Sexta, 19 Abril 2024

Papo de Repórter Casagrande continua pagando a fatura das broncas de Paulo Hartung

Renata Oliveira e Rogério Medeiros

 
O escândalo envolvendo o Iases aumenta necessidade de o governador Renato Casagrande se posicionar sobre os fatos que são graves e que vem de seu antecessor. Enquanto o socialista se cala, paga contas que não fez. Papo de Repórter analisa mais esse desgaste para o socialista.
 
Renata – Vamos falar sobre o quê?
 
Rogério – E há outra coisa a se falar senão os episódios de corrupção que finalmente começam a aparecer, e que remetem aos oito anos em que Paulo Hartung (PMDB) ficou batendo na tecla do crime organizado, sem dar os nomes? Ou melhor, ele se escondeu atrás desse slogan, para que não fossem reveladas as falcatruas de seu governo. Estão aí: começam a ser desvendadas pelo próprio aparelho policial. Era tão inevitável, que não dava mais para esconder, mas há ainda muita coisa para se revelar.
 
Renata – Em sua sentença sobre os crimes ocorridos em Presidente Kennedy, desbaratados pela “Operação Lee Oswald”, o desembargador Pedro Valls Feu Rosa nos dá uma boa ideia do que vem por aí. Nada que nós aqui do Século Diário já não soubéssemos... Rogério – Esse caso que vem agora à tona, nosso editor José Rabelo já havia denunciado ainda em 2011. Ele relata nas reportagens, com farta documentação, o esquema de corrupção que teve início em 2006, em pleno governo Paulo Hartung.
 
Renata – Na sentença de Feu Rosa, ele aponta uma série de irregularidades ocorridas durante o governo que batem às portas do Palácio Anchieta. Vale destacar aqui, a questão da Delta, que está sendo represado para não alcançar a imprensa nacional, mas que algum momento a represa vai romper, como acaba de ocorrer, e como outros diques também começam a rachar. O ex-secretário da Fazenda José Teófilo tem ligação sanguínea com a Delta. A coisa era tão íntima que ele colocou o irmão como diretor da empresa no Estado. E mais, o senador Ricardo Ferraço (PMDB), que é membro da CPI do Cachoeira, que já virou CPI da Delta, também tem que dar explicações, já que ele foi secretário de Agricultura e Transportes do Estado e lidou com contratos da Delta. O primeiro contrato da Delta no Estado é do “Caminhos do Campo”.
 
Rogério – Esse negócio do Ricardo Ferraço há controvérsias. Ele pode até ter entrado por aí, mas isso foi o cerne do governo Hartung. Não que eu esteja defendendo Ricardo Ferraço, mas a coisa entrou por uma licitação e depois é que a empresa vai para dentro do sistema, negocia uma diretoria para o irmão de Teófilo. Há um hiato entre a entrada da Delta na secretaria do Ricardo e quando ela vai para cerne do governo, com Teófilo, Neivaldo Bragato e o próprio Hartung. Tanto é que você vai encontrar em pleno governo Casagrande Neivaldo Bragato fazendo um aditivo em contrato da Delta com a Cesan, mesmo depois do escândalo da Delta com o Carlinhos Cachoeira. Na questão da CPI, Ricardo pode até ter uma atitude omissa e isso pode ser entendido como omissão proposital, porque ele pertencia ao governo. O que não justifica é a atitude do Foletto, que pulou fora depois de dizer que ia levantar a questão. Temos que lembrar também o escândalo da Secretaria de Saúde, que envolve falcatruas diversas da gestão de Anselmo Tozzi. Mais uma vez foi Século Diário que denunciou, em um trabalho do companheiro Nerter Samora, que se o governo de Casagrande tivesse o mesmo interesse que teve no caso de Roncalli, também já teria gente presa.
 
