Segunda, 06 Mai 2024

Partido ou poder

De 1966 a 1979, o Brasil viveu a época da ditadura, que entre suas características principais havia o bipartidarismo. Naquela época ou você era Arena ou MDB. O PCB existia na clandestinidade. A partir de 1980, com a anistia, o País pode adotar o pluripartidarismo e aí surgiu já naquele ano o PDS, que depois virou PPB, que depois virou PP. Também foram fundados naquele ano o PDT, o PTB e o PT. Hoje, o Brasil tem 30 partidos e pode ganhar mais dois: a Rede e o Solidariedade.



Cada partido tem uma ideologia, uma visão de como deve ser construído o Brasil, e como ele deve se desenvolver para que as necessidades e os direitos do cidadão sejam garantidos. Mas, quando começa o período eleitoral – e neste momento, o período eleitoral já começou nos bastidores – fica a pergunta: com o sistema de coalizão nacional e no Estado, como ficam as ideologias?



Na entrevista do deputado estadual Rodrigo Coelho, o parlamentar fala a Século Diário da necessidade de o PT, o partido que governa o País, elaborar um programa para o Espírito Santo. Parece até incoerente pensar isso, mas na situação atual da política capixaba, a ideia do deputado parece utópica.



Na verdade, essa situação revela o enfraquecimento dos partidos, que se acelerou no Espírito Santo na última década. Guindadas ao poder, as lideranças personalizaram a política e os partidos viraram apenas uma necessidade eleitoral, um requisito para entrar na disputa. Estar filiado a um partido não significa mais concordar e defender suas bandeiras, por isso se troca de partido como se troca de roupa.



O pragmatismo político parece ter se infiltrado em praticamente todas as siglas e as movimentações miram apenas a permanência no poder, por um lado, e a tentativa de tomá-lo, do outro. A coisa fica ainda mais evidente quando se vê o governador socialista Renato Casagrande, que foi eleito com o apoio do PT, tentar atrair para a sua enorme base aliada a política neoliberal do PSDB.



O próprio PT que votou pela eleição do demista Theodorico Ferraço para a presidência da Assembleia, que chamou o governador biônico da ditadura Elcio Alvares para sua mesa de comemoração dos 30 anos do partido, também mostra que as costuras eleitorais hoje parecem mais importantes do que as bandeiras de luta dos partidos.



Em nome de uma reconstrução ética, política e moral do Estado, se construiu uma unanimidade de discurso que incluiu não só os partidos, como também parte da sociedade civil organizada e da imprensa. O resultado foi o nefasto fim da oposição e o fim do debate democrático no Espírito Santo. Em nome da manutenção dessa situação atípica no estado democrático de direito, lideranças cogitam até em deixar seu partido para não ter que apoiar um candidato ao governo, como vêm fazendo os possíveis candidatos do PR em 2014. Ora, o objetivo de um partido não seria o de disputar todos os cargos que lhe forem possíveis?



Distorções como esta preocupam porque deixam de lado coisas que são caras à democracia. Sem oposição, o governo não é cobrado e a população fica carente entre seus representantes de lideranças que possam defender seus interesses. A coisa complica ainda mais quando os protestos da classe trabalhadora são ignorados, sobretudo pela imprensa, como aconteceu na passeata dos servidores públicos do Estado essa semana.



Mas o exemplo da presidente Dilma Rousseff deve ser observado pelas lideranças estaduais. Sua também ampla base governista começa a dar sinais de rachaduras, mostrando que no estado democrático, nenhuma unanimidade pode perdurar por tanto tempo.

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