Além do prefeito de Vitória Luciano Rezende (PPS), a CPI da Máfia dos Guinchos pretende ouvir na próxima segunda-feira (25) dois padres que denunciaram, por meio de um canal criado pela Comissão, uma verdadeira via-crúcis vivida para liberar um veículo.
Os religiosos afirmaram que foram vítimas dos abusos cometidos pelo esquema que envolve Guarda Municipal, Batalhão de Trânsito, Detran e as empresas que operam o milionário negócio de guincho e estacionamento de carros na Grande Vitória. O caso foi parar na polícia.
O padre Edson Alexandre dos Santos, diretor do Seminário Diocesano de São Mateus, sediado em Carapina, na Serra, registrou um Boletim de Ocorrência na 4ª Delegacia Regional de Cariacica por “constrangimento ilegal” contra um servidor do Detran no serviço Faça Fácil de Cariacica, no último dia 13 de maio.
O padre conta que na manhã do dia 13 estacionou o carro da Diocese, um Chevrolet Cobalt, de São Mateus, na rua Fortunato Ramos, na Praia do Canto, em Vitória, num local onde não havia nenhuma sinalização de proibição, segundo o padre.
Na manhã desta quarta-feira, os deputados estiveram no local e constataram as irregularidades na sinalização. Não há funcionários da empresa de exploração do rotativo por perto e o parquímetro mais próximo está “escondido” atrás de uma árvore.
“Quando cheguei para estacionar, um flanelinha me chamou para estacionar em outro local, mas não concordo com essa história de flanelinha e não há sinalização proibindo estacionar onde coloquei o carro. Quando cheguei ao local, voltando de uma consulta médica com o padre Edvaldo Luiz Klipel, quase quatro horas depois, não encontrei o carro, mas outras quatro pessoas também procurando por seus veículos e em apuros. Eu pensei que tinha sido roubado, mas o flanelinha disse que o meu e outros cinco carros haviam sido rebocados. Aí começou minha via-crucis”, disse o padre.
No pátio de estacionamento, o padre relata o que lhe aconteceu: “O tratamento é desrespeitoso e truculento, são morosos para liberar os carros e somente se pode pagar em dinheiro ou cartão do Banestes. Emitem um documento incerto. Paguei uma taxa arbitrária de R$ 286,17, sem especificações detalhadas do que estava pagando. Tive que ir ao Detran de Cariacica, porque tenho uma procuração da Diocese e eles queriam um recibo de compra e venda do carro. Como recibo de compra e venda, se o carro é da Diocese?”
Para piorar, o padre relata que tanto no pátio quanto no Detran os funcionários não quiseram aceitar a procuração, que tem firma reconhecida em cartório. “Somente consegui a liberação do carro às 21h50, quando precisei ligar para o Padre Honório, que é deputado, e ele entrou em contato com a Casa Civil do Executivo. Como é que fica o cidadão diante dessa arbitrariedade? Nossos direitos estão sendo desrespeitados flagrantemente, com a conivência do poder público”, disse o padre Edson.
Na próxima segunda-feira, o padre Edson vai entregar à CPI cópias do Boletim de Ocorrência que registrou contra o servidor do Detran que não aceitou sua procuração para retirar o carro e, ainda, cópia do documento emitido para pagar pela liberação do veículo. No documento, constam: R$ 120,92 pelo rebocamento; R$ 145,10 pela quilometragem percorrida até o pátio, sem especificar quantos quilômetros; e R$ 20,15 pela estadia, Também sem especificar o tempo.
Na mesma sessão estão marcados os depoimentos do prefeito de Vitória, Luciano Rezende, e do secretário municipal de Segurança Urbana, Fronzio Calheira Motta, a quem está subordinada a Guarda Municipal da capital, sobre a qual começam a recair graves suspeitas de agentes envolvidos com uma suposta máfia na exploração de serviços de guincho e pátios de estacionamento.