Renata – E por falar em Casagrande. Há um ditado de quem cala consente. Não estou dizendo que o governador tenha envolvimento com tudo o que estamos dizendo, longe disso. Mas o receio dele em entrar em atrito com o seu antecessor está fazendo com que ele pague um preço alto por contas que não foi ele quem fez. Ou Casagrande se posiciona em relação a essas questões, ou vai pagar um preço bem mais alto pela falta de atitude que o homem público tem que tomar.
 
Rogério – Veja o seguinte: nesse caso, tardou, mas ele tomou atitude. Mas uma atitude de legítima defesa, como quem diz “isso não é meu”. O que se assistiu na entrevista do delegado que apura o caso, Rodolfo Queiroz Laterza, foi algo que nem Kafka poderia produzir. Tem material tanto de Josias Da Vitória (PDT), quanto de Roncalli, mas disse que não poderia comentar a respeito. Deixou a impressão de que havia ordem para proteger a ambos. Agora, eu pergunto: o Roncalli vai continuar? Casagrande vai pagar essa fatura? Se você quiser estender o assunto: quando veio a bronca dos incentivos, que é um dos maiores escândalos da área financeira do Espírito Santo, Casagrande protegeu Hartung. Na questão da Delta, foi a mesma coisa, vem o governo dizer que os contratos estão totalmente regulares. Casagrande está pensando o quê da vida?
 
Renata – Eu, sinceramente, acho difícil o Roncalli cair. E isso vai ser muito prejudicial ao Casagrande. Tem que lembrar que a prisão foi feita pelo governo, ok, mas os mandados saíram do Tribunal de Justiça, tudo bem que é um mecanismo legal. Mas se a coisa do lado do governo vai parar nos lambaris, o tribunal já tinha tomado atitude, incluindo o caso na sentença do “Lee Oswald”. O presidente do tribunal já mostrou que não tem medo de colocar o dedo na ferida.
 
Rogério – Qual é a dívida de Renato com PH? Eu gostaria de saber. Teve a questão da reviravolta de 2010, que fez ele virar candidato de Paulo Hartung à força, por conta da movimentação nacional. Mas essa dívida parece ser impagável...
 
Renata – Tá saindo muito caro.
 
Rogério – A imprensa corporativa não falada nada sobre a desastrosa segurança de Hartung...
 
Renata – Na verdade a coisa começou pela saúde. Durante os oito anos de governo Paulo Hartung, a imprensa foi impedida de entrar nos hospitais públicos do Estado. No dia 2 de janeiro de 2011, um dia após a posse de Casagrande, os jornais corporativos estamparam a grave situação dos corredores do Dório Silva, na Serra. Um hospital que Hartung ficou oito anos reformando e não entregou pronto.
 
Rogério – Pois é e Casagrande vai segurando isso tudo e Paulo vai armando para ele..
 
Renata – Isso ficou muito evidente naquela expressão do secretário Henrique Herkenhoff, de quem não estava nem aí para a hora do Brasil, durante aquela visita do vice-presidente Michel Temer (PMDB), em que os estudantes, que já haviam anunciado com antecedência uma manifestação em frente ao Centro de Convenções de Vitória, entraram no local causando uma situação de insegurança para o vice-presidente da República. Um caso que era só de colocar polícia na rua.
 
Rogério – você está falando do Herkenhoff, o desembargador Feu Rosa fez um sistema com dois juízes e um desembargador e solicitou a lista de procurados para decretar prisão e os traficantes que viviam em torno das escolas. Eles nunca mandaram nada. Aonde você vai encontrar isso? Um desembargador querer prender? Herkenhoff está ali para ajudar Rodney Miranda (DEM) a ser um político vitorioso. Para finalizar, esse Paulo Hartung é sensacional. Ele é igual bagre, pega a isca, mas você não tira ele da água. Ele enriqueceu. Teve a capacidade de sair do governo e pegar uma empresa com um capitalzinho pequeno, que poucos meses depois estava cheia da grana. E ele continua posando de santo com a ajuda da imprensa e com a cobertura de Casagrande. Casagrande que se cuide, porque quando começar a tomar chumbo grosso, não vai ser um só.

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