Sábado, 20 Abril 2024

Papo de RepórterA canoa de Paulo Hartung começa a fazer água no Estado

Papo de RepórterA canoa de Paulo Hartung começa a fazer água no Estado

Rogério Medeiros e Renata Oliveira



A aparição do ex-governador Paulo Hartung (PMDB) no programa de Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB) é a defesa de seu governo. Uma defesa necessária em um momento em que várias denúncias começam a surgir sobre seus dois mandatos.
 
Rogério – O Paulo apareceu no programa do Luiz Paulo dizendo que ele endireitou o Estado, combateu o crime organizado, e que está aí para continuar como o homem que persegue o crime organizado. E aí de repente que as falcatruas do governo são tão flagrantes, que até a imprensa que passou o tempo todo fazendo dele uma figura imaculada, não pode deixar de registrar um gasto de R$ 24 milhões em aterro para fazer o posto fiscal entre o Espírito Santo e Rio de Janeiro. Só nessa brincadeira, porque o posto está lá e não serve para nada. Isso estava escondido desde 2009 e agora é que aparece na imprensa. O José Carlos Gratz virou o personagem que ele utiliza, por um desvio de R$ 44 milhões, dos quais R$ 26 milhões relacionados com diárias. E toda vez que é necessário, tiram o Gratz do congelador. É claro que ninguém vai defender o Gratz e aí as falcatruas do Paulo vão crescendo por trás. Temos aquela história dos deferimentos da Feurrous, do apartamento de R$ 48 mil. O que tem de falcatrua não é brincadeira. 
 
Renata – Dessa situação, o que eu acho mais grave é o que acontece nas chamadas áreas essenciais. O nosso colega Nerter Samora fez recentemente uma série de reportagens com base em uma auditoria que foi feita na Secretaria de Saúde na época de Anselmo Tozi, que é de deixar qualquer um estarrecido. Agora estamos diante de um escândalo na área de Justiça, ao que parece, bem mais profundo do que o que veio à tona até o momento. Vamos começar pela saúde. O governo do Estado deveria ser o responsável pela oferta desse serviço. Durante oito anos, volta e meia vinha uma manchete de jornal anunciando reforma ou no São Lucas ou no Dório Silva. Nesse período, a imprensa foi proibida de entrar nos corredores desses hospitais. O que acontecia: todos os dias, havia matéria sobre a superlotação nos PAs, que são de responsabilidade dos municípios. Não que nessas unidades as coisas sejam boas, muito pelo contrário, mas o problema não era só lá. O São Lucas está lotado e em péssimas condições de atendimento há décadas, mas no período de Hartung isso foi escondido e a imprensa aceitou esse jogo. No governo dele, a grande obra anunciada foi a entrega do Hospital Central, no Centro de Vitória. O prédio já era um hospital antes, o São José. Estava pronto, era equipar e abrir. Mas isso demorou anos, e quando abriu, não era um hospital de atendimento imediato e sim um ambulatório. Não resolveu nada. A solução para a saúde até hoje é sempre a de comprar leito na iniciativa privada para atender as emergências, o que beneficia os filantrópicos e as cooperativas, com dinheiro do povo. 
 
Rogério – O Paulo foi o campeão das obras sem licitação. Como não havia uma imprensa que cobrava - aliás, ele é um excelente pauteiro para a imprensa corporativa -, ele passou o tempo todo na emergência. O que está na ordem do dia é a corrupção no sistema prisional. Com a contribuição do governador Renato Casagrande, quem mais tem evitado a explosão das coisas na conta corrente do Paulo Hartung, arruma-se uma fórmula de as coisas não chegarem nele. Seguraram, seguraram, entrou o Ministério Público Estadual, onde ainda sobrevive o arranjo dele, e ficaram ali. Então, não podia chegar no secretário de Justiça, Ângelo Roncalli, porque poderia assim chegar nele. Mas agora chegou no Roncalli, porque não tinha como não chegar. Ele sabia das irregularidades e consentiu, mas para quem? Por que ele sempre foi protegido? Roncalli está enlameado e não tem para quem transferir. Veja, em Presidente Kennedy (litoral sul do Estado), o Ministério Público faz uma denúncia que não alcança tudo que foi abordado na Operação Lee Oswald. O presidente do Tribunal de Justiça do Estado (TJES), Pedro Valls Feu Rosa, não aceitou e devolveu para botar os peixes grandes...
 
Renata – O problema é que aí apareceu a imprensa do Paulo para defender o Ministério Público e tentar desgastar o presidente do Tribunal de Justiça. Aí a gente percebe que é justamente nessa parte da imprensa que o Paulo tem sua principal arma. Como não dá mais para requentar o Gratz, porque o passado agora é Paulo e o grupo dele, tenta-se criar uma situação contrária ao Pedro Valls, mas Pedro Valls não é Gratz, ele é um desembargador e presidente de um poder que já mostrou que não tem medo de Paulo Hartung e nem se deixa intimidar por essa imprensa.  O mesmo aconteceu com a denúncia da Operação Pixote, quando a Polícia Civil entrega um inquérito contundente contra diversas autoridades envolvidas no caso e o Ministério Público entrega uma denúncia juridicamente frágil. É uma ação combinada, pedem mais investigações sobre quem tem foro privilegiado, que é o deputado estadual Dá Vitória (PDT) e o juiz Alexandre Farina.
 
Rogério – Qualquer coisa que você mexer no governo do Paulo tem falcatruas. Isso que você está falando é a ponta do iceberg. Tem muita coisa para aparecer. Já veio à tona uma reunião do pessoal do Paulo com o grupo do prefeito afastado de Presidente Kennedy, Reginaldo Quinta (PTB), para tomar conta da gestão. Isso está em fita gravada. É só botar no ar. Paulo fala em crime organizado, ele tem razão. Mas na hora que se fala do período do Paulo...sacode aí esse surto imobiliário para ver de onde saiu o dinheiro. Tudo está sendo mexido para vir à tona. A roseira já está sendo balançada. 
 
Renata – Não vamos esquecer da CPI do Cachoeira. A Delta chegou ao Estado para construir os Caminhos do Campo e entregou sua gestão no Estado ao próprio governo. Aí o secretário de Fazenda da época, José Teófilo, indicou o irmão para comandar a empresa. Aí a Delta sob o comando do irmão de Teófilo faturou R$ 230 milhões, e em plena CPI do Cachoeira, o presidente da Cesan, Neivaldo Bragato, que sempre foi ligadíssimo a Paulo Hartung, fez um aditivo no contrato da empresa.

 
Rogério – Pois é, Renata, há três meses a Folha de S.Paulo descobriu uma empresa chamada Garra e essa Garra é famosa, criada para lavagem de dinheiro, que a Folha mostrou que seus proprietários nem sabiam que eram proprietários, moravam no Rio de Janeiro, não eram nem laranja, eram limão. Só que a sede dessa empresa, que era hipoteticamente desses dois, era em uma ruazinha de Viana. A reportagem foi lá e a vizinhança disse que nunca funcionou nada lá. Por que a Folha se interessou? Porque essa seria a maior lavagem individual da Delta no País, um montante de R$ 23 milhões. Se botar perto da faturamento da Delta no Espírito Santo, é 10%. Para onde foi esse dinheiro?
 
Renata –  É por isso que o Paulo está dentro das eleições, influenciando, embarcando em vários prefeitos que vão ganhar, porque na hora que o pegarem, ele vai dizer que é uma questão política. 
 
Rogério – Esse é o Paulo Hartung, o homem do bem. 

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