficar no palanque de Aécio. A nós, aliados, cabe fazer a escolha entre as duas opções. O PP vai nos liberar para fazer a melhor escolha.



- Acha que melhora ou piora a atitude do Renato?



Melhora muito.



- A neutralidade não seria melhor?



- Não podemos esquecer que num passado nem tão distante, o Eduardo e o Aécio sempre foram muito próximos nas conversas políticas de interesse nacional. São dois jovens inteligentes, e nós – eu junto com Ricardo Ferraço, João Coser, Nilton Baiano, Feu Rosa e Casagrande - tivemos o privilegio de conviver com os dois simultaneamente na Câmara dos Deputados. Então há uma identidade muito grande de ideias sobre os projetos nacionais, da forma de gestão. É só buscar os resultados de Pernambuco e Minas Gerais, os índices de desenvolvimento humano cresceram muito nos últimos oito anos, quando os estados foram governados por esses dois grandes líderes nacionais. Hoje os brasileiros podem escolher a melhor opção. Por isso, o governador Casagrande vai se sentir muito mais confortável no palanque do Eduardo, enquanto o PSDB vai com o Aécio.



- Como avalia a presidente Dilma neste momento?



- Como brasileiro, eu fico muito triste de saber que poderíamos ter avançado muito mais. Sempre fui como político do interior, de dar a vara para a pessoa pescar. No momento em que você dá Bolsa Família e começa a falar em coisas que tornam as pessoas mais humildes extremamente dependentes, acho que isso é muito negativo para a formação humana. Você tem de criar condições para que as pessoas possam trabalhar: dar qualificação, trabalhar com incentivos às empresas, gerar emprego. No momento em que você cria a dependência, aumenta essa dependência, você torna o Estado extremamente paternalista, que não cria oportunidades e resolve o problema hoje, tem que resolver amanhã e depois de amanhã. Eu sou a favor de um Estado que olhe por todos. E aquela famosa frase de John Kennedy [ex-presidente americano] que ‘o Estado só pode fazer por você, aquilo que você não consegue fazer por si mesmo’. Essa é a lógica das coisas, eu acho um erro brutal a política paternalista que tira a capacidade da pessoa votar no que é melhor coletivamente e não individualmente.



- E Lula? Como vê o ex-presidente no palanque do ex-governador Paulo Hartung no Espírito Santo?



- Eu não vejo. Vou ser cético em relação a isso. Não acredito que Lula vá subir no palanque de Hartung. Essa realidade para mim é algo que não vai acontecer.

